Na Rússia, a invasão reflecte-se na saúde mental da população

O consumo de medicamentos antidepressivos pelos russos desde o início da guerra disparou e há muitos relatos de degradação da saúde mental da população.

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Estudo da Gallup mostra queda da felicidade dos russos desde o início da invasão YURI KOCHETKOV / EPA

Os russos intensificaram a compra de antidepressivos e de medicamentos para dormir desde o início da invasão da Ucrânia, de acordo com dados revelados nos últimos dias. O padrão de compras indica um aumento do nervosismo e tristeza entre a população, motivado pelas notícias da guerra no país vizinho e pelo isolamento económico decorrente das sanções aplicadas por vários países ocidentais.

A blogger moscovita Sasha, de 26 anos, combatia há três anos uma depressão e recentemente começava a ver os primeiros progressos, segundo contou ao jornal Moscow Times. Tudo mudou assim que o seu país lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia, a 24 de Fevereiro. “Tive uma recaída, voltei à depressão e a ter pensamentos suicidas”, diz a russa ao jornal.

Um misto de desolação pelo drama humano infligido pela Rússia à população do país vizinho e pelo isolamento económico, político e cultural das últimas semanas tem levado uma considerável parte da população russa a agudizar problemas de saúde mental.

A Gallup, empresa norte-americana de opinião pública, tem monitorizado a actividade dos russos na rede social Twitter e verificou uma queda acentuada de mensagens positivas depois do início da invasão, com uma subida da utilização de palavras como “envergonhado”, “assustador” e “contra” pelos utilizadores russos.

Aliya Miftakova, de 25 anos, já sofria de transtorno bipolar, mas desde que a invasão começou os sintomas de perturbação acentuaram-se. “Começo todos os dias a ver as notícias, apenas vendo o feed de várias publicações enquanto me sinto totalmente incapaz e frustrada”, disse ao Moscow Times.

Entre 28 de Fevereiro e 6 de Março, as vendas na Rússia de antidepressivos e medicamentos para controlar a ansiedade quadruplicaram face ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados da farmacêutica DSM, citados pelo jornal Kommersant.

De uma forma geral, a compra de medicamentos e produtos farmacêuticos disparou desde que a invasão começou – entre 28 de Fevereiro e 13 de Março, foram comprados tanto medicamentos como durante todo o mês e Janeiro, segundo a DSM. Mas entre os produtos mais comprados estão medicamentos antidepressivos, comprimidos para dormir, mas também insulina, medicamentos para tratamento de cancro e doenças cardíacas e contraceptivos.

Uma das razões para a corrida aos medicamentos terá sido o receio de que as sanções impostas pelo Ocidente pudessem comprometer o fornecimento destes produtos, nalguns casos essenciais para tratar doenças crónicas que requerem uma toma diária. “O primeiro receio era de que tudo poderia ficar mais caro e o segundo receio era de que os medicamentos necessários poderiam não estar disponíveis durante algum tempo”, explicou à Reuters o director-geral do Grupo DSM, Sergei Shuliak.

“Esses receios moveram as pessoas, ficaram em filas nas farmácias e compraram tudo”, acrescentou.

O responsável prevê que a situação nas farmácias venha a estabilizar assim que as farmacêuticas russas consigam começar a produzir medicamentos genéricos, mas nota que muitos fornecedores estrangeiros mantêm as vendas para a Rússia, embora a preços mais elevados.

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