Primeira-ministra da Finlândia não quer armas nucleares ou bases militares da NATO no país

Sanna Marin defende que a candidatura finlandesa à Aliança Atlântica é “um acto de paz e não um acto de guerra” e lembra que a Finlândia já tem “boas capacidades defensivas”. E acredita que a oposição da Turquia ao alargamento da NATO se vai resolver com diálogo.

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Marin visitou Draghi, primeiro-ministro italiano, em Roma EPA/FILIPPO ATTILI/CHIGI PALACE PRESS OFFICE HANDOUT

Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia, disse esta quinta-feira ao jornal italiano Corriere della Sera que a candidatura à NATO não significa que o país esteja interessado em ter armamento nuclear ou bases militares no seu território.

“A decisão de nos candidatarmos à adesão à NATO é um acto de paz e não um acto de guerra. Devemos garantir que nunca haverá guerra em solo finlandês e sempre tentaremos resolver os problemas através da diplomacia”, afirmou a chefe do Governo finlandês.

“Ninguém nos vai impor armas nucleares ou bases permanentes, se não as quisermos. Esta questão não está na agenda [das negociações de adesão]. Não acho que haja qualquer interesse em instalar armas nucleares ou estabelecer bases da NATO na Finlândia”, disse, a partir de Roma, onde se encontrou com o seu homólogo italiano, Mario Draghi.

Marin sublinhou, porém, que a Finlândia já tem “boas capacidades defensivas”, mesmo sem aderir à NATO: “Já gastamos mais de 2% do nosso PIB em defesa e, durante décadas, investimos bastante na nossa segurança, precisamente por causa do vizinho enorme e agressivo que temos nas nossas fronteiras.”

A invasão russa da Ucrânia provocou uma mudança repentina na opinião pública finlandesa sobre a política de neutralidade que o país seguia há várias décadas, que culminou no pedido formal de adesão à Aliança Atlântica, na quarta-feira, a par da Suécia.

O facto de a Finlândia partilhar com a Rússia uma fronteira de 1300 quilómetros e de ter sido invadida pela União Soviética em 1939 – iniciando-se um conflito de três meses que ficou conhecido como “Guerra do Inverno” e que tirou a vida a cerca de 80 mil finlandeses – pesou muito na decisão das autoridades políticas do país em avançar com o pedido de adesão.

A referência de Marin à intenção finlandês de não ter armas nucleares no seu território é importante no contexto da reacção russa sobre a entrada da Finlândia e da Suécia na NATO. Moscovo diz que o alargamento da organização militar vai obrigar a Rússia a “retaliar” e a movimentar os seus activos militares para o Báltico, incluindo o armamento nuclear, “se necessário”.

“Já não poderemos falar de um Báltico sem armas nucleares. O equilíbrio deve ser restabelecido”, defendeu o ex-Presidente, ex-primeiro-ministro e actual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev.

Questionada sobre a oposição da Turquia à adesão da Finlândia e da Suécia à NATO, Sanna Marin disse que espera que tudo se resolva através da diplomacia e do diálogo.

“Nesta fase é importante mantermo-nos calmos, conversarmos com a Turquia e com outros Estados-membros, respondermos às perguntas que possam existir e esclarecermos quaisquer mal-entendidos”, declarou.

O país de Recep Tayyip Erdogan tem-se mostrado muito crítico da expansão da NATO para dois Estados que, segundo o Presidente turco, “apoiam grupos terroristas” – numa referência ao alegado apoio das autoridades suecas e finlandesas a grupos e organizações políticas com ligações ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão e à rede fundada pelo académico Fethullah Gülen.

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