Palácio da Brejoeira, uma autêntica jóia da coroa

Um palácio do início do século XIX, um bosque desenhado e “construído” um século depois e vinhas de alvarinho nascidas nos anos 1960. Dois séculos de história, mantida viva pela mão de diferentes proprietários, em Monção.

#JSN_Palacio_da_Brejoeira_Moncao_em_Portugal
Fotogaleria
O Palácio da Brejoeira, em Monção, foi construído na primeira metade do século XIX Jose Sergio / PUBLICO
#JSN_Palacio_da_Brejoeira_Moncao_em_Portugal
Fotogaleria
O edifício da adega foi construído para ser igreja, mas nunca terá recebido celebrações religiosas. Jose Sergio / PUBLICO
#JSN_Palacio_da_Brejoeira_Moncao_em_Portugal
Fotogaleria
A Avenida dos Plátanos chegou a ter 200 metros, mas foi encurtada para dar lugar a uma parcela de vinha. Jose Sergio / PUBLICO

Há quem faça quilómetros para visitar o Palácio da Brejoeira. Mal se atravessa o portão da quinta, à face da estrada que liga Monção a Arcos de Valdevez, percebe-se porquê. Ao fundo, o imponente edifício em granito e em forma de L, com três torreões e desenho típico do início do século XIX, faz-nos viajar no tempo.

A visita ao palácio de estilo neoclássico começa naquele que é hoje o átrio principal, pelo teatro privado que o segundo proprietário, Pedro Araújo, à época presidente da Associação Comercial do Porto, mandou construir no início do século XX.

O Palácio da Brejoeira começou a ser feito em 1806, por Luís Pereira Velho de Moscoso, fidalgo da Casa Real, e “demorou 28 anos” a ser concluído, conta Cláudia Fernandes. A relações públicas explica que a obra “foi condicionada pelas Invasões Francesas” e que “o seu mandatário faleceu antes” de ela terminar. “Quem viria a usufruir do palácio seria o seu filho Simão.” Este faleceu em 1881, sem descendência. O palácio foi herdado por duas famílias de Lisboa e vendido a Pedro Araújo, conselheiro de D. Manuel II.

Oficialmente, só o infante D. Afonso, irmão de D. Carlos, pernoitou no quarto do rei. Todas as "casas grandes tinham de ter um quarto [para o rei]", explica Cláudia Fernandes.
O branco Palácio da Brejoeira teve a sua primeira colheita em 1976.
Na sala do rei, um retrato de D. João VI parece seguir os visitantes com o olhar.
Fotogaleria
Oficialmente, só o infante D. Afonso, irmão de D. Carlos, pernoitou no quarto do rei. Todas as "casas grandes tinham de ter um quarto [para o rei]", explica Cláudia Fernandes.

Por entre salas e salões

Pedro Araújo é o nome que mais vezes se ouve na visita, a par do de Hermínia d’Oliveira Paes, a última proprietária, falecida em 2015. Pedro Araújo electrificou o palácio – “Foi a primeira casa a ter luz na região, seis anos antes de todas as outras” – e fez os mais importantes restauros. Hermínia impulsionou a produção de vinho alvarinho nos anos 1960 e, quando tinha 92 anos, em 2010, abriu o palácio ao enoturismo.

O pai de Hermínia comprou a propriedade a Pedro Araújo para lha oferecer pelo seu 18.º aniversário. Pessoa reservada, Hermínia viveu sempre no palácio, numa ala privada. Não interagia muito com os visitantes e só partilhava histórias do passado com os mais próximos. Algumas dessas histórias foram compiladas no livro Palácio da Brejoeira – Dois séculos de história.

Passado o jardim de Inverno, surgem vários salões decorados com peças únicas e luxuosas, de estilo império e oriental. Na biblioteca, o tecto foi projectado por Marques da Silva. Na sala do rei, um quadro de D. João VI – que autorizou a construção do palácio, mas não chegou conhecê-lo, dada a sua fuga para o Brasil – parece seguir os visitantes com o olhar.

No quarto do rei, oficialmente, só pernoitou o infante D. Afonso. “D. Carlos enviou o irmão para entregar o documento da classificação de monumento nacional. É o único que temos registo de aqui ter dormido”, conta Cláudia Fernandes. No entanto, continua, “era obrigatório”, “as casas grandes tinham de ter um quarto” para o rei.

Foto
A visita aos jardins da Brejoeira visita vale muito a pena pelo frondoso bosque e pelo lago, onde há uma ilha, grutas e uma ponte ao estilo romano.

Vinhos históricos e jardins frondosos

Quem quiser explorar para além do palácio tem de combinar dois programas. O Programa Património corresponde à visita ao palácio.​ E o Programa Quinta permite passar nas vinhas, na adega e no lago. A quinta tem hoje 28 hectares dentro de muros, 18 dos quais plantados com alvarinho, que é usado em três referências: vinho branco (80 mil garrafas, 19 euros), aguardente vínica velha (mil garrafas numeradas, 99 euros) e aguardente bagaceira (45 euros), feita segundo método ancestral. “O bagaço é destilado húmido em potes de cobre e com fogo.”

O edifício da adega foi construído para ser igreja, mas nunca terá recebido uma celebração religiosa. O palácio tem uma capela, essa sim, lugar de culto religioso, mais ou menos regular até 2010. Aí vemos o símbolo da maçonaria, a que Pedro Araújo pertencia. Será única a sua arquitectura, por causa do varandim, no terceiro anel da torre, onde os criados do palácio podiam assistir à missa.

O Programa Quinta também passa pelas primeiras cepas. Em frente à antiga entrada principal, na ala norte, do outro lado do Jardim das Camélias, fica a Avenida dos Plátanos, que chegou a ter 200 metros, mas ficou mais curta para dar lugar à tal parcela de alvarinho. Três hectares plantados em 1964, que ainda contribuem para o vinho feito pelo enólogo João Garrido. A primeira colheita da marca Palácio da Brejoeira foi 1976.

A visita vale muito a pena pelo frondoso bosque e pelo lago, onde há uma ilha, grutas e uma ponte ao estilo romano, tudo construído artificialmente. No bosque, há plátanos, tílias – que dão origem a infusões várias –, carvalhos, eucaliptos, pinhos, freixos, magnólias e algumas espécies exóticas, como araucárias, cedros-do-atlântico e sequóias.

O Palácio da Brejoeira é hoje gerido por uma sociedade anónima que Hermínia d’Oliveira Paes criou em 1999 com pessoas da sua confiança, entre elas Emílio Magalhães, sócio maioritário e actual administrador. E está à venda. Uma verdadeira jóia da coroa, avaliada em largos milhões de euros.

Palácio da Brejoeira, em Monção
Palácio da Brejoeira, em Monção
Fotogaleria
Palácio da Brejoeira, em Monção

Palácio da Brejoeira
Pinheiros (Monção)
Tel.: 251666129
Web: palaciodabrejoeira.pt
Todos os dias, das 9h às 12h30 e das 14h às 18h30. Programa Património (7,50 euros) a cada meia hora. E Programa Quinta (5 euros) às 11h e às 16h. Para língua estrangeira, é preciso reservar horário.
Provas a partir de 2,50 euros


Este artigo foi publicado no n.º 4 da revista Singular.

Sugerir correcção
Comentar