Milhares de civis podem ter morrido no último mês em Mariupol, alerta a ONU

“Pensamos que poderá haver milhares de mortos, de baixas civis, em Mariupol”, disse a chefe da missão de direitos humanos da ONU na Ucrânia.

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Prédio em Mariupol Reuters/ALEXANDER ERMOCHENKO

Milhares de civis poderão já ter morrido na cidade portuária sitiada de Mariupol, no sul da Ucrânia, desde que os bombardeamentos começaram há quatro semanas, anunciou a chefe da missão de direitos humanos da ONU à agência Reuters esta terça-feira, apresentando a sua primeira estimativa da organização, mesmo que ainda sem números definitivos.

Na segunda-feira, um porta-voz do presidente da câmara, Vadim Boichenko, afirmou que cerca de 5000 pessoas, incluindo cerca de 210 crianças, foram mortas em Mariupol desde que as forças russas cercaram a cidade há um mês. O seu gabinete revelou que 90% dos edifícios de Mariupol foram danificados e 40% destruídos, incluindo hospitais, escolas, infantários e fábricas.

As autoridades locais estimaram na semana passada que cerca de 300 pessoas foram mortas no ataque a um teatro de Mariupol, a 16 de Março, onde várias pessoas procuravam abrigo.

“Pensamos que poderá haver milhares de mortos, de baixas civis, em Mariupol”, disse Matilda Bogner, chefe da missão de direitos humanos da ONU na Ucrânia, numa entrevista por videoconferência. Bogner acrescentou que as Nações Unidas não têm uma estimativa precisa, mas que estão a trabalhar para recolher mais informações.

Na semana passada, Matilda Bogner disse que a ONU tinha recebido mais informações acerca das valas comuns em Mariupol, incluindo uma que parecia conter 200 corpos. “Acerca das valas comuns, decidimos que deveríamos chamá-las de ‘valas improvisadas'”, disse Bogner na terça-feira. Isto porque o termo “valas comuns” pode implicar vítimas de um crime, enquanto as mortes que se registaram em Mariupol se devem a uma série de causas, disse Bogner.

A chefe da missão de direitos humanos da ONU acrescentou ainda que acreditam que as vítimas civis do conflito sejam uma “porção bastante pequena” dos corpos nas sepulturas improvisadas, já que algumas pessoas que morreram naturalmente não chegaram a ser levadas para morgues ou sepulturas individuais devido à guerra. Não ficou claro se nas sepulturas improvisadas estão corpos de militares.

“Ataques à saúde devem parar”, pede OMS

Em entrevista ao PÚBLICO, Tarik Jašarević, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS) que se encontra em Dnipro, no Leste da Ucrânia, explica que a interrupção dos serviços e a falta de suprimentos “representa um risco extremo para pessoas com doenças cardiovasculares, cancro, diabetes, VIH e tuberculose, que estão entre as principais causas de morte na Ucrânia”.

“Estima-se que 1% da população na Ucrânia – ou 250.000 pessoas – vive com VIH. O acesso a medicamentos anti-retrovirais é essencial para manter as suas infecções controladas. Pouco mais de metade, cerca de 130.000 pessoas, estavam em tratamento anti-retroviral antes da guerra, incluindo mais de 2700 crianças. Estas pessoas correm risco se o seu acesso a medicamentos essenciais for interrompido”, disse.

Para o porta-voz, “os ataques à saúde devem parar. Sistemas de saúde, instalações e profissionais de saúde nunca deveriam ser um alvo. Eles devem permanecer protegidos, funcionais, seguros e acessíveis a todos aqueles que precisam de serviços médicos essenciais”.

De acordo com Jašarević, o sistema de saúde de Mariupol está “à beira do colapso”, já que a guerra tem afectado tanto os profissionais de saúde, como as infra-estruturas, paralisando a prestação de serviços críticos de saúde. “No Hospital Municipal n.º4, por exemplo, apenas 10% da capacidade de quase 100 funcionários ainda está alegadamente disponível”, explicou.

Até dia 24 deste mês a OMS “entregou cerca de 158 toneladas métricas de suprimentos médicos para apoiar traumas, cirurgias e cuidados primários de saúde na Ucrânia”, disse o porta-voz da organização. No entanto, os carregamentos que têm Mariupol como destino “permanecem nas zonas intermediárias e não podem prosseguir”.

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