Ciclo Música & Revolução na Casa da Música dedicado ao Maio de 68

Decorrendo entre esta sexta-feira e domingo, o ciclo “pretende traçar uma panorâmica da heterogeneidade musical desse período efervescente, e, integrando exclusivamente obras escritas nesse ano, segue um percurso sinuoso entre estilos, compositores e contextos”.

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O ciclo na Casa da Música arranca esta sexta-feira com Hallelujah, de Mauricio Kagel Paulo Pimenta

O ciclo Música & Revolução, da Casa da Música, no Porto, a decorrer entre sexta-feira e domingo, é este ano dedicado ao Maio de 68, com uma série de concertos que “espelham a pluralidade estética da época”. No texto de apresentação a edição deste ano, a Casa da Música recorda que, no Maio de 68, “o ultrapassar de barreiras políticas, sociais, culturais e sexuais impactou fortemente as artes”. Este ciclo “pretende traçar uma panorâmica da heterogeneidade musical desse período efervescente, e, integrando exclusivamente obras escritas nesse ano, segue um percurso sinuoso entre estilos, compositores e contextos”.

Música & Revolução “mostra o não-alinhamento de obras e compositores numa época em que a poesia estava na rua, da abertura da música erudita a contextos de improvisação, passando pelo estruturalismo influenciado pelos modelos seriais centrados em Darmstadt”.

O ciclo arranca com Hallelujah, de Mauricio Kagel (1931-2008), compositor que “transformou o papel dos músicos na arte contemporânea”. Hallelujah, uma das obras corais mais importantes do compositor argentino, e que “explora a voz e o corpo de forma vibrante”, será interpretada pelo Coro Casa da Música, com direcção musical de Nils Schweckendiek.

Na segunda parte do concerto, será apresentada uma obra de Jean Barraqué para clarinete, vibrafone e ensemble “em que se destaca a timidez dos solistas contra a escrita afirmativa e enfática do agrupamento": “A reminiscência de como melodias e timbres se entrelaçam dá o impulso para a exploração livre de sonoridades, numa obra de vanguarda enraizada na tradição, lê-se no texto de apresentação. A obra será interpretada pelo Remix Ensemble Casa da Música, com direcção musical de Peter Rundel.

Para dia 23 de Abril está marcado o concerto Credo, para o qual “a exploração do contínuo entre som e música dá o mote”. Na primeira parte serão apresentadas obras de Giacinto Scelsi e George Crumb. “O misticismo experimentalista de Scelsi encarna numa obra que recorre a planos tímbricos e dinâmicos contrastantes e simultâneos, num pulsar sonoro em que os músicos participam usando os instrumentos de forma pouco ortodoxa. George Crumb dedicou-se, durante muito tempo, a escrever obras inspiradas pela poesia do espanhol Federico García Lorca. A ideia de morte ressoa em Songs, Drones and Refrains of Death, explorando texto e som numa narrativa vanguardista”, lê-se no texto de apresentação.

As duas obras serão interpretadas pelo Remix Ensemble Casa da Música e pelo barítono Tiago Matos, com direcção musical de Pedro Neves. Na segunda parte do espectáculo são apresentadas obras de Harrison Birtwistle, que morreu esta semana, para quatro solistas e orquestra, e Arvo Pärt, para coro, piano e orquestra.

A Casa da Música lembra que “Birtwistle foi inspirado na teatralidade grega em Nomos” e que naquela obra, “a sobreposição e mutação de blocos sonoros de características distintas é protagonizada por quatro aerofones solistas”. Já na obra Credo, de Arvo Pärt, “as técnicas associadas ao serialismo misturam-se como melodias e harmonias de música barroca numa obra verdadeiramente provocadora”. O concerto, com direcção musical de Stefan Blunier, conta com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, o Coro Casa da Música e o Coro Ricercare.

O ciclo Música & Revolução encerra no dia 24 de Abril, com Caminhos. Na primeira parte, o Coro Casa da Música, com direcção musical de Nils Schweckendiek, interpreta obras de Samuel Barber, que “tinha uma predilecção pela voz humana”, de Henri Pousseur, autor de “música desafiante” e “figura fortemente associada ao serialismo e à escola de Darmstadt”, e “uma das peças experimentais que Cornelius Cardew criou com base em ensinamentos ancestrais do filósofo chinês Confúcio”.

A segunda parte deste concerto “é preenchida por duas obras essenciais dos modernismos vanguardistas”, interpretadas pela Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, com direcção musical de Stefan Blunier: Livre pour cordes, de Pierre Boulez, e Chemins III, para viola e orquestra, de Luciano Berio.

Os concertos decorrem todos na Sala Suggia.

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