Mais aviões e menos infantaria no desfile de um Dia da Vitória ensombrado pela guerra na Ucrânia

Prevê-se um menor número de soldados e de equipamento militar a desfilar na Praça Vermelha de Moscovo. Líderes mundiais também vão estar ausentes das celebrações russas.

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Último dia de ensaios das forças militares russas para o desfile do Dia da Vitória EVGENIA NOVOZHENINA/Reuters

A Rússia realizou na passada sexta-feira o último ensaio para o Dia da Vitória, que é comemorado na segunda-feira. Sendo este dia um feriado, que marca a rendição da Alemanha nazi perante a União Soviética, na II Guerra Mundial, aeronaves russas vão sobrevoar a Praça Vermelha, em Moscovo, onde também vai desfilar o Exército.

Este ano, tendo em conta a invasão das forças militares russas à Ucrânia, o Kremlin não revelou muitas imagens dos ensaios para a celebração. Contudo, permitiu que este domingo fossem gravados e transmitidos alguns momentos do ensaio para o dia que tem também como objectivo, para Vladimir Putin, mostrar ao mundo, e particularmente ao Ocidente, o seu poderio militar, provando a sua força enquanto superpotência.

Anda assim, segundo o The Moscow Times, o conflito na Ucrânia lança uma sombra sobre as celebrações e, em particular, sobre o desfile militar na Praça Vermelha de Moscovo, que terá significativamente menos soldados e armamento, em comparação com o ano passado. Especialistas associam o sucedido às perdas significativas sofridas pela Rússia desde o início da guerra, a 24 de Fevereiro.

“Esta é uma das poucas vezes em que a Rússia está a conduzir uma guerra convencional nas suas fronteiras ao mesmo tempo em que faz o desfile”, disse Aglaya Snetkov, especialista em política externa russa da University College London. “A redução do desfile mostra que o Governo russo está ciente das perdas [na Ucrânia] e que está a saber como lidar com elas.”

Embora o número de aviões esperados para sobrevoarem a Praça Vermelha de Moscovo seja um pouco maior do que no ano passado, o número de infantaria e equipamentos militares é menor. Em comparação com os cerca de 191 veículos militares e 12.000 militares presentes no desfile de 2021, este ano haverá apenas 131 veículos militares e 11.000 militares, de acordo com informações publicadas sexta-feira pelo Ministério da Defesa da Rússia.

“Os discursos vão estar concentrados em traçar paralelos entre a guerra da União Soviética contra a Alemanha nazi com o modo como a Rússia está ‘sozinha’ nesta sua nova luta contra o nazismo contemporâneo na Ucrânia”, disse Allyson Edwards, especialista em assuntos militares russo da Universidade de Warwick, em Inglaterra, citada por aquele jornal.

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Ao mesmo tempo em que mostra o papel da Rússia na derrota do nazismo, as comemorações deste ano foram planeadas para reforçar o recrutamento para as Forças Armadas, motivando os russos a “continuar os feitos e as vitórias dos seus ancestrais”, segundo Edwards.

Autoridades e observadores ocidentais alertaram que o Kremlin pode estar até a planear anunciar uma mobilização de reservistas ou civis no dia 9 de Maio para impulsionar a campanha militar do país na Ucrânia, que supostamente é prejudicada por problemas que incluem a falta de infantaria. Até ao momento, tais afirmações foram negadas pelas principais autoridades russas.

Ao contrário dos anos anteriores, os eventos do Dia da Vitória serão realizados na ausência de líderes estrangeiros. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou no mês passado que nenhum líder estrangeiro foi convidado para o desfile do Dia da Vitória este ano porque não se marca um aniversário redondo – ao contrário de 2005 ou 2010. “É nosso próprio feriado, um feriado sagrado para a Rússia e todos russos”, afirmou ele.

Permanece, contudo, o receio de que este dia sirva de pretexto para a intensificação da actividade militar russa na Ucrânia – nomeadamente nas frentes de combate mais activas. Odessa é um destes exemplos e o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, decretou um recolher obrigatório para que os civis evitem qualquer perigo durante o dia.

“​O mundo inteiro está à espera que algo aconteça neste dia 9 de Maio –​ tanto os inimigos de Putin quanto os seus principais apoiantes”, disse o especialista político Abbas Gallyamov à BBC no passado sábado. “​Essas expectativas criaram um vácuo que precisa ser preenchido. Se não for, Putin perderá politicamente.”

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