Artistas Unidos reúnem-se em Abril com Câmara de Lisboa sobre despejo do Teatro da Politécnica

A Reitoria da Universidade de Lisboa não pretende renovar o contrato de arrendamento com a companhia, que a partir de Fevereiro de 2023 ficará assim sem casa.

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Os Artistas Unidos estão no Teatro da Politécnica desde Outubro de 2011 RUI GAUDÊNCIO

Os Artistas Unidos vão reunir-se a 6 de Abril com responsáveis da Câmara de Lisboa, na sequência da indicação de que o contrato de arrendamento do Teatro da Politécnica, onde estão instalados desde 2011, expirará em Fevereiro de 2023, adiantou à agência Lusa fonte da companhia.

Cinco dias antes da morte do director e fundador dos Artistas Unidos, Jorge Silva Melo, no passado dia 14, a companhia foi informada pelo reitor da Universidade de Lisboa de que esta não tinha pretensão de lhe renovar o contrato, dissera na quarta-feira, também à Lusa, o actor e encenador João Meireles, sócio e co-fundador da companhia.

Segundo João Meireles, o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, alegou que necessitava daquele espaço para instalar outros serviços. A Lusa contactou a Reitoria da Universidade de Lisboa, não tendo ainda obtido resposta.

“Este mês tem sido um mês de desagradáveis surpresas, tem sido um pavor”, dizia João Meireles à Lusa, aludindo também à morte do fundador da companhia, aos 73 anos. “Tem sido pesado para este grupo de pessoas e para tantas outras pessoas que estão à nossa volta e são nossas amigas”, frisou.

Os Artistas Unidos encontram-se no Teatro da Politécnica desde 2011, na sequência de um contrato que vem sempre sido renovado com a Universidade de Lisboa. No início, o contrato era de três anos e, depois, passou a ser de dois, observou João Meireles.

“Ficamos, mais uma vez, desde que saímos de A Capital, com a casa às costas”, sublinhou o actor e encenador.

Na quarta-feira, este sócio, actor e encenador dos Artistas Unidos referiu ainda que, “num momento informal”, já tinha falado com o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa sobre a decisão da Reitoria, e que aquele ficara de “se reunir brevemente” com a companhia.

Uma situação “que não é nova”, lembrou. “É só uma repetição do que já aconteceu e tem acontecido desde que saímos de A Capital, há 20 anos”, observou, numa alusão à data de 29 de Agosto de 2002, quando a Câmara de Lisboa, então presidida por Pedro Santana Lopes, obrigou o grupo a sair do edifício A Capital, no Bairro Alto. “Aparentemente, estaria na cabeça de toda a gente que os Artistas Unidos teriam o problema resolvido, mas, de facto, temos vindo a resolvê-lo a cada renovação de contrato e sempre nesta precariedade de haver um contrato que não é renovado”, indicou.

Quando a companhia foi obrigada a sair de A Capital, houve um “compromisso” da autarquia de Lisboa no sentido de se encontrar “uma solução duradoura, estável e digna”. “Passaram 20 anos e ainda não está resolvido”, disse João Meireles, contando que a companhia está a viver “uma aflição”. “Porque temos um projecto que se tornou sólido, viável, com o Jorge [Silva Melo], que, entretanto, formou esta equipa e esta força de trabalho e de produção e de criação e que, sem um espaço, não tem viabilidade”, referiu.

“Não me passa pela cabeça que os Artistas Unidos fiquem confinados a um escritório e a produzir para quem os queira acolher”, frisou. Se tal acontecer, “é uma perda de identidade, uma perda de lugar que não conseguimos admitir, obviamente”, concluiu, sublinhando que, “quando desaparece esta figura tutelar que era o Jorge Silva Melo, tudo se desmorona quase como se não tivesse existido”.

Os Artistas Unidos formaram-se a partir do grupo que estreou, em 1995, António, um Rapaz de Lisboa. O Fim ou tende misericórdia de nós, Prometeu, de Jorge Silva Melo, A Queda do Egoísta Johann Fatzer, de Brecht, e Coriolano, de Shakespeare, foram algumas das produções com que deram os primeiros passos.

Peças das principais dramaturgias contemporâneas, de dramaturgos como Sarah Kane, Gregory Motton, Jon Fosse, David Harrower, Mark O"Rowe, Xavier Durringer, Spiro Scimone, e dos portugueses José Maria Vieira Mendes, Rui Guilherme Lopes e Francisco Luís Parreira, têm sido apostas da companhia. O mesmo se verifica com clássicos como Melville, Kleist, Kafka, e com obras de autores como Samuel Beckett e Harold Pinter, que marcaram o teatro contemporâneo, e que foram também levados à cena em perto de 30 estreias, vários acolhimentos e co-produções, seminários e leituras encenadas, como as dedicadas ao teatro escocês e neerlandês, e às obras de Sarah Kane, Arne Sierens e Antonio Onetti.

Com o fecho d"A Capital, os Artistas Unidos mudaram-se para o Teatro Taborda, onde permaneceram até Junho de 2005. Em 2006, depois de ter renunciado à utilização do Teatro Taborda, a companhia dirigida por Jorge Silva Melo esteve instalada no antigo Convento das Mónicas. Além de espectáculos e filmes, os Artistas Unidos organizam também exposições e são igualmente responsáveis pela colecção Livrinhos de Teatro, de início em colaboração com a editora Cotovia e, desde Março de 2021, com a Snob.

Num comunicado enviado esta quarta-feira à imprensa, os Artistas Unidos, interrogam: “Como vamos sobreviver sem um espaço se para o concurso quadrienal é esse um dos requisitos? Como vamos assegurar produções e compromissos com terceiros? De que forma podemos continuar? Ainda não acabámos. Somos os Artistas Unidos, actores, encenadores, escritores, cenógrafos, produtores e gostávamos de continuar a fazer teatro.”

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