Todos sabemos o que é uma mãe

É por termos essa ideia tão fechada e tão utópica do que é uma mãe que inevitavelmente nos sentimos a falhar, absolutamente sozinhas quando nos imaginamos longe desse ideal.

Foto
@designer.sandraf

Querida Mãe,

Esta semana tenho estado em reflexão profunda sobre o que é isto de ser mãe. É bastante incrível, se pensarmos nisso, existirem algumas palavras, como Pai e Mãe, que toda a gente no mundo reconhece. É bonito pensar que, independentemente das diferenças culturais ou ideológicas, ou mesmo quando estão em trincheiras opostas, como agora na guerra da Ucrânia, todos sabemos o que é uma mãe e reconhecemos, mesmo que seja apenas enquanto filhos, o amor que essa palavra representa.

Mesmo a quem calhou uma mãe que nunca foi digna desse nome, têm uma ideia segura daquilo que ela devia ser. Mas, por outro lado, é exactamente por termos essa ideia tão fechada e tão utópica do que é uma mãe que inevitavelmente nos sentimos a falhar, absolutamente sozinhas quando nos imaginamos longe desse ideal. Então, quando somos mães pela primeira vez, é mesmo difícil porque ainda não tivemos tempo de perceber que toda a gente se desvia...

A verdade é que vestimos a etiqueta universal de mãe, mas como cada um de nós é único, seremos sempre mães únicas. E lá andamos nós, neste misto de querermos ser vistas como super-heroínas mas, ao mesmo tempo, com muito pouca tolerância para as histórias demasiado cor-de-rosa. Irritamo-nos quando pintam um quadro idílico, mas também nos chocamos quando uma mãe confessa a vontade de “atirar o filho pela janela”.

Pois é, os seres humanos não têm jeito nenhum para ficar em paz com as contradições, mas a maternidade está cheia delas. Contamos os minutos para os ver na cama, mas depois morremos de saudades quando os vemos a dormir. Amamos os nossos filhos incondicionalmente, mas às vezes não gostamos muito deles. Queremos que precisem de nós, mas sentimo-nos sufocadas pela dependência. E tudo isto depende dos dias. Sim, neste Dia da Mãe escolho a palavra “contradição”. E a mãe?


Querida Mãe Ana

Neste dia que também é teu — aliás, ganhas-me por um filho! —, escolho a palavra “aceitação”. É o exercício mais difícil para uma mãe, e não se torna mais fácil com a idade dos filhos. Nem com o nascimento dos netos.

Dizemos que podem ser o que quiserem, como quiserem, mas cá dentro da nossa cabeça e do nosso coração, temos uma ideia do que é melhor para eles. E inevitavelmente tentamos empurrá-los nessa direcção, moldá-los.

Muitas vezes surpreendem-nos, porque nunca nos atrevemos a sonhar com filhos tão excepcionais, tão queridos, tão empáticos, tão tudo, mas há sempre ali qualquer coisa que tentamos mudar. Que queremos aperfeiçoar (e estou-me a rir de mim própria), com a desculpa de que nos cabe educá-los até à hora da nossa morte e mais além.

Desconfio que vou ser sempre como a mãe naquele filme do Woody Allen, em que de cada vez que o filho sai à rua, ouve-se uma voz lá de cima a dizer-lhe para levar um casaquinho porque vai chover, ou que é melhor ir pelo caminho da direita, do que pelo da esquerda. Estás preparada?

Bom Dia da Mãe!


No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.

Sugerir correcção
Comentar