Medicamentos mais baratos em risco de sair das farmácias

O aumento de custos está a diminuir as margens de comercialização, alerta associação que representa a indústria farmacêutica.

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Custos relacionados com a produção e distribuição de medicamentos subiram 30% entre 2017 e 2020 Rui Gaudencio

O alerta foi deixado pela Apifarma, associação que representa a indústria farmacêutica. O aumento de custos está a diminuir as margens de comercialização dos medicamentos e os mais baratos correm o risco de poder sair de comercialização. O contexto de guerra está a agravar um problema há muito identificado pelas empresas e que também já originou alertas da Apogen – associação que representa indústria farmacêutica que produz medicamentos genéricos – e da associação representante dos dispositivos médicos.

“Com os aumentos que estamos a ver, em termos de energia, transportes, dificuldades de abastecimento, mão-de-obra e com um custo final tabelado, a margem pode deixar de interessar”, disse ao Jornal de Notícias António Chaves Costa, vogal tesoureiro da Apifarma. O mesmo explicou que os medicamentos com maior risco de desaparecerem são aqueles que já têm preços baixos, pouco volume de vendas e nos quais há dificuldades de aprovisionar matéria-prima.

O representante adiantou que as empresas farmacêuticas estão a trabalhar no sentido de identificar as situações mais críticas e as áreas terapêuticas em maior risco para apresentar propostas concretas ao Governo. “Estamos na fase de caracterizar melhor a situação para sermos mais objectivos na proposta”, disse.

Um estudo realizado para a Apifarma no ano passado revelou que os custos relacionados com a produção e distribuição subiram 30% entre 2017 e 2020. Como os preços dos medicamentos são regulados, este aumento de custo não pode ser reflectivo no valor. A solução é o mecanismo de revisão excepcional de preços, previsto na lei, um “processo é burocrático e moroso”, o que levou a Apifarma a pedir a agilização do processo. Ao Jornal de Notícias, António Chaves Costa disse que era igualmente importante “descongelar” a proibição de subida dos preços dos medicamentos mais baratos, à semelhança do que outros países fazem.

Mais alertas

Há uma semana, também a Apogen alertou para o impacto da subida dos custos. Em comunicado, a presidente Maria do Carmo Neves afirmou que “a pandemia agudizou uma série de vulnerabilidades que contribuíram para uma espiral crescente dos custos de produção e o impacto da guerra na Ucrânia está a ter um efeito exponencial no aumento dos custos.” “Existe o risco de comprometer a manutenção de muitos medicamentos no mercado, trazendo inevitáveis consequências no acesso e na geração de valor em saúde”, alertou, acrescentando ser “urgente rever o modelo de preço e comparticipação, que força a uma descida abrupta do valor dos medicamentos genéricos e biossimilares, não cobrindo, muitas vezes, os custos de produção”.

Também a Associação Portuguesa das Empresas de Dispositivos Médicos (Apormed) manifestou preocupação com os efeitos da subida da taxa de inflação na saúde, numa nota enviada à imprensa na semana passada. No documento, alertou para o “impacto que pode ter no aumento dos custos dos factores de produção e consequente abastecimento regular dos dispositivos médicos às instituições de saúde”.

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