Psicóloga afirma que Johnny Depp agrediu mental, física e sexualmente Amber Heard

O arranque da apresentação do caso de Amber Heard em Fairfax, Virgínia, fez-se com o testemunho da psicóloga clínica e forense Dawn Hughes, que descreveu os abusos contra a actriz e deitou por terra o diagnóstico da psicóloga de Depp.

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Johnny Depp esta terça-feira no tribunal Reuters/POOL

A actriz Amber Heard sofreu uma perturbação de stress pós-traumático devido à violência que sofreu durante a relação com Johnny Depp, incluindo múltiplos actos de agressão sexual, declarou, na terça-feira, a psicóloga clínica e forense Dawn Hughes. Todavia, na semana passada, a psicóloga do actor atestou ter observado na actriz sinais de transtorno de personalidade histriónica e de transtorno de personalidade limítrofe (borderline). Ainda na terça-feira, a actriz apresentou um pedido para que a juíza Penney Azcarate arquivasse o caso de difamação de que é acusada pelo ex-marido. O pedido foi recusado, uma vez que a magistrada considerou haver provas suficientes para prosseguir.

Ao 13.º dia de julgamento, as declarações de Dawn Hughes podem vir a mudar a perspectiva do júri sobre Johnny Depp. A especialista, com mais de 25 anos de carreira, trabalha sobretudo na avaliação e tratamento da violência interpessoal, do stress pós-traumático e dos distúrbios de ansiedade — na sua investigação, destaca-se a pesquisa sobre traumas relacionados com a infância e as sequelas psicológicas dos veteranos de guerra.

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A psicóloga Dawn Hughes Reuters/Pool

Além de estar ligada à Associação Estatal de Psicologia de Nova Iorque, Hughes é membro Associação Americana da Psicologia e da Academia Americana de Psicologia Forense. Actualmente, é também a coordenadora de investigação do Programa dos Sobreviventes de Abusos Sexuais, o que a torna particularmente qualificada para analisar o caso Depp vs. Heard.

A especialista começou por descrever as agressões sexuais de que a actriz terá sido alvo. De acordo com Hughes, Amber Heard terá sido forçada a fazer sexo oral, ao mesmo tempo que Depp a penetrava com uma garrafa. A psicóloga é a primeira especialista a depor do lado da actriz, depois de a equipa jurídica do actor ter terminado de apresentar as suas testemunhas na manhã desta terça-feira. Para Hughes, há sinais claros que indiciam que este é um caso de abuso, incluindo os pedidos de desculpa feitos por Depp a Heard e confissões que o próprio fez a amigos, através de mensagens de texto, onde admite perder o controlo quando bebe.

Em tribunal, Johnny Depp declarou que nunca agrediu Amber Heard fisicamente e que seria ela a agressora, que lhe batia frequentemente e atirava coisas. Dawn Hughes confirma o testemunho do actor, dizendo que a actriz reconheceu que, “por vezes”, empurrava Depp, insultando-o a ele e aos seus pais. Contudo, a especialista observa uma diferença no tipo de violência quando uma pessoa mais pequena ataca uma maior: a violência exercida por Depp intimidava e punha em causa a segurança; já a de Heard não teria o mesmo efeito no então marido. “Era apenas violência física”, declarou.

Ameaças e ciúmes

Grande parte da violência entre o casal resultava do ciúme obsessivo de Depp, sublinhou Dawn Hughes. O actor pedia à mulher — que se tornou mais conhecida após o papel de Mera em Aquaman — que evitasse cenas de nudez nas filmagens e chegou mesmo a acusá-la de casos extraconjugais com os actores Billy Bob Thornton e James Franco. Além disso, ameaçava “ter olhos” em todo o lado e que garantia que, caso a actriz confraternizasse de forma “imprópria”, ele saberia.

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Amber Heard REUTERS/Pool

E as ameaças aplicavam-se não só a interacções com homens, mas também com mulheres, já que Heard se identifica como bissexual, de acordo com os documentos do tribunal de Fairfax, Virgínia. A psicóloga clínica relata que, uma vez, Depp penetrou a mulher manualmente e em fúria, na sequência de testemunhar a actriz a conversar com outra mulher.

Enquanto a especialista descrevia os abusos, Amber Heard ouvia com lágrimas nos olhos. O testemunho de Hughes resultará de 29 horas de entrevistas com a actriz, assim como entrevistas com os seus terapeutas, além de uma revisão detalhada dos documentos de tribunal. Ainda que durante as últimas semanas tenham sido apresentadas apenas testemunhas do lado de Johnny Depp, o advogado de Heard, J. Benjamin Rottenborn, acredita que as provas que têm sido dadas confirmam que as alegações de abuso da sua cliente são verdadeiras.

Depp está a processar Heard por 50 milhões de dólares (mais de 47 milhões de euros) no Tribunal do Circuito do Condado de Fairfax, na sequência de a actriz ter escrito um artigo, em Dezembro de 2018, no The Washington Post, onde se descrevia como “uma figura pública representando as vítimas de violência doméstica”. No texto que levou o ex-casal a uma batalha judicial milionária, não se identifica o agressor pelo nome, mas, defende o advogado de Depp, Benjamin Chew, era claro que Heard se estava a referir ao actor.

Do seu lado, a actriz não nega que de facto falava sobre o ex-marido, mas observa que, por um lado, apenas escreveu (na realidade, apenas assinou, soube-se esta semana em tribunal, sendo o texto da autoria da União Americana das Liberdades Civis) a verdade e que, por outro, a sua opinião está protegida como livre expressão ao abrigo da Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Ou seja, respondeu com uma contra-acusação, pedindo uma indemnização de cem milhões de dólares (92,6 milhões de euros).

A juíza Penney Azcarate diz ainda estar a considerar se a manchete do artigo de Heard — “Falei contra a violência sexual e enfrentei a ira da sociedade. Isso tem de mudar” — será integrada como prova no julgamento, já que poderá não ter sido escrita pela actriz. Nesta quarta-feira, espera-se que a psicóloga Dawn Hughes seja contra-interrogada pelo advogado de Depp. O dia deverá ficar ainda marcado pelo testemunho de Amber Heard.

Prejuízos para Depp

Na terça-feira, ao início do dia e ainda antes de a equipa de Depp ter dado o caso como apresentado, foi ouvido o contabilista forense Michael Spindler, que estimou que o actor terá deixado de facturar mais de 40 milhões de dólares (38 milhões de euros), nos anos de 2019 e 2020, o período imediatamente a seguir à publicação de um artigo no The Washington Post, em que Amber Heard, a ex-mulher que pedira uma ordem de afastamento por altura da entrada dos papéis do divórcio, se declara vítima de violência doméstica.

De acordo com Spindler, terá sido a saída de Johnny Depp da saga Piratas das Caraíbas, da qual estava, na época, a ser debatido o sexto filme, e tendo por base o ano de 2017, que custou ao actor ganhos na ordem dos 40 milhões de dólares, descontando já a comissão do seu agente.

No entanto, a equipa de defesa de Amber Heard fez questão de que o contabilista assumisse que não tinha apurado se fora o artigo a causa dessas perdas. Além disso, Spindler foi questionado sobre o motivo pelo qual decidiu ter por base o ano de 2017, em que Depp facturou cerca de 45 milhões, e não os anos de 2016 ou 2018, em que o volume facturado foi semelhante aos anos estudados.

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