Portugal deixa de ter zonas em seca extrema após chuvas de Março

Mais de 60% de Portugal continental estava em situação de seca extrema no final de Fevereiro. Agora, as chuvas de Março permitiram que as barragens armazenassem mais água e que já não haja zonas em seca extrema – mas a seca continua a ser um problema em quase todo o território.

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A barragem do Alto Rabagão foi uma das mais afectadas pela seca do início do ano Miguel Manso

As chuvas de Março permitiram que Portugal deixasse de ter grande parte do território em seca extrema. Agora, a precipitação permitiu recuperar os níveis de muitas albufeiras e há apenas 16% do território em seca severa, segundo os dados avançados pelo vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado. A informação foi revelada após uma reunião do grupo de trabalho da Comissão Permanente da Seca, em que se avaliou a situação meteorológica e o armazenamento das barragens.

O país tem ainda a maior parte do seu território em seca moderada (82%) e 2% em situação de seca fraca. As chuvas de Março estiveram acima da média, “com uma particularidade: choveu mais no Sul do que no Norte”, indica o vice-presidente da APA.

Certo é que “a seca continua a ser um problema”, diz ao PÚBLICO José Pimenta Machado. “É verdade que as chuvas de Março nos dão uma maior tranquilidade e é uma boa notícia, mas aquilo que o futuro nos reserva é que vamos ter menos água” – ainda mais num cenário em que as alterações climáticas estão em jogo.

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Foz de Alge, Figueiró dos Vinhos Miguel Manso

Por isso, há que “nos adaptarmos a esta nova realidade”: é preciso “ser mais eficientes”, é preciso poupar água, reduzir perdas em sistemas urbanos e em sistemas de rega agrícola. O vice-presidente da APA considera também relevante “encontrar novas origens de água”, como a rega de espaços verdes com águas residuais ou a central de dessalinização que está prevista para a região do Algarve.

Um início de ano sem chuva

No final de Fevereiro, mais de 60% do território estava em situação de seca extrema, segundo os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). A falta de chuva no início do ano fez com que o mês de Janeiro fosse o mais seco desde 1931 e o mês de Fevereiro o terceiro mais seco desde o mesmo ano. A escassez de água levou o Governo a suspender a actividade hidroeléctrica de algumas barragens, que estavam com pouca água, para assegurar o consumo das populações locais.

A situação nas barragens também melhorou em Março, “ainda que de modo assimétrico”. Há uma boa recuperação em algumas bacias hidrográficas, como a do Tejo. “São bons indicadores, dão-nos uma maior resiliência e uma maior segurança para assegurar aquilo que é a grande origem de água para toda a região de Lisboa”, diz ainda ao PÚBLICO José Pimenta Machado. Também houve melhorias no Mondego e no Sotavento algarvio, “uma bacia a destacar”: a Barragem de Odelouca “encaixou 14 hectómetros cúbicos, que é um valor muito significativo e corresponde a cerca de 10% daquilo que são as necessidades do Algarve para consumo”.

Apesar da melhoria na situação de seca, a produção hidroeléctrica mantém-se suspensa nas barragens do Alto Lindoso/Touvedo, Alto Rabagão, Vilar/Tabuaço, Cabril e Castelo de Bode, afirmou o vice-presidente da APA à Rádio Renascença e confirmou ao PÚBLICO. Também se mantém a restrição na Barragem de Guilhofrei, na bacia hidrográfica do Ave. “A situação actual ainda não nos permite levantar estas restrições”, mas a avaliação continua a ser feita, admite José Pimenta Machado.

A 15 de Março, data da última actualização feita pelo IPMA, 26,8% do território estava em seca extrema, 50,4% em seca severa, 18,9% em seca moderada e 3,9% em seca fraca. O IPMA ainda não revelou o relatório de monitorização da seca com os novos dados.

Quanto aos próximos dias, o final de Março continuará a ter chuva em grande parte do país e prevêem-se valores de precipitação “acima do normal” sobretudo nas regiões do Centro e Sul, refere o IPMA. Nos primeiros dias de Abril, também as regiões Norte e Centro terão valores de precipitação acima do normal – mas ainda não é possível saber se Abril será um mês de “águas mil”.

Segundo os dados disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), já em Fevereiro se notava uma melhoria da capacidade de armazenamento das águas em barragens: no final do mês, houve um “aumento do volume armazenado em sete bacias hidrográficas e uma descida em cinco” bacias. Das 60 albufeiras monitorizadas, sete tinham disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, mas havia ainda 13 com disponibilidades inferiores a 40% do volume total. As bacias hidrográficas do Lima e do Barlavento algarvio eram aquelas que estavam em situação mais crítica.

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