Casos de covid-19 estão num “planalto”, mas Santos Populares trazem “alguma preocupação”

Especialistas insistem na necessidade de cada cidadão se precaver, recorrendo à máscara em situações de ajuntamentos de pessoas e não esquecendo a necessidade de acautelar o distanciamento físico, lavar as mãos e arejar os espaços fechados.

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Espera-se que o Santo António assinale o regresso de uma enchente de pessoas às ruas de Lisboa, num fim-de-semana prolongado de quatro dias Andreia Carvalho

A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, pede que os portugueses não se esqueçam das regras aplicaram nos últimos anos para combater a covid-19, assumindo “alguma preocupação” com as enchentes que se prevêem durante as festas dos Santos Populares. Numa intervenção no Fórum TSF, Graça Freitas diz que se atingiu “um planalto” em termos de casos diários, o que são boas notícias, mas lembra que o número de infectados é tão elevado que não se pode baixar a guarda.

“Olho para estes [números de contágio] com cautela e com alguma preocupação, mas não com alarme. É verdade que temos um número bastante elevado acima dos 80 anos e também na faixa etária dos 70 aos 79. Mas neste momento, apesar de tudo, atingimos um planalto em termos de novos casos por dia”, disse a directora-geral da Saúde, ressalvando que isto não é razão para pôr de lado todas as medidas de protecção entretanto aprendidas — mesmo que já não sejam obrigatórias.

Graça Freitas lembra que, apesar de a doença ter neste momento uma letalidade e gravidade baixas, se houver muitos casos - como tem havido - o número de mortos irá, obviamente, crescer. Ainda esta quarta-feira foram registadas 47 mortes por covid-19, o valor mais elevado dos últimos cem dias.

“Temos de olhar para isto com respeito, humildade, atenção e contrariar, que é o nosso papel, a tendência expansionista do vírus”, disse a responsável na TSF. E isso tem uma consequência muito concreta: “É nossa obrigação, como comunidade, como serviços, como médicos, como Ministério da Saúde, fazer aquilo que estiver nas nossas mãos de medidas de protecção”, disse.

Para o cidadão comum, os conselhos são os que têm sido repetidos nos últimos tempos: avaliar cada caso, usar máscara em situações de maiores ajuntamentos, lavar as mãos e arejar os espaços fechados. E isto ganha maior significado com o “período de risco” que significa a chegada dos Santos Populares.

O pedido deixado por Graça Freitas é claro: “Com o aproximar dos Santos, vamos ter mais oportunidades de que a transmissão se faça. O apelo é um apelo a cada um para agir em conformidade com este risco. Obviamente que é impossível travar o movimento dos Santos Populares e das festas e dos ajuntamentos. Mas pelo menos até lá não aumentar a carga de doença, não a aumentar quantidade de vírus que ainda circula entre nós e chegar a esses dias numa situação mais confortável”.

Regresso de melhor comunicação

A pneumologista Raquel Duarte, conselheira da DGS para a gestão do desconfinamento, também se mostra preocupada com a situação actual, numa entrevista ao Diário de Notícias. Raquel Duarte diz que o nível de transmissão “é muito preocupante” e que será, provavelmente, “muito maior” do que o que pensamos, já que muitos casos acabam por quase não ter sintomas.

Por causa disto, a especialista insiste na manutenção das medidas de autoprotecção - embora considere que não se justifica voltar a tornar obrigatórias as que deixaram de ser - e avisa que é preciso fazer mais para proteger os cidadãos mais velhos. “Nunca tivemos tanta gente infectada acima dos 80 anos”, diz Raquel Duarte, defendendo que isto sugere que os mais velhos não estão a ser protegidos “de forma adequada”. “Isto é, há transmissão a decorrer na comunidade e não há uma barreira dessa população para as populações mais velhas, portanto nós estamos a falhar na protecção das populações mais velhas. Como é que as podemos proteger? Vacinando-as, a vacina tem funcionado, mas é preciso lembrar que vai perdendo o poder ao longo do tempo e estas populações, acima de 80 anos, foram as primeiras a ser vacinadas, estão na fase de perder a capacidade de protecção e precisam de ser revacinadas”, diz.

A pneumologista defende também que a situação actual justifica que fosse retomado o tipo de comunicação que era feito há uns meses, nomeadamente, com a publicitação das conclusões apresentadas nas reuniões do Infarmed. “Era importante que voltasse [a comunicação]”, defende Raquel Duarte na entrevista, justificando: a pandemia continua, continuamos a ter transmissão comunitária e, portanto, as medidas continuam a ser recomendadas e as pessoas devem ter essa recomendação de utilizar a máscara perante a percepção de risco. [...] Creio que se a mensagem em termos desta sexta vaga, desta transmissão, for eficaz como foi no passado, a população facilmente percebe que precisa de usar as medidas de protecção individual. Portanto, esse trabalho, particularmente com a comunicação social, que foi tão importante durante o período da pandemia, e foi extraordinário, porque a noção que tenho é que a comunicação social chamou a si a missão de informar e de apostar na literacia da população. E, de repente, como a covid-19 deixou de ser assunto, penso que terá contribuído para que houvesse este dissociar da percepção de risco face à realidade epidemiológica, coisa que não tinha acontecido no passado. A percepção de risco era muito adequada, a nossa população tinha uma percepção de risco muito adequada e uma adesão às medidas de protecção individual muito adequada. Penso que houve aqui uma quebra da comunicação e, obviamente, essa quebra aliada ao cansaço associado às medidas.”

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