Como tratar os problemas de visão mais comuns?

Os erros refractivos são a causa mais comum de disfunção visual. Um erro refractivo resulta da incapacidade do globo ocular efectuar a adequada refracção da luz.

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"Diferentes abordagens têm sido desenvolvidas no sentido de diminuir a progressão da miopia" David Travis/Unsplash

Todos estarão de acordo com a afirmação de que a visão é o mais importante dos sentidos. Não por sermos do tamanho do que vemos, como escreveu Pessoa através de Caeiro, mas porque 80% da informação que nos chega é recebida através dos nossos olhos. Assim a função visual de cada um de nós assume particular importância e os seus distúrbios têm um grande impacto nas nossas vidas. E vão desde os erros refractivos a patologias tão diversas como a catarata, a diabetes ocular, a degenerescência macular da idade (DMI) ou o glaucoma.

Os erros refractivos são a causa mais comum de disfunção visual. Um erro refractivo resulta da incapacidade do globo ocular efectuar a adequada refracção da luz. Como a luz não se foca correctamente, as imagens não se formam de forma nítida. Esta condição é mais frequente nos centros urbanos e nos países mais desenvolvidos.

Nos jovens assume particular importância a miopia, que podemos considerar a pandemia do século XXI, atingindo hoje 2,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo com uma prevalência crescente estimando-se que em 2050 atingirá 50% da população europeia, o que já acontece hoje no sudeste asiático.

A miopia surge mais frequentemente nas crianças com idades compreendidas entre os 8 e os 12 anos. Durante a adolescência verifica-se um rápido crescimento do corpo e é comum notar-se um agravamento progressivo da miopia que tende a estabilizar após os 20 anos. À luz do conhecimento actual é sugerida a relação com um estilo de vida urbano, entre actividades que exigem mecanismos de focagem para perto como a leitura, utilização de computadores, tablets e telemóveis.

Diferentes abordagens têm sido desenvolvidas no sentido de diminuir a progressão da miopia. Seja através de lentes de contacto e óculos especiais, que incorporam zonas de desfocagem que inibem o crescimento do comprimento axial do olho, responsável pela alta miopia, ou através de colírios que interferem com a acomodação, a capacidade de focar objectos ao perto.

Chegados à idade adulta os míopes poderão, se a avaliação anatómica do olho o permitir, ser submetidos à correcção do seu erro refractivo através de uma cirurgia a laser (LASIK) ou em casos de miopias mais altas pelo implante de uma lente intra-ocular. Sendo importante recordar que todos os altos míopes, acima de seis dioptrias, apresentam um risco aumentado de desenvolver outras patologias oculares, sobretudo na sua retina.

O outro erro refractivo mais frequente é a presbiopia, que atinge 1,8 mil milhões de pessoas em todo o mundo. A presbiopia é a perda progressiva de visão para perto (leitura, telemóvel) e para visão intermédia (computador, tablet) e decorre da disfunção do cristalino que perde a sua capacidade de alterar a sua curvatura para permitir a focagem de objectos ao perto surgido, regra geral, a partir dos 45 anos de idade. É facilmente corrigível com óculos e quando coexiste com outro erro refractivo para longe obriga ao uso de lentes progressivas. A partir dos 50 anos, e sempre se a avaliação exaustiva das condições do olho o permitirem, poderá a presbiopia ser corrigida com a substituição do cristalino por uma lente intra-ocular multifocal. Para os que apenas necessitam de óculos para leitura teremos em breve disponíveis colírios que melhoram essa capacidade e adiam a necessidade do uso de óculos.

Outra causa da diminuição da acuidade visual é a catarata, que ocorre quando o cristalino, a lente natural do olho, perde a transparência e se torna opaco e pode ir de perda visual ligeira até à cegueira, que é evitável nos países desenvolvidos.

Não se conhece a prevalência da catarata em Portugal, mas sabemos que é a causa de 8% de todos os doentes com diminuição da acuidade visual. O tratamento da catarata é cirúrgico, não existindo alternativa e a indicação cirúrgica está relacionada não só com a acuidade visual, mas também com as limitações dos doentes na sua actividade diária e qualidade de vida. A cirurgia tem uma forte componente tecnológica e uma elevadíssima taxa de sucesso, sendo no nosso país anualmente realizadas 150 mil cirurgias de catarata.

O tratamento destas patologias é tanto mais eficaz quanto mais precoce for a sua detecção, pelo que se aconselha a observação periódica em consultas de Oftalmologia.

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