Portugal regista mais dois casos suspeitos de hepatite aguda infantil

Existem em Portugal 14 casos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida, confirma DGS. Os dois novos casos foram registados na Madeira.

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Segundo a OMS, três em cada quatro crianças afectadas têm menos de 5 anos Daniel Rocha

Portugal tem mais dois casos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida, totalizando 14, avançou à Lusa nesta quinta-feira a Direcção-Geral da Saúde (DGS), adiantando que as duas crianças estão estáveis e em ambulatório. Segundo a DGS, os dois casos suspeitos foram detectados na Madeira.

Contactado pela agência Lusa, o director do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Rui Tato Marinho, afirmou que a situação da doença em Portugal “está pacífica”. “Está quase a fazer um mês desde que isto começou em Portugal e temos tido, em média, um caso dia sim, dia não, todos com evolução favorável”, disse o hepatologista, adiantando que algumas crianças estiveram internadas, algumas tiveram icterícia, mas estão todas bem.

Falando da situação a nível europeu, Rui Tato Marinho afirmou que há pouco mais de 300 casos, dos quais resultou uma morte na Irlanda. As restantes mortes aconteceram “em países com cuidados de saúde muito diferentes”, nomeadamente na Indonésia, no México, Palestina, Estados Unidos. O especialista salientou o facto de no Reino Unido, onde surgiram os primeiros casos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida, o ritmo de aparecimento de novos casos ter diminuído. “Parece que a doença poderá estar a abrandar”, salientou.

Voltando à situação de Portugal, apontou como “aspecto importante” alguns dos 14 casos considerados suspeitos poderem deixar de o ser porque se conhece mais características da doença, o que pode fazer com que os casos diminuam em vez de aumentar.

Sobre se já se conhecem as causas da doença, Rui Tato Marinho disse que as “hipóteses que ganham força são os vírus”, nomeadamente os adenovírus. “O adenovírus, um vírus nosso velho conhecido, pode ter-se modificado e tornado mais agressivo”, referiu, adiantando, por outro lado, que as crianças também estiveram menos expostas aos vírus durante o confinamento imposto pela pandemia de covid-19. “As crianças de um a quatro anos tiveram menos contacto e menos infecções com o adenovírus e agora estão a ter mais”, afirmou o hepatologista, explicando que “há uma dinâmica ecológica diferente entre o fígado destas crianças e o adenovírus”.

Outra hipótese que se coloca é que tenha alguma interacção com o vírus SARS-Cov-2, que provoca a covid-19, que pode ter modificado alguma coisa no fígado das crianças. “Há aqui uma dinâmica entre dois vírus. Não sabemos ainda bem a causa”, disse, observando ainda que a imunidade destas crianças também é diferente de um jovem, por exemplo, de 16 anos ou de um adulto de 50 anos. “Estão numa fase em que se estão a vacinar de forma natural. Começam a ir à escola, começam a ter infecções, gastroenterites, constipações, etc.”, justificou Rui Tato Marinho.

O último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado a 17 de Maio, apontava para 429 casos, acrescentando que seis crianças morreram e 26 necessitaram de um transplante de fígado. Segundo a OMS, três em cada quatro crianças afectadas têm menos de 5 anos e 15% dos menores doentes estiveram em cuidados intensivos.

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