Hoje 48 artistas irão passar o dia a pintar um mural no MAAT. É uma reinterpretação de uma pintura colectiva feita há 48 anos por 48 artistas, no 10 de Junho de 1974. Celebrava-se o fim de 48 anos de ditadura. Hoje celebram-se 48 anos de democracia. O fogo e a morte já apagaram uma memória. Mas encontrámos no chão vestígios. Como que a pedir que a “festa” fosse redescoberta.

Filipa Lowndes Vicente viu-o no chão da feira da ladra num sábado de manhã: um livro de slides. Na capa: “flor liberdade fogo imaginação força unidade arte revolução”. Em letras pequenas e laterais... “Movimento Democrático de Artistas Plásticos”, “25 de Abril/Dia da Libertação Nacional”, seguido de “Jornada de solidariedade com o movimento das forças armadas”.

Abriu-o. No verso, mais informação — “Pintura Colectiva de 48 artistas (nº simb. de 48 anos de fascismo”. Mais abaixo, os nomes dos 48 artistas por ordem alfabética. E, à direita, sob a forma de lista, as legendas dos 30 slides numerados, com fotografias do evento.

Em baixo, finalmente, o lugar onde tinha acontecido: “Galeria de Arte Moderna/Mercado da Primavera/Belém/Lisboa. 10 de Junho de 1974”. Atrás, e inscrito em cada um dos slides, o nome de quem tinha produzido o objecto — o Instituto de Tecnologia EducativaEis o objecto... a partir daqui, reconstitui-se a memória possível daquele dia e daquele acontecimento do Portugal do 25 de Abril. Como uma investigação. Como um thriller. Porque a arte e a revolução desapareceram. Consumidos pelo fogo, literalmente, como dissemos. Ficaram as representações visuais e fílmicas.

 

Donbass, como Donetsk, Lugansk, Mariupol, Kramatorsk ou Severodonetsk, é um nome hoje familiar. É o território do leste da Ucrânia epicentro das operações russas. ​Donbass é o título do filme de Sergei Loznitsa. Não é um filme novo do cineasta, tem data de 2018 e depois dele Loznitsa já estreou outros, entre os quais o fenomenal Funeral de Estado. Mas é um filme que se tornou “novo” depois dos acontecimentos de Fevereiro e que permite “renovar” o olhar sobre esses acontecimentos, sobre o que se passou entretanto e, mais ainda, sobre o que se passou antes deles.​

É um estranho filme, quase absurdo, como se o absurdo fosse a única maneira de estar à altura da situação.​ E para estarmos à altura do filme, eis os contributos de João Ruela Ribeiro, que foi repórter deste jornal no conflito, Luís Miguel Oliveira e Augusto M. Seabra.

 

O Teatro Nacional São João estreia hoje uma adaptação de Ensaio Sobre a Cegueira, uma das obras-chave de José Saramago, num ano em que se comemora o centenário do nascimento do escritor português. Até dia 19, um elenco ibérico e bilingue dá corpo a uma distopia ajustada aos nossos dias. Que também é como um thriller...

 

Momento notável no percurso de Luísa Jacinto: sim, uma energia sopra, por estes dias, do trabalho da artista, libertando-o, expandindo-o. Duas notáveis exposições a decorrer em Lisboa afirmam uma pintura que se move entre o fascínio e a dúvida, o corpo e a visão. E à qual voltamos em busca das cores, das vibrações, dos acidentes e das marcas que a constituem. Na Galeria Quadrado e no espaço da associação Brotéria.

 

Pedro Rios entrevista Martin Hägglund, o autor de Esta Vida, marco da filosofia dos últimos ano que elogia a nossa vida finita e apela a um compromisso radical com o escasso tempo que temos nas mãos. Uma espiritualidade sem Deus rumo a um socialismo democrático. Quis recuperar Marx como um filósofo da liberdade”, diz