Neonazis russos estão a combater na Ucrânia, diz espionagem alemã

Relatório das secretas da Alemanha citado pela revista Der Spiegel dá conta de dois grupos russos de extrema-direita a apoiar a invasão da Ucrânia.

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O grupo Wagner ganhou notoriedade em 2014, no apoio às forças pró-Rússia na Ucrânia. Um dos grupos neonazis russos agora presentes na Ucrânia tem ligações ao Wagner Reuters

Um relatório confidencial dos serviços de espionagem alemães (BND na sigla original) nota a presença de grupos neonazis que estão a combater na Ucrânia apoiando os militares russos, nomeadamente a Liga Imperial Russa e o grupo Rusich, segundo a revista Der Spiegel.

O relatório terá sido enviado a vários ministérios na semana passada e nele os analistas notam que a colaboração do Exército russo com estes grupos reduz “o motivo invocado para a guerra, a chamada ‘desnazificação’ da Ucrânia, ao absurdo”.

Os dois grupos mencionados em particular no documento são conhecidos pela sua brutalidade e os seus elementos já tinham combatido contra a Ucrânia no Donbass em 2014 e 2015.

A 25 de Fevereiro, um dia após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o líder da Liga Imperial Russa, Denis Gariev, escreveu no Telegram aos seus seguidores: “Defendemos sem dúvida a liquidação da entidade separatista Ucrânia”. Pouco depois, o grupo decidiu ir combater, recrutando para isso membros com experiência militar ou que tivessem participado no seu próprio centro de treino em São Petersburgo.

Na Rússia é legal haver treino militar, e o centro de treino deste grupo recebeu também estrangeiros, incluindo neonazis alemães, revelou em 2020 a revista alemã Focus. No mesmo ano, os EUA incluíram a Liga Imperial Russa na sua lista de organizações terroristas estrangeiras – a primeira vez que incluiu uma organização supremacista branca nesta lista, sublinhou então o Departamento de Estado, citado pela revista Foreign Policy.

Não é claro, segundo o documento das secretas, se a decisão de Gariev combater nesta guerra na Ucrânia foi tomada “a pedido ou em conversações com a liderança russa”. O documento diz ainda que o “número dois” de Gariev morreu em combate na Ucrânia e que Gariev ficou ferido.

O grupo Rusich também é de São Petersburgo e combateu no Donbass entre 2014 e 2015, mas é mais pequeno. Segundo a espionagem alemã, ficou conhecido pela sua especial brutalidade na altura, por “nunca fazer prisioneiros” e ter um fundador que seria sádico.

Num artigo na revista britânica The Spectator, o especialista em questões militares russas Mark Galeotti escreveu que este grupo tem reputação de “violência, mutilação e queimar corpos dos mortos e mesmo pôr vídeos das suas atrocidades online”, e “um dos seus comandantes gabava-se de cortar as orelhas dos mortos”.

O Rusich estará também envolvido em combates em território ucraniano desde pelo menos o início de Abril, diz o documento. A sua presença em Kharkiv tinha já sido noticiada pelo jornal britânico The Sunday Times, que lembrava que o líder, Alexei Milchakov, falou um dia do seu entusiasmo com “o cheiro de carne humana a queimar”.

O grupo terá ainda ligações ao grupo Wagner, que o considera como uma espécie de satélite no seu sistema, e que ganhou relevância no Donbass em 2014. O grupo Wagner é descrito como um grupo de segurança privado ou uma rede de mercenários, que tanto treina soldados como dá segurança a empresas russas (por exemplo, de petróleo ou gás) ou ainda se envolve em confrontos no terreno, como na Síria,​ e cada vez mais em África, da Líbia à República Centro-Africana, passando por Cabo Delgado.

O Rusich saiu da Ucrânia em 2015, pouco depois de Milchakov ser alvo de sanções internacionais após de relatos de crimes de guerra no Donbass, segundo a revista New America. Depois disso, noticiaram a revista norte-americana e o jornal russo Novaya Gazeta, Milchakov e outro comandante do grupo estiveram na Síria, onde militares russos apoiam o regime de Bashar al-Assad, e onde foram suspeitos de tortura de um prisioneiro sírio.

O relatório actual da agência de espionagem alemã menciona ainda a presença de um extremista de Donetsk que, em Abril, tentou recrutar voluntários para formar um batalhão para apoiar as forças russas e pró-russas.

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