Harmonie quer mais raparigas (como ela) a pegar no skate no Gana

Harmonie Bataka, de 27 anos, decidiu despedir-se do emprego e seguir a sua paixão: o skate. Depois de se juntar ao Skate Gal Club, encontrou um grupo de skaters do sexo feminino e, actualmente, dá aulas a mulheres e meninas.

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Reuters/FRANCIS KOKOROKO
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Com o pôr do Sol atrás, Harmonie Bataka desce de skate, em curvas largas, uma rua vazia nos subúrbios de Acra, no Gana, com apenas um grupo de pessoas que se dirigem para a igreja. Os domingos costumavam ser a única altura em que Harmonie, de 27 anos, conseguia andar de skate, quando as ruas estavam silenciosas e não tinha de trabalhar. Isso foi antes de se ter despedido do emprego, em 2021, para prosseguir com o desporto a tempo inteiro, o que desanimou os amigos e a família.

“Eles disseram que havia muitos rapazes a fazê-lo, rapazes que eram demasiado bons para eu conseguir ganhar qualquer competição… mas não quis saber”, conta, abrigando-se do sol na sombra de um edifício inacabado. “Só queria ser livre de fazer o que adoro”, acrescenta. “É muito necessário e importante, senão este mundo acaba por te quebrar.”

O skate é um desporto marginal na África Ocidental, especialmente para raparigas. Em 2018, menos de 17% dos skaters que praticavam semanalmente eram mulheres, de acordo com dados globais do Grand View Research.

A jovem de 27 anos não conhecia mais nenhuma skater quando começou a praticar este desporto. Contudo, actualmente, está no centro de um cenário próspero, graças, em parte, ao primeiro parque de skate no Gana, inaugurado no final de 2021. Agora, ensina a tempo inteiro a sua paixão a mulheres e a raparigas.

Através do Skate Gal Club, fundado por um colectivo local de desportos radicais, a skater encontrou um grupo próximo de mulheres que se apoiam para lá da modalidade: partilha de receitas, dicas de jardinagem, conselhos de saúde mental, entre outros.

Essa conexão consolidou o seu desejo de reorientar a vida à volta do desporto. “Eu sentia-me verdadeiramente confortável”, diz. “É disso que se trata o Skate Gal Club.”

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Harmonie Bataka Reuters/FRANCIS KOKOROKO

O skate é um dos desportos que têm tido maior crescimento no mundo, mas a popularidade em África não está nos níveis internacionais. Ainda existem poucos parques de skate no continente e apenas três dos 80 skaters que competiram nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio – os primeiros a incluir o desporto –, eram africanos.

O Parque de Skate Freedom, com 500 metros quadrados, foi concluído em Dezembro de 2021 com o apoio da Wonders Around the World, uma organização não-governamental que constrói parques de skate em países em desenvolvimento, e de Virgil Abloh, um designer da Louis Vuitton cujos pais eram imigrantes do Gana.

As rampas de cimento do parque recebem um número crescente de skaters todas as semanas. Aí é possível alugar skates e equipamento de segurança ou marcar aulas particulares dadas por alguém como Harmonie.

O Skate Gal Club também cresceu e o parque de skate está aberto, todas as quintas-feiras, exclusivamente para mulheres e raparigas, que podem usar o equipamento e ter aulas gratuitamente. Estes dias só para mulheres têm sido particularmente impactantes para novas skaters, como Leila, de quatro anos, uma das alunas mais jovens de Harmonie.

Leila já conseguiu conquistar uma das rampas mais altas do parque e a sua mãe, Myriam, diz que, para ela, tem sido importante ver raparigas a praticarem o desporto. “É simplesmente tão bom haver um lugar para as meninas seguirem os exemplos umas das outras”, afirma Myriam. “Ela disse-me na última vez: ‘Oh, mesmo sendo rapariga, posso fazer isto?’… E eu disse: ‘Sim, Leila, podes fazer tudo’.”

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Harmonie espera que estas sessões no feminino encorajem mais mulheres do Gana a experimentarem o skate. As aulas que aprendeu sobre coragem e perseverança são valiosas. “Só precisas de matar o medo. Caindo uma vez, já pressentes a pior coisa que poderia acontecer… Tu continuas apenas porque queres ser melhor.”

Harmonie carregou essa mentalidade enquanto andava pela vizinhança no dia de folga. Um rapaz de olhar arregalado observava por detrás de uma cerca enquanto a skater, numa berma, fazia uma manobra em que os pés e o skate se elevavam do chão ao mesmo tempo e um casal sorridente via da montra de uma loja.

Quando uma mãe com leggings de ioga atravessou o relvado para lhe contar como estava impressionada com as suas aptidões de skate, Harmonie sorriu e indicou-lhe o Parque de Skate Freedom.