Guerra e exportações fazem subir preço do borrego na Páscoa

O Alentejo é a região onde se produzem mais ovinos de carne, existindo nesta zona mais de 1,3 milhões de animais, distribuídos por 6765 explorações pecuárias. Nem o aumento do preço da carne, devido às exportações e aos efeitos da guerra na Ucrânia, diminuiu a procura por esta tradição de Páscoa.

Foto
Nem o aumento do preço da carne diminuiu a procura LUSA/NUNO VEIGA

A tradição ‘à mesa’ na Páscoa passa pelo consumo de borrego e nem o aumento do preço da carne, devido às exportações e aos efeitos da guerra na Ucrânia, diminuiu a procura, segundo representantes do sector no Alentejo.

Na Herdade de Ladrões e Cardiga, em Fronteira, no distrito de Portalegre, o produtor pecuário Pedro Mendes de Almeida explica à agência Lusa que o preço dos borregos tem vindo a atingir valores significativos, sobretudo devido à exportação destes animais para Israel.

NUNO VEIGA
NUNO VEIGA
Fotogaleria
NUNO VEIGA

Para o produtor, que tem cerca de mil ovinos em mais de 500 hectares, a exportação tem provocado o aumento da procura, mesmo que a oferta a nível nacional possa diminuir em algumas alturas, pelo que estas vendas “ajudam” ao preço que tem vindo a ser praticado nos últimos tempos.

“O período mais alto [de vendas] continua a verificar-se até ao Natal e, depois, há um ligeiro decréscimo, mas não é muito acentuado. Ultimamente, tem havido mais homogeneidade no valor de comercialização dos borregos ao longo do ano”, observa.

Até à data, a guerra na Ucrânia ainda não influenciou a actividade deste produtor pecuário, mas situação diferente relata à Lusa a coordenadora do Agrupamento de Produtores Pecuários do Norte Alentejano - Natur-al-Carnes, Maria Vacas de Carvalho. Este agrupamento está a pagar, nesta altura, “acima dos sete euros o preço da carne [de borrego morto]”, enquanto o “consumo se mantém idêntico” aos de anos anteriores, diz.

Face à Páscoa do ano passado, “temos uma diferença de mais 50 cêntimos. No ano passado, estávamos a comprar à volta dos 6,70 euros o quilo [de carne] e, nesta altura, já estamos acima dos sete”, precisa.

Para a responsável, que coordena este agrupamento com cerca de 400 accionistas e que vende cerca 10 mil borregos por ano, a guerra na Ucrânia está a ter “muita influência” no preço destes animais uma vez que o conflito levou a uma ‘escalada’ dos preços dos transportes.

Foto
Maria Vacas de Carvalho NUNO VEIGA

Preço aumento devido ao transporte

“O borrego é produzido no interior do país, sobretudo no Alentejo, e temos sempre de transportá-lo, quer seja vivo, quer seja para os matadouros” para ser abatido, “e o preço é sobretudo devido ao transporte”, cujo aumento “fez com que os preços disparassem”, sustenta.

Como exemplo, antes da guerra, o frete das transportadoras desde o matadouro situado em Tomar (Santarém) para os canais de distribuição custava “50 euros” e, agora, passou para “71 euros”, um aumento na casa dos “40%”, indica Maria Vacas de Carvalho.

Foto
Pedro Mendes de Almeida

À margem desta situação, o produtor Pedro Mendes de Almeida reconhece que os produtores estão a passar por uma boa fase, mas admite que, futuramente, o conflito que se vive na Ucrânia possa vir a ‘causar mossa’. “Até agora sim, estamos” a passar por uma boa fase, mas “há a tal interrogação sobre o que é que se irá passar daqui para a frente”, admite.

Num ano marcado igualmente pela seca, o criador de ovinos reconhece que este factor “teve alguma influência” no desenvolvimento dos borregos, mas só numa determinada altura, agora já não. “Tive alguns custos mais acrescidos, porque tive de suplementar os animais, na altura de Janeiro e Fevereiro. Depois, a dada altura, vieram umas chuvas, pelo menos nesta região, e as coisas melhoraram um bocadinho”, relata.

E, acrescenta, graças a “estas últimas chuvas do final de Março”, a situação “melhorou bastante” e “há disponibilidades alimentares”.

Maria Vacas de Carvalho reitera que a seca “teve influência” no desenrolar da actividade, mas insiste que, nesta altura, o aumento do preço da carne de borrego, com “fortes tradições à mesa” na época da Páscoa, deve-se à guerra.

NUNO VEIGA
Fotogaleria
NUNO VEIGA

“A seca já teve influência, porque tínhamos os produtores a quererem tirar rapidamente os animais do campo, porque não tinham alimentação” para lhes dar. Neste momento, “já não é o problema da seca na produção destes animais, mas é a guerra”, frisa.

De acordo com o site da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), o Alentejo é a região do país onde se produzem mais ovinos de carne, existindo nesta zona mais de 1,3 milhões de animais, distribuídos por 6765 explorações pecuárias.

Sugerir correcção
Comentar