Bini Girmay faz história na Volta a Itália

O jovem africano voltou a fazer história, desta vez sendo o primeiro africano negro a triunfar numa “grande volta”, naquela que pode ser mais uma “pedrada no charco” num desporto ainda muito europeu.

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Reuters/JENNIFER LORENZINI

Há algumas semanas, Biniam Girmay fez história no World Tour, ao tornar-se o primeiro negro a vencer uma clássica no World Tour – e falou-se no PÚBLICO da história de vida deste eritreu. Nesta terça-feira, o jovem africano voltou a fazer história, desta vez sendo o primeiro africano negro a triunfar numa “grande volta”, naquela que pode ser mais uma “pedrada no charco” num desporto ainda muito europeu.

O ciclista da Wanty venceu a etapa 10 da Volta a Itália, num final ao sprint num grupo reduzido, depois de algumas pequenas elevações terem retirado da luta os principais velocistas.

Capaz de passar essas dificuldades, o eritreu fez valer, depois, a ponta final que tem em finais rápidos e voltou a colocar a Eritreia no mapa do ciclismo – algo em que o país do Leste de África tem trabalhado nos últimos anos.

“É inacreditável. Não tenho palavras para o que a minha equipa fez hoje. Estou muito grato e contente pelo que acabei de fazer”, disse o ciclista, após a etapa em que a raridade de um negro erguer os braços num palco supremo do ciclismo se tornou real.

“As pessoas adoram-no e não é difícil perceber porquê. Ele é um vencedor, mas com um toque humano e um sorriso. Quando ganha, mostra-se muito grato. Vai a cada elemento do staff agradecer individualmente e isso não se vê com frequência”, elogiou há algumas semanas Aike Visbeek, director de performance da equipa Wanty.

A falta de experiência do ciclista nestas lides ficou patente até na forma como Bini, com dificuldades a abrir a garrafa de champanhe, acabou por se atingir a si próprio com a rolha no olho. O jornal L'Équipe aponta mesmo que o eritreu foi levado ao hospital após o incidente.

Etapa aberta

Para esta terça-feira estava desenhada uma tirada que dava para quase todos os cenários possíveis numa corrida de ciclismo.

Não seria dura o suficiente para excluir da luta todos os sprinters, teria dureza suficiente para seduzir puncheurs explosivos em subidas curtas, teria variações de altitude interessantes para uma fuga ou até poderia valer um grupo restrito com alguns nomes já consagrados, mas atrasados na geral. Num cenário mais improvável, a descida na parte final da etapa até poderia permitir que a boa colocação de alguns dos principais nomes lhes permitisse, de repente, poder lutar pela etapa.

E isto colocava a lista de favoritos num plano estranho, já que nem sempre se coloca nessa lista, em simultâneo, nomes como Yates, Démare, Almeida, Girmay, Valverde, Cort, Van der Poel, Bilbao ou Nibali.

A etapa teve uma fuga, anulada, e uma segunda fuga, também anulada. O pelotão estava apostado em levar a decisão da corrida para a meta e assim foi.

A cerca de dez quilómetros da meta a Alpecin “pegou” na corrida, a pensar em Mathieu van der Poel, mas foi a Emirates a mexer. Alessandro Covi saiu do bloco de apoio a João Almeida e saltou de um pelotão surpreendentemente bastante curto e já sem sprinters puros.

O ataque não teve sucesso, sobretudo pelo trabalho da Wanty a tentar dar um sprint a um dos mais rápidos ainda presentes no grupo: o eritreu Bini Girmay.

A cerca de três quilómetros da meta houve ataque de Hugh Carthy e a perseguição da Emirates levava a crer que João Almeida estaria com ideias para esta etapa que prometia ser inócua para os favoritos, mas acabou por ser bastante trabalhosa.

Não houve, porém, forma de tirar Birmay e Mathieu van der Poel do grupo e foi entre eles o duelo. O mais forte foi o eritreu, que voltou a impressionar nesta temporada, e quem ficou de mãos a abanar foi o neerlandês, que voltou a pagar caro o esforço que fez a fechar tentativas de fuga – uma vez mais, pareceu gerir mal as energias e deixar-se levar pela ânsia de vencer e pela falta de colegas que façam o “trabalho sujo”. Girmay, por exemplo, teve Jan Hirt e Pozzovivo nessas funções.

Entre os candidatos ao triunfo no Giro não houve alterações significativas e tudo está na mesma. João Almeida fechou a etapa em nono lugar e mantém-se em segundo na geral, a 12 segundos de Juan Pedro López.

Para esta quarta-feira está agendada uma etapa plana e deverá haver um final ao sprint.

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