Chef português radicado em Londres lança livro de receitas e defende maior promoção da cozinha nacional

Novo livro de Leandro Carreira, Portugal: The Cookbook, reúne mais de meia centena de receitas de paladar bem português. Para o chef, radicado em Londres, é preciso uma estratégia nacional de promoção da cozinha portuguesa.

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Leonel Carreira lançou "Portugal: The Cookbook" em Maio DR
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Livro reúne 550 receitas portuguesas, entre pratos tradicionais e contemporâneos DR
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O processo criativo demorou dois anos DR
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Uma das coisas mais difíceis, recorda à Lusa, foi encontrar nas aldeias portuguesas quem estivesse disposto a partilhar receitas DR
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A viver em Londres há 12 anos, Leandro Carreira está actualmente à frente do The Sea, The Sea DR

Lançado em Maio pela Phaidon, editora com sede em Nova Iorque e em Londres, o livro Portugal: The Cookbook foi classificado pela National Geographic como um dos cinco melhores novos livros de receitas para a Primavera.

Com mais de 550 receitas, clássicas e contemporâneas, entre bolo do caco, arroz de bacalhau, peixinhos da horta, caldo verde ou broas de mel e amêndoa, o livro assinado por Leandro Carreira resulta de um processo de criação de mais de dois anos.

Em declarações à agência Lusa, o chef português radicado em Londres, actualmente à frente do The Sea, The Sea, misto de restaurante, peixaria e mercearia gourmet, revela que uma das maiores dificuldades que enfrentou na produção do livro foi a resistência das pessoas nas aldeias em partilharem as suas receitas.

“Foi talvez um dos projectos mais difíceis que já fiz até hoje, em toda a minha carreira”, recorda. “Para começar, eu não sou escritor, sou formado em hotelaria. Foi tudo muito difícil porque não sabia sequer por onde começar. Eu tinha aquela utopia de que poderia ir até às aldeias em Portugal e as pessoas iriam falar comigo e passar-me as suas receitas. Claro que isso não aconteceu”, conta à Lusa.

“Apesar de ter funcionado em algumas situações, de forma genérica, não foi assim que se passou. Enfrentei muita resistência de pessoas que não queriam passar-me as receitas, mas também muita gente quis partilhá-las. A resistência quebrou-se quando as receitas foram passadas a um intermediário, ao invés de serem transmitidas a mim directamente, o que foi um pouco estranho”, revela.

Depois do arranque difícil, o chef de 43 anos acabou por recolher mais receitas do que aquelas que caberiam no livro, tendo descartado cerca de 35% do material recolhido, recorda. Depois da versão em inglês está agora a ser preparada uma edição em francês, que deverá ser publicada em breve.

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Leandro Carreira lidera, actualmente, o projecto The Sea, The Sea, em Londres DR

Para Leandro Carreira, Portugal: The Cookbook poderá ter impacto na divulgação da gastronomia portuguesa no mundo. “A grande energia do livro é desmistificar um pouco aquela ideia que as pessoas têm, no geral, de que a cozinha portuguesa é só pastéis de nata, vinho do Porto e bacalhau. E, de certa forma, um dos grandes desafios foi colocar isso em pratos mais limpos, colocar tudo num contexto mais actual”, aponta.

“Acho que este livro vai ajudar as pessoas a perderem o medo e cozinharem algumas coisas com ingredientes que estejam mais acessíveis”, avalia o chef, que vive em Londres há 12 anos.

Confrontado com o facto de em Nova Iorque, por exemplo, existirem centenas de restaurantes italianos, chineses, franceses, mas poucos portugueses, Leandro Carreira lamenta que esse cenário seja recorrente em muitas outras zonas geográficas.

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“Isso é um estigma que se sente a nível mundial, não apenas nos Estados Unidos. Tenho amigos no Canadá, por exemplo, que relatam a mesma situação e aqui, em Londres, é ainda pior. Nunca se fez muito, enquanto nação, pela promoção da cozinha portuguesa”, defende.

De acordo com o cozinheiro, deveria haver uma estratégia a nível nacional nesse sentido. “A verdade é que, nos últimos 15 anos, Portugal tornou-se um destino tão popular, mas há que pensar que isso aconteceu por algum motivo. Muitos cozinheiros e pessoas ligadas à restauração e hotelaria viajaram mais, abriram outro tipo de projectos que não apenas o fine dining e ficou tudo também mais descentralizado, ao invés de apenas em Lisboa, Porto e Algarve”, observou.

“Hoje já temos projectos por todo o país e isso foi algo que sempre faltou, mas ainda bem que está a acontecer agora”, conclui.

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