Mais de 1400 ucranianos suspeitos de traição ou colaboração com os russos

Autoridades querem punir os colaboracionistas, mas a tarefa é espinhosa: há quem tenha sido forçado a ajudar sob ameaça de arma, há quem seja suspeito por ter uma bandeira russa em casa.

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Na região de Kharkiv, de onde as forças russas praticamente saíram, foram abertos inquéritos contra 50 suspeitos de colaboracionismo SERGEY KOZLOV/EPA

O Ministério Público da Ucrânia está a investigar mais de 1400 pessoas suspeitas de traição ou de colaboração com as forças militares da Rússia. Passar informações ao inimigo, negociar uma ocupação sem resistência ou continuar a trabalhar sob ordens russas são alguns dos alegados crimes que estão a ser analisados.

Na região de Kharkiv, por exemplo, até agora foram abertos inquéritos contra 50 pessoas, incluindo agentes da polícia, autarcas e um juiz. O governador e o procurador-geral regionais explicaram ao jornal britânico The Guardian que muitos deles terão informado a tropa russa sobre o paradeiro de ucranianos ricos, de militares no activo e de veteranos da guerra no Donbass.

Outros, como o autarca de Kupiansk, também na região de Kharkiv, negociaram directamente uma rendição com as chefias militares russas. Foi “para evitar a perda de vidas”, explicou Gennady Matsegora logo nos primeiros dias de invasão, mas agora é acusado de colaboração e pode vir a ser condenado a 15 anos de prisão.

“Há pessoas que colaboraram porque queriam mudar-se para o exército contrário, há pessoas que o fizeram para salvar a sua vida e outras que foram forçadas a colaborar sob ameaça de arma”, explica um militar ucraniano, evidenciando as dificuldades que se colocam aos processos judiciais.

Por vezes, no entanto, a suspeita de colaboração pode ser motivada por ter uma bandeira russa em casa ou seguir órgãos de comunicação russos. Uma equipa da Al Jazeera acompanhou uma rusga domiciliária da força especial da polícia ucraniana, em Odessa. Encontraram bandeiras e emblemas russos, mensagens de WhatsApp sobre o Exército russo e antigas medalhas militares soviéticas. “Não concordamos com a guerra. Mas nós vivemos na União Soviética, eu sou meio russa – como posso deitar fora a bandeira russa?”, questiona-se uma mulher, enquanto o marido é levado.

A mais recente lei ucraniana sobre colaboracionismo com os russos é de meados de Março e pune todos os actos de ajuda activa à tropa invasora ou aos líderes políticos nomeados pela Rússia.

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