Hospital de São João decide manter circuitos separados e áreas dedicadas à covid nas próximas semanas

A Direcção-Geral da Saúde determinou a desactivação deste tipo de espaços nos hospitais a partir da meia-noite de sábado passado.

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O Hospital de São João decidiu adiar o prazo determinado pela Direcção-Geral da Saúde Paulo Pimenta

Tendo em conta a actual situação da epidemia de covid-19, o Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) decidiu manter nas próximas semanas os circuitos e as áreas dedicadas a doentes respiratórios, nomeadamente a zona “tampão” que funciona em contentores junto ao serviço de urgência, apesar de a Direcção-Geral da Saúde (DGS) ter determinado a desactivação deste tipo de espaços a partir da meia-noite de sábado passado.

Na actualização da norma sobre a “abordagem das pessoas com suspeita ou confirmação de covid-19”, a DGS decretou “a cessação de unidades covid-19 free [livres de covid] e do conceito infra-estrutural de Áreas Dedicadas a Doentes com Infecção Respiratória Aguda (ADR)”que foram criadas para dar resposta à pandemia, a partir das “0h00 de 23 de Abril”.

Mas os responsáveis do centro hospitalar portuense analisaram a situação e concluíram que não devem alterar os circuitos e os procedimentos de imediato. “É uma medida cautelar. Do ponto de vista clínico, faz sentido manter áreas separadas durante mais duas ou três semanas, até porque, provavelmente, ainda vamos ter um crescimento de casos [de covid-19] a seguir à Queima das Fitas”, explicou ao PÚBLICO o director do serviço de patologia clínica do São João, Tiago Guimarães.

O director da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do hospital, Nelson Pereira, já tinha questionado na semana passada “a precipitação, a rapidez e o momento” em que foram anunciadas as mudanças de organização das unidades de saúde na resposta à pandemia, numa altura em que a afluência de doentes com covid-19 e outras doenças respiratórias ainda é elevada no serviço de urgência e o número de casos de infecção está a crescer no país.

Reunidos na terça-feira, os responsáveis clínicos e a administração do hospital de São João concordaram que faz sentido esperar mais algum tempo e não desactivar já os circuitos e áreas dedicadas, tendo em conta que, das pessoas atendidas na área dedicada a doentes respiratórios, “25% são ainda positivas [para SARS-CoV-2]”, explicou Nelson Pereira à RTP. “Entendeu-se que neste momento, para segurança dos doentes, não devíamos alterar circuitos e processos que temos montados desde há muito tempo”, justificou. “O Hospital de São João tem uma estrutura física que não é muito moderna e nós internamos os doentes onde houver vagas. Portanto, essa gestão diária e permanente para garantir que não há doentes internados na urgência exige uma flexibilidade do lado das enfermarias que não se compadece com ter doentes covid espalhados por todos os serviços.”

Recusando que desta forma não esteja a cumprir a norma da DGS, Nelson Pereira explicou mais tarde à Lusa que a DGS, apesar de determinar “a cessação da obrigatoriedade da existência das áreas dedicadas”, estipula em simultâneo “que é necessário que cada serviço de urgência mantenha áreas específicas para doentes suspeitos e confirmados” e “dá liberdade a cada instituição para, avaliando e epidemiologia da doença e as suas condições no momento, fazer as adaptações que forem necessárias”. Nas próximas semanas, será efectuada uma nova avaliação, tendo em conta a evolução da situação epidemiológica.

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge adiantou esta quarta-feira que o índice de transmissibilidade, o R(t), subiu ligeiramente para 1,02, enquanto a média de casos diários aumentou para 9474, e especificou que o R(t) está acima do limiar de 1 no Norte (1.07), no Centro (1,03) e nos Açores (1,05). com Lusa

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