Os “momentos de glória” do grego Vangelis

Compositor que recebeu um Óscar pela banda sonora de Momentos de Glória, foi um pioneiro da música electrónica. Morreu aos 79 anos.

Foto
O compositor grego Vangelis tinha 79 anos Gems/Redferns/getty images

O grego Vangelis, pioneiro da música electrónica e músico a solo que subiu à fama como teclista da banda de rock progressivo Aphrodite's Child, morreu esta terça-feira, aos 79 anos. A notícia, desta quinta-feira, foi dada pela Agência de Notícias Grega, citada pela Reuters. Não se sabe a causa da morte, mas o portal noticioso Greek Reporter​ avança que o músico estava hospitalizado com covid-19 em França.

Nascido Evángelos Odysséas Papathanassíou em 1943, na pequena cidade de Agria, na Tessália, Vangelis, músico maioritariamente auto-didacta, formou a primeira banda em 1963, os Forminx, que tocavam a música pop-rock em voga na altura, tendo depois passado a produzir e a compor por encomenda, para outros artistas e para banda sonoras. Foi nessa mesma década que formou os Aphrodite's Child, assentes na voz de Demis Roussos. Tiveram um êxito europeu com Rain and Tears, gravada em França, tendo-se mudado depois para Londres. A banda lançou apenas três álbuns, o último dos quais, 666, é um influente álbum duplo de rock progressivo e psicadélico que foi conceptualizado por Vangelis e baseado no Apocalipse, o livro da Bíblia.

Na década seguinte, Vangelis voltou a dedicar-se aos filmes e à televisão, trabalhando em bandas sonoras como L'Apocalypse Des Animaux, uma série documental francesa de Frédéric Rossif, com quem continuo a trabalhar.​ Rejeitou um convite para se juntar à banda de rock progressivo britânica Yes, onde iria substituir o teclista Rick Wakeman. Em Londres, onde montou um estúdio, começou a lançar mais música a solo.

A década de 1970 foi a de discos como Earth​, ainda assinando como Vangelis O. Papathanassiou e ainda no mundo do rock progressivo. Com um som mais próximo da música clássica, fez Heaven and Hell ou Albedo 0.39, que depois viriam a fazer parte da banda sonora da série de televisão Cosmos, apresentada por Carl Sagan. No final dessa mesma década, acabou por se juntar ao vocalista dos Yes, Jon Anderson, para quatro álbuns sob o nome Jon and Vangelis, com quem já tinha colaborado em Heaven and Hell. Juntos fizeram o álbum The Friends of Mr. Cairo, que inclui I'll Find My Way Home e State of Independence, que foi depois um êxito europeu na voz de Donna Summer. Em 1979 lançou também um disco a meias com a sua compatriota Irene Papas, actriz e cantora.

Em 1981, compôs e gravou a banda sonora de Momentos de Glória, o filme sobre dois atletas nas Olimpíadas de 1924 realizado por Hugh Hudson. Valeu-lhe um Óscar de Melhor Banda Sonora original e trouxe também um dos maiores êxitos da sua carreira, ainda hoje reconhecido, bem como lugar cativo em vários espectáculos dos Jogos Olímpicos ao longo das décadas posteriores. No ano seguinte, deu música a dois filmes. O primeiro foi Missing - Desaparecido, do seu compatriota Costa-Gavras, o vencedor da Palma de Ouro em Cannes sobre a culpa do Governo americano no golpe de Augusto Pinochet no Chile e a morte de cidadãos norte-americanos. Apesar de a banda sonora nunca ter sido editada, o tema principal teve uma vida paralela em vários anúncios. O outro foi o futurista Blade Runner - Perigo Iminente​, de Ridley Scott, sendo a sua banda sonora uma parte fulcral da criação da Los Angeles do – na altura longínquo – ano 2019.

Foram também dele as bandas sonoras de filmes como Antarctica, o êxito japonês de Koreyoshi Kurahara, ​Revolta no Pacífico, de Roger Donaldson, Lua de Mel, Lua de Fel, de Roman Polanski, 1492: Cristóvão Colombo, de Ridley Scott ou Alexandre, o Grande, de Oliver Stone, bem como séries documentais de Jacques Cousteau. Nem só de filmes e televisão foram feitas as suas bandas sonoras. No final dos anos 1990, um amigo seu, o neurocirurgião Stergios Tegos, editou uma série de vídeos educativos para estudantes de medicina com banda sonora original de Vangelis, cuja música, redescoberta anos depois, está disponível na internet sob o nome Tegos Tapes.

Além dos Óscares, foi também nomeado para três Grammy. O seu derradeiro álbum, Juno to Jupiter, inspirado pela sonda homónima da NASA – que tem o mesmo nome de um sintetizador por ele usado, o Juno-106 da Roland.

Sugerir correcção
Ler 22 comentários