Há mais legendas e descrições áudio na Netflix, e em português, para pessoas com necessidades especiais

Entre as séries com mais funcionalidades de acessibilidade estão Ozark e Lucifer — e não são só pessoas com deficiência que as usam. Nova colecção temática celebra deficiência e inclusão.

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A Netflix tem mais de 220 milhões de assinantes — mas nem todos assistem aos seus filmes, séries e programas da mesma forma. Aliás, a televisão é tanto omnipresente quanto, por vezes, é inacessível para uma fatia importante do público: as pessoas com necessidades especiais. É para isso que há legendas, dobragens ou descrições áudio, mas a directora de Acessibilidade na Netflix, Heather Dowdy, revela ao PÚBLICO que não são só os seus destinatários portadores de deficiência que usufruem destes recursos. “Descobrimos que cerca de 40% dos nossos membros assistem aos nossos conteúdos com legendas e legendas descritivas. Isso é mais do que apenas as pessoas com necessidades especiais”, aponta, numa altura em que a plataforma de streaming com mais clientes em todo o mundo aumentou a oferta deste tipo de soluções — nomeadamente em português.

Basicamente, também pessoas sem problemas auditivos ou visuais usufruem da ajuda que a tecnologia pode dar para melhorar a fruição de uma série como Stranger Things ou outros sucessos da plataforma cujo nome é sinónimo de televisão por streaming. Ou porque os sotaques se deslindam melhor assim, ou porque não há legendas na língua do assinante, há botões que abrem o mundo para novas soluções. “Como curiosidade”, responde num email às perguntas do PÚBLICO, “conteúdos como [a série] Lucifer contêm meio milhão de horas de descrição áudio, enquanto [a série] Ozark tem centenas de milhares de horas”, diz Dowdy.

Heather Dowdy é um nome importante no sector da acessibilidade nos EUA. Filha ouvinte de pais surdos, cresceu em Chicago e é especialista em desenvolvimento de tecnologias acessíveis para smartphones, internet e inteligência artificial e foi convidada pelo Presidente Joe Biden para integrar a US Access Board, a agência federal para a igualdade de pessoas portadoras de deficiência. Na Netflix, anunciou em Maio uma expansão gradual até 2023 da disponibilidade de audiodescrição e de legendas descritivas em novos idiomas, entre os quais o espanhol, o português, o coreano e o francês. Passarão a ser mais de 20 línguas, mas também novos símbolos e uma nova colecção que agrega os títulos que reflictam experiências e histórias de pessoas portadoras de deficiência.

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Heather Dowdy: “Como curiosidade, conteúdos como [a série] Lucifer contêm meio milhão de horas de descrição áudio" DR

“A forma como temos acesso às histórias mudou muito. Quer sejam videochamadas, mensagens de texto, ou a campainha da porta que pisca, hoje em dia a tecnologia pode construir pontes de acesso para muitas pessoas com necessidades especiais”, diz Dowdy, licenciada em Engenharia Electrotécnica e que já trabalhou na Microsoft e na Motorola. Frisa que o trabalho mais importante nesta área no serviço de streaming em que trabalha é mesmo haver “cada vez mais descrições áudio (AD) e legendas para surdos e duros de ouvido (SDH) e em mais línguas” no vasto catálogo da Netflix, mas também a introdução de novos símbolos nas séries e nos filmes que têm AD e SDH, e que apareçam tanto para os utilizadores que acedam à plataforma pela internet ou pelo sistema operativo da Apple iOS “para facilitar a descoberta de histórias adequadas a cada necessidade”.

Nos primeiros tempos MeToo, a Netflix foi tanto elogiada quanto escarnecida pelas suas listas de filmes ou séries com “protagonistas femininas fortes”. Numa biblioteca tão vasta quanto a do serviço que encetou a revolução do streaming, estas categorias são tanto bússolas quanto reacções de marca a fenómenos exteriores. Mas Heather Dowdy descreve a lista Celebração da Deficiência com Inclusão como uma “colecção” que inclui “mais de 50 séries e filmes com personagens ou histórias sobre pessoas que vivem com necessidades especiais”.

Num comunicado lançado a 19 de Maio, Dia Mundial da Consciencialização para a Acessibilidade, a directora de Acessibilidade na Netflix, avançou ainda que a empresa vai fazer sessões públicas com opções de inclusão audiovisual em alguns países para divulgar as funcionalidades de audiodescrição e de legendas descritivas e “fomentar o debate sobre formas inovadoras de tornar o entretenimento mais acessível”.

Questionada sobre que comunidades ainda estão mal servidas e cuja experiência gostaria de melhorar enquanto responsável na Netflix, Heather Dowdy responde apenas, ecoando uma mensagem que constou da comunicação oficial da Netflix em Maio: “Com mais de mil milhões de pessoas com necessidades especiais a nível mundial, a oportunidade de contar histórias mais inclusivas e de criar laços dentro das nossas comunidades acima do storytelling é tremenda.”

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