A altura pode ser um factor de risco em várias doenças? É plausível, diz novo estudo

Estudo envolveu dados de mais de 250 mil adultos nos Estados Unidos e teve em conta mais de mil doenças e características clínicas. Cientistas dizem que são necessários ainda mais estudos sobre este tema.

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Neste estudo foram utilizados dados de mais de 250 mil adultos IESE VEENSTRA/EPA

Ser mais alto ou mais baixo: pode a altura ser um factor de risco para várias doenças? Um novo estudo publicado na revista científica PLOS Genetics sugere que sim. A equipa liderada por cientistas norte-americanos concluiu que a altura pode ser um factor biologicamente plausível para doenças comuns em adultos, mas avisa que são necessários ainda mais estudos para que se possa clarificar melhor esta questão.

Embora a altura tenha vindo a ser um factor associado a diferentes doenças – desde as cardíacas ao cancro –, tem-se vindo a questionar se ser alto ou baixo é um risco ou si ou se os culpados são os factores que afectam a altura, como a nutrição ou estatuto socioeconómico. Este foi o tema explorado por uma equipa coordenada por Sridharan Raghavan, cientista do Serviço Médico do Sistema de Saúde dos Assuntos Veteranos do Colorado Oriental, nos Estados Unidos.

Para tal, a equipa de Sridharan Raghavan usou dados do Programa Milhões de Veteranos, um projecto nos Estados Unidos para se estudar como a genética, o estilo de vida e a exposição militar afectam a doença e a saúde. Ao todo, para o estudo da altura, foram utilizados dados de mais de 250 mil adultos. Depois, observaram-se as ligações entre várias doenças e a altura de cada pessoa, bem como as ligações entre a sua altura e genética. Ao todo, foram tidas em conta mais de mil doenças e características clínicas.

No artigo, a equipa refere que os resultados confirmam conclusões de estudos anteriores e que a altura pode estar associada a um maior risco de fibrilação atrial (um tipo de arritmia cardíaca) e varizes. Também se desvendaram novas ligações entre uma altura maior e um maior risco de neuropatia periférica (causada por danos nos nervos nas extremidades), assim como a infecções na pele e nos ossos. Contudo, a altura estará ligada a um menor risco de doença arterial coronária, hipertensão ou colesterol elevado.

Três possíveis cenários

Com tudo isto, concluiu-se que a altura pode ser um factor de risco anteriormente não reconhecido para muitas doenças em adultos. “Concluímos que a altura pode ser um factor de risco não reconhecido, mas biologicamente plausível para muitas doenças comuns em adultos”, lê-se no artigo científico. Mesmo assim, a equipa avisa que é necessário ter mais investigação para se conseguir clarificar algumas das associações encontradas e espera que estudos ainda maiores sejam desenvolvidos.

Neste momento, Sridharan Raghavan diz que devem ser colocados em cima da mesa três cenários possíveis sobre a ligação entre altura e risco de doenças: primeiro, a altura pode estar relacionada de forma causal com o risco de doença; segundo, a altura e uma certa doença podem fazer parte da mesma contribuição genética, mas não estarem casualmente relacionadas uma com a outra; terceiro, a altura está causalmente relacionada com um factor intermédio que também está ligado a uma determinada doença.

Quanto ao que significa “ser alto” e aos valores em questão, o investigador apenas refere que “se olhou para a altura como uma variável contínua em vez de um limiar”.

E, caso se confirme a associação entre a altura e muitas doenças, quais poderão ser os mecanismos por detrás? Sridharan Raghavan diz que essa questão é muito desafiante e espera ter uma resposta daqui a alguns anos. “O nosso estudo tenta identificar o âmbito das doenças ligadas à altura sem considerar os mecanismos associados”, indica. O cientista exemplifica que a associação entre a altura e a fibrilação atrial já tem sido observada há alguns anos e, com que saiba, ainda não se identificou o mecanismo.

Sridharan Raghavan diz que a sua equipa já está a participar numa colaboração internacional que fará análises semelhantes às da recente investigação e que inclui dados de outros indivíduos e países. “Clinicamente, penso que o nosso estudo sugere que a altura pode ser um factor que vale a pena estudar mais como uma orientação de avaliação de risco para algumas doenças e, possivelmente, para se adoptarem esforços preventivos”, resume o investigador. “Contudo, são necessários estudos adicionais antes de a altura ser incluída nos cuidados clínicos.”

Cauteloso, realça ainda que o seu recente estudo é um ponto de partida para que um dia a altura possa vir a ser considerada mesmo um factor de risco. “Penso que os nossos resultados são um primeiro passo para, potencialmente, incluirmos a altura na avaliação de risco de uma doença”, considera. “Para fornecer recomendações para indivíduos mais altos, será necessário avaliar se fazer certas recomendações depois de se incorporar a altura na avaliação de risco de uma doença reduz o risco de doenças específicas.” Além disso, pede para não nos esquecermos de que há outros factores de risco que estarão sempre presentes, como os associados ao estilo de vida.

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