“Porque estão a deixar as crianças morrer?” Pais pediram à polícia para agir durante o tiroteio no Texas

Passou cerca de uma hora desde o início do ataque até a polícia invadir a sala onde estava barricado o atirador que matou 19 crianças numa escola do Texas, uma decisão está a ser questionada pelos familiares das vítimas. Esta quinta-feira, vídeos divulgados nas redes sociais mostraram que vários pais pediram aos agentes norte-americanos para agir e salvar as crianças.

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No tiroteio morreram 19 crianças e duas professoras EPA/TANNEN MAURY

Pais desesperados reuniram-se no exterior da Escola Primária Robb e imploraram à polícia para invadir a escola, no Texas, enquanto se desenrolava o massacre de terça-feira. Esta quinta-feira foram divulgados vídeos onde se vêem alguns desses pais a serem afastados pela polícia.

Os vídeos - juntamente com os relatos iniciais das autoridades acerca da cronologia do tiroteio - sugerem que passou cerca de uma hora desde o início do ataque até ao momento em que os agentes invadiram a sala de aula onde Salvador Ramos acabou por matar 19 crianças e duas professoras. Os agentes atingiram-no mortalmente.

O New York Times relatou que a maioria das vítimas, se não todas, morreu nos primeiros minutos do ataque, citando uma pessoa que teve conhecimento da cronologia preliminar compilada pelos investigadores.

Um porta-voz do departamento de Segurança Pública do Texas, Chris Olivarez, disse à CNN que os investigadores ainda estavam a tentar confirmar um relato minuto a minuto, onde se inclui o tempo que o atirador permaneceu barricado dentro da sala de aula.

Num vídeo publicado no Facebook por um homem chamado Angel Ledezma, é possível ver pais a ultrapassar a fita amarela da polícia que estabelecia um perímetro de segurança, e a gritar aos agentes para entrarem no edifício. “Já passou uma hora, e ainda não conseguiram tirar de lá todas as crianças”, diz Ledezma no vídeo.

Outro vídeo, publicado no YouTube, mostra agentes que tentam afastar pelo menos um adulto. No fundo, ouve-se uma mulher dizer: “Porque estão a deixar as crianças morrer? Há um tiroteio a acontecer”.

“Temos agentes a entrar na escola para irem tirar as crianças”, ouve-se um agente dizer à multidão, e acrescenta: “Os polícias estão a trabalhar”.

Segundo o director do Departamento de Segurança Pública do Texas, Steve McCraw, “eles (os agentes) envolveram-se imediatamente”.

O massacre - o pior tiroteio escolar em quase uma década - reacendeu um debate nacional sobre as leis das armas do país. O Presidente Joe Biden e os democratas prometeram fazer pressão no sentido de aumentar as restrições ao uso de armas.

Houve poucos sinais de aviso: Salvador Ramos, um aluno que desistiu do ensino secundário, não tinha registo criminal nem histórico de doença mental.

O governador Greg Abbott revelou quarta-feira que Ramos tinha feito uma publicação online minutos antes do ataque, onde dizia que estava prestes a “disparar contra uma escola primária”.

As autoridades avançaram que Ramos disparou sobre a sua avó, na casa que partilhavam, antes de fugir e bater com o carro à entrada da escola, por volta das 11h30 da manhã (horas locais). A avó do atirador, que está hospitalizada em estado crítico, conseguiu chamar a polícia.

Antes de entrar na escola, Ramos, armado com uma espingarda semiautomática, conseguiu fugir a um agente da polícia escolar, deixando para trás um saco cheio de munições. As autoridades apresentaram relatos contraditórios acerca da entrada do adolescente na escola - não se sabe se houve uma troca de tiros até Ramos ter conseguido entrar.

Um polícia que falou na condição de anonimato afirmou que o agente escolar estava nas proximidades, mas não no recinto escolar quando Ramos bateu com a carrinha. Os investigadores concluíram que o funcionário da escola não estava posicionado de forma a confrontar o atirador antes de este entrar no prédio. No entanto, o porta-voz do departamento de Segurança Pública do Texas disse à CNN: “Estamos a tentar perceber exactamente qual foi o papel do agente e como enfrentou o atirador”.

Salvador Ramos feriu dois agentes que o confrontaram num corredor, antes de se barricar dentro da sala de aula, explicou Olivarez. O ataque desencadeou uma resposta maciça da polícia, incluindo centenas de agentes, que cercaram o edifício e partiram janelas, numa tentativa de retirar as crianças e outras pessoas no local.

A certo altura, alguns agentes invadiram a sala de aula e mataram o atirador, tendo ficado ferido no fogo cruzado um polícia, avançaram as autoridades. O Departamento de Polícia de Uvalde anunciou que o incidente tinha terminado pouco depois das 13 horas locais.

Olivarez afirma que o ataque durou entre 40 a 60 minutos, não conseguindo dizer “se esse período de tempo começou quando Ramos alvejou a avó ou quando chegou à escola”. O FBI está a trabalhar para obter a gravação das câmaras de vigilância da escola.

Um aluno da quarta classe que estava na sala de aula disse a uma jornalista da CBS em San Antonio que o atirador começou a disparar antes de entrar na sala. Quando o fez, agachou-se e disse: “Está na hora de morrer”. O rapaz, que o canal não identificou, disse que esteve escondido debaixo de uma mesa até a polícia entrar na sala de aula, momento em que se iniciou uma troca de tiros.

No ataque, pelo menos 17 pessoas foram feridas, incluindo crianças.

Os entes queridos das vítimas expressaram a angústia pela perda dos familiares nos meios de comunicação. “Dissemos-lhe que a amávamos e que a iríamos buscar depois da escola”, Kimberly Mata-Rubio publicou no Facebook em memória da sua filha, Alexandria. “Não tínhamos ideia de que isto era um adeus”.

Debate acerca do controlo de armas

O tiroteio ocorreu dez dias depois de um supremacista branco ter alvejado 13 pessoas num supermercado num bairro em Buffalo, Nova Iorque.

Em Washington, os democratas e republicanos no Senado pareceram estar longe de qualquer decisão sobre novas restrições de armas. Biden, que instou o Congresso a agir, visitará Uvalde nos próximos dias.

Este é o tiroteio escolar americano mais mortífero desde que um homem matou 26 pessoas, incluindo 20 crianças, na Escola Primária Sandy Hook, em Connecticut, em Dezembro de 2012.

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