Que países e empresas ainda compram combustíveis à Rússia e quais já pararam?

O travão à compra de crude e de outros produtos refinados da Rússia tem sido uma das armas diplomáticas mais usada na guerra da Ucrânia. Na UE, nem todos os países diminuíram a dependência energética da Rússia. Mas outros já assumiram o fim da relação com Moscovo.

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Complexo da Gazprom Reuters/MAXIM SHEMETOV

Austrália, Reino Unido, Canadá e EUA impuserem proibições definitivas às compras de petróleo russo, mas os 27 estados-membros da União Europeia (UE) ainda não concordaram num embargo total a estas matérias-primas. Há, inclusive, países europeus que dependem quase na totalidade da Rússia para o fornecimento de energia.

A UE pretende reduzir a dependência do gás russo em dois terços até ao final do ano e a zero até ao final de 2027, disse o comissário económico da UE, Paolo Gentiloni. A Alemanha, uma das principais economias da UE, já comunicou a intenção de cortar a dependência do petróleo russo na totalidade até ao final deste ano, mas ainda se abastece neste mercado.

Apesar de a UE ainda não ter imposto um embargo a estes recursos energéticos, muitas empresas europeias já terminaram com a compra de petróleo russo ou prometeram fazê-lo quando os contratos terminarem.

Nesta batalha diplomática, a Rússia já cortou o acesso ao fornecimento de gás à Polónia e Bulgária, depois destes dois países se terem recusado a pagar com rublos. E Moscovo já ameaçou que vai fazer o mesmo a outros países europeus que recusem fazer o pagamento nessa moeda. Mas, afinal, quem são os países que ainda compram petróleo e gás natural à Rússia e quais os que já deixaram de o fazer?

Empresas que ainda compram:

Índia

A principal refinaria da Índia, a Indian Oil Corp, adquiriu seis milhões de barris de petróleo desde 24 de Fevereiro, quando a guerra começou na Ucrânia, e contratualizou com a Rosneft, uma das maiores empresas russas, a compra de mais 15 milhões de barris.

A empresa estatal indiana, Bharat Petroleum também comprou dois milhões de barris para serem transaccionados já em Maio. O petróleo tem habitualmente como ponto de origem a região de Kochi, sendo depois transportado para refinarias no sul do país. A Hindustan Petroleu também adquiriu milhares de barris de petróleo para ser transportado para o país também em Maio.

Grécia

A maior empresa de refinação da Grécia, a Hellenic Petroleum, depende do crude russo em 15%. Apesar de ainda não ter deixado de comprar a Moscovo, a empresa procura já alternativas junto da Arábia Saudita.

Itália

A principal refinaria italiana, a Litasco SA, controlada pelos russos da Lukoil, foi forçada a comprar quase todo o petróleo do seu proprietário depois de os bancos internacionais terem bloqueado o financiamento. De acordo com fontes consultadas pela Reuters, o Governo italiano​ considera mesmo a nacionalização temporária de algumas energéticas se as sanções contra a Rússia se mantiverem.

Alemanha

A maior refinaria alemã, a Miro, continua a depender em cerca de 14% do petróleo russo. A Rosneft detém 24% do capital desta empresa. As refinarias situadas em Leuna, em grande parte pertencentes à Total, recebem a maioria do crude vindo do oleoduto russo de Druzhba. Este mesmo oleoduto é usado para fornecer crude à PCK Schwedt, controlada em 54% pela Rosneft .

Hungria

A MOL, um grupo petrolífero húngaro, que tem refinarias também na Eslováquia e Croácia, continua a comprar petróleo russo através do oleoduto de Druzhba, bem como outros produtos refinados. A empresa disse que levaria entre dois a quatro anos, e que teria um custo de pelo menos 5oo milhões de euros, para reduzir esta dependência energética.

Bulgária

A Neftochum Burgas, controlada pela empresa russa Lukoil, continua a receber 60% do seu crude da Rússia.

Polónia

A PKN Orlen, a maior refinaria da Polónia, deixou de comprar crude russo nos mercados internacionais, procurando alternativas em fornecedores do Mar do Norte. Ainda assim, continua a receber crude vindo da Rússia fruto dos contratos assinados anteriormente e que terminam no final deste ano.

A empresa, que tem refinarias na Lituânia, Polónia e República Checa, viu os lucros disparar em Março fruto do desconto que paga pelo petróleo russo.

China

A maior refinaria da Ásia, a Sinopec, continua a comprar crude russo de acordo com os termos dos contratos assinados previamente.

Empresas que já não compram:

Reino Unido

A Shell, a maior petrolífera mundial, deixou de comprar crude russo no dia 27 de Abril. A BP, que vai abandonar a participação na empresa Rosneft, não vai fazer novos acordos com entidades russas para o carregamento de crude em portos daquele país, a não ser que seja “essencial para garantir a segurança do abastecimento”.

Japão

A maior refinaria do Japão, a Eneos, deixou de comprar crude à Rússia, recebendo apenas o material que estava acordado em contratos anteriores. A empresa procura adquirir a matéria-prima em mercados alternativos do Médio Oriente.

Itália

A Eni, comparticipada em 30% pelo estado italiano, suspendeu a compra de petróleo russo.

Noruega

A Equinor, a maior empresa estatal da Noruega, deixou de comprar crude russo ao mesmo tempo que abandonou todas as operações no país.

Portugal

A Galp já não compra gás ou crude da Rússia e confirmou que não vai adquirir mais nenhum destes produtos a Moscovo.

Finlândia

A Neste deixou de comprar crude russo nos mercados internacionais e não pretende renovar qualquer acordo, mantendo, no entanto, os contratos que estão previstos até Julho. Desde Abril que a empresa conseguiu trocar 85% do crude russo por matérias-primas vindas de outros países.

Suécia

A Preem, a maior refinaria da Suécia, que pertence ao multimilionário saudita Mohammed Hussein al-Amoudi, colocou um travão nas novas compras à Rússia, que representavam 7% dos barris usados.

Espanha

A Repsol deixou de comprar crude russo nos mercados internacionais.

França

A Total confirmou que não celebrar novos contratos com entidades russas nem renovar os que ainda existem. O abastecimento com matéria-prima vinda da Rússia vai deixar de existir até ao final de 2022.

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