Graça Freitas recomenda máscara no interior. Portugal pode chegar aos 60 mil casos diários em duas semanas

Directora-geral da Saúde admitiu que Portugal pode chegar aos 60 mil casos diários em duas semanas. Variante Ómicron obriga DGS a incluir dados de reinfecções nos relatórios de monitorização.

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Directora-geral da Saúde, Graça Freitas LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu esta quinta-feira que Portugal pode chegar às 60 mil infecções diárias pelo coronavírus SARS-CoV-2, mas afastou o regresso da obrigatoriedade do uso de máscara.

Graça Freitas confirmou, em entrevista à TVI, as estimativas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) que apontam para uma duplicação do número diário de casos nas próximas duas semanas, tal como já tinha sido avançado pela ministra da Saúde, Marta Temido. Por outro lado, sublinhou que tal não significa que a mortalidade associada à doença vai duplicar, uma vez que a variação depende de outros factores, como os grupos etários com maior crescimento.

Nesse sentido, as mortes por covid-19 por milhão de habitantes a sete dias, um indicador em que Portugal regista dos maiores valores do mundo, não devem acompanhar o aumento de infecções, visto que as faixas etárias mais afectadas são as mais jovens, entre os 10 e os 40 anos. Graça Freitas salientou que o país estava num bom caminho no que diz respeito à mortalidade, mas que a nova onda de casos impulsionada pela linhagem BA.5 alterou o cenário.

Ainda que os dados apontem para uma menor gravidade desta variante em relação às anteriores, o surgimento da sexta vaga prende-se com duas características da subvariante da Ómicron que já é dominante é Portugal: “transmite-se muito facilmente”, ainda mais que a primeira linhagem da estirpe Ómicron, e “tem a capacidade de escapar ao nosso sistema imunitário”, o que aumenta a probabilidade de reinfecção.

“Temos já notícia de pessoas que podem ter sido infectadas uma primeira vez com a variante Ómicron original e agora terem uma outra infecção com esta linhagem”, referiu a directora-geral da Saúde na entrevista, momentos antes de a Direcção-Geral da Saúde (DGS) ter avançado que passará a incluir nos relatórios e publicações de monitorização da pandemia “os dados relativos a reinfecções.

Apesar desta característica da nova linhagem, Graça Freitas diz que as vacinas em utilização continuam a ser capazes de “evitar doença grave”, com uma “efectividade” elevada, mas o mesmo não acontece com a eficácia a prevenir a transmissão. Assim, a directora-geral da Saúde recomenda que as pessoas usem máscara “em ambientes fechados e aglomerados”. Apesar do aumento de casos e da maior transmissibilidade da linhagem BA.5, Graça Freitas considera que nesta fase não é necessário recuperar a obrigatoriedade da máscara.

“Creio que nesta fase uma recomendação é suficiente. No fundo, a grande diferença entre obrigação e recomendação é o facto de a primeira ter um carácter mais vinculativo; na outra, põe [a população] a participar na solução”. O alargamento de uma nova dose de reforço a toda a população também não está, para já, em cima da mesa.

“Agora estamos numa estratégia que não é para prevenir ou controlar a infecção: é para protecção de vulneráveis, uma estratégia que também utilizamos contra a gripe”, referiu a directora-geral da Saúde.

Para já, esse reforço da vacinação cingir-se-á ao grupo etário de 80 ou mais anos, que já arrancou nos lares de idosos. “20% dos lares elegíveis para vacinação já o foram”, observou, confiante de que o processo vai intensificar-se “nas próximas semanas”.

Variante Ómicron aumenta cinco vezes a probabilidade de reinfecção

A DGS informou esta quinta-feira que os casos de reinfecção pelo SARS-CoV-2 constituem 4,65% do total de casos notificados desde Junho de 2020, um valor “semelhante aos registados a nível internacional”. A percentagem corresponde a mais de 194 mil casos de reinfecção detectados, com a maior fatia a ser atribuída à variante Ómicron.

A prevalência de casos de reinfecção durante o período em que a Ómicron é dominante chega aos 6,10%, refere o relatório técnico. Quando as variantes predominantes eram a Delta e a Alfa, só 2% dos casos correspondiam a reinfecções, e o valor era de apenas 0,35% na altura da variante original, identificada na cidade chinesa de Wuhan.

Segundo a nota da Direcção-Geral da Saúde, desde a entrada em funcionamento da plataforma BI SINAVE, em 2020, que o processo de contabilização de casos no sistema apenas “considerava a primeira infecção associada a cada pessoa, uma vez que partia do pressuposto, fundamentado em estudos populacionais, que os fenómenos de reinfecção eram raros, entre 1% e 2%”.

A variante Ómicron “veio alterar a probabilidade de reinfecção, sendo cinco vezes mais provável a reinfecção do que com a variante de preocupação Delta”.

A DGS ressalta, no entanto, que o seguimento clínico dos casos de reinfecção esteve sempre assegurado através da plataforma Trace Covid-19, que alertava “para novos resultados positivos de testes laboratoriais a SARS-CoV-2, independentemente do período entre os mesmos”.

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