Twitter inflacionou número de utilizadores nos últimos três anos

Empresa escreveu aos anunciantes, que são 90% das receitas, para contrariar ricochete das promessas de Musk. Contas operacionais continuam no vermelho.

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É a segunda vez que o Twitter admite que errou na contagem dos utilizadores diários Reuters/DADO RUVIC (arquivo)

A administração do Twitter, que aprovou há dias a venda da empresa ao bilionário Elon Musk por 40 mil milhões de euros, admitiu nesta quinta-feira que o número de utilizadores diários activos reportado ao mercado, durante os últimos três anos, foi inflacionado em cerca de dois milhões. Tratou-se de um “erro” que resultou de uma modificação na plataforma, diz a empresa no relatório e contas do primeiro trimestre de 2022, divulgado esta quinta-feira.

As contas mostram um aumento da receita em 16%, em termos homólogos, com mais publicidade mas menos assinaturas. No entanto, o resultado operacional volta a ser negativo (128 milhões de dólares), com um aumento de 35% nos custos. Há um ano, o resultado operacional tinha sido positivo em 52 milhões.

O resultado líquido foi, porém, positivo em 513 milhões de dólares, graças à venda da sua plataforma de publicidade para telemóveis, por mil milhões de dólares.

A empresa estima que a guerra na Ucrânia prejudicou as receitas da plataforma, mas salienta um crescimento de 15,9% no número de utilizadores activos diários, para 229 milhões.

No entanto, a informação histórica sobre esta métrica, que é uma das mais relevantes de qualquer rede social, foi corrigida.

“Em Março de 2019, lançámos uma funcionalidade que permitia agregar múltiplas contas, de modo a permitir [que um utilizador] pudesse trocar entre elas de forma célere e eficaz”, lê-se no documento. “Na altura, cometemos um erro e a actividade na conta principal levou a que todas as outras contas agregadas fossem consideradas como activas. Isto resultou numa contagem excessiva do número de contas com actividade diária entre o primeiro trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2021.”

O Twitter acrescentou entre 1,4 milhões e 1,9 milhões de utilizadores diários nos últimos cinco trimestres. Isto resultou numa inflação de 0,7% a 0,9% dos números reais entre Setembro de 2020 e Dezembro de 2021.

O mesmo terá acontecido nos seis trimestres anteriores. Porém, o relatório desta quinta-feira não detalha qual foi a distorção entre Março de 2019 e Setembro de 2020, porque “os dados não estão disponíveis”. A administração estima, no entanto, que “os ajustamentos desse período não devem ser maiores do que os feitos aos números finais de 2020”, quando houve uma contagem excessiva de 1,4 milhões de contas activas por dia.

É a segunda vez que o Twitter admite que exagerou o número de utilizadores, depois de em 2017 ter vindo a público admitir que houve um erro referente aos três anos precedentes. Também nessa altura corrigiu em cerca de dois milhões o número de contas activas diárias para cada trimestre.

Actualmente, cerca de 5% dos 229 milhões de utilizadores diários activos serão contas falsas ou “bots” de distribuição de mensagens não solicitadas (spam).

Em termos comparativos, o desempenho do Twitter neste trimestre está em linha com o dos concorrentes. Facebook ou Snap, que também apresentaram contas esta semana, falharam igualmente as expectativas de receita dos analistas, mas os resultados foram bem recebidos na bolsa graças a um aumento geral dos utilizadores activos nas redes sociais.

As acções do Twitter começaram o dia a subir 1%, depois da divulgação das contas, para cerca de 49 dólares, uma cotação que continua abaixo dos 54,20 dólares por acção que Elon Musk oferece para comprar o Twitter e tirar a empresa da bolsa. O fundador da Tesla quer reformar a rede social, reduzindo a moderação e controlo de conteúdo. Uma intenção que ainda suscita preocupações entre políticos na Europa e nos EUA, bem como entre anunciantes.

Por causa deste negócio, o desta quinta-feira será um dos últimos relatórios de prestação de contas ao mercado. A administração já nem actualizou as suas previsões e perspectivas de curto e médio prazo. E dispensou a conferência habitual com investidores. Mas não abdicou de gerir diariamente os seus clientes, sobretudo os anunciantes.

Percebe-se porquê: cerca de 90% das receitas do Twitter vêm da publicidade. Foram 1100 milhões de dólares entre Janeiro e Março de 2022, mais 23% em termos homólogos. Nos últimos dias, a administração contactou por escrito os principais anunciantes e agências de meios, garantindo-lhes que, apesar do negócio com Musk, a empresa mantém-se atenta à gestão do conteúdo e da publicidade.

Na carta enviada às agências, conta o Financial Times, o Twitter assegura que continuará empenhado em garantir que nenhum anúncio será publicado junto de conteúdo prejudicial ou ofensivo para o anunciante ou para o público.

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