A lutar contra a extradição para os EUA, Julian Assange casou na prisão

A notícia do matrimónio foi avançada pela sua companheira desde 2011. “Isto não é um casamento na prisão, é uma declaração de amor e resiliência apesar dos muros da prisão”, escreveu Stella Moris.

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O casamento atraiu a atenção de manifestantes pela libertação de Assange EPA/DAVID CLIFF

O australiano fundador do WikiLeaks, que se encontra sob a custódia das autoridades britânicas há três anos, depois de ter passado sete anos refugiado na Embaixada do Equador em Londres, casou, esta quarta-feira, com a sua companheira dos últimos 11 anos, Stella Moris, uma advogada sul-africana que, um ano depois de ter conhecido Assange, mudou de nome para se proteger. Em comum, os dois têm dois filhos, Gabriel e Max.

“Hoje é o dia do meu casamento”, escreveu Stella Moris no The Guardian​. E continua: “Vou casar com o amor da minha vida. (...) Hoje, à hora do almoço, atravessarei os portões da prisão de alta segurança mais opressiva do país (Belmarsh, no Sudeste londrino)​ para casar com um prisioneiro político, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange.”

O enlace terá contado com a presença de quatro convidados, duas testemunhas e dois seguranças, mas não pôde receber as testemunhas e o fotógrafo que o casal apresentou como primeira escolha pelo facto de trabalharem na imprensa. “Que absurdo. Que tipo de ameaça de segurança poderia representar uma fotografia de casamento?”, questiona Moris no The Guardian.

A noiva acrescenta ainda que o seu vestido foi “desenhado pelos amigos de Julian, dame Vivienne Westwood e Andreas Kronthaler”. “Sinto-me honrada por estar a usar a sua bela criação. É um símbolo do nosso amor e desafio face a esta situação cruel.”

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O vestido de noiva de Stella Moris foi desenhado por Vivienne Westwood e Andreas Kronthaler Lusa/DAVID CLIFF

Prisioneiro X

No mesmo texto, a advogada, que tornou a relação pública, chama a atenção para o processo de desumanização de Julian Assange, que não aparece em público há três anos, tendo-lhe sido negada a autorização para comparecer em tribunal nas audiências do seu caso. “A forma como ele está a ser tratado é cruel e desumana, e o público não gosta disso. Por isso, as autoridades escondem-no do público”, denuncia Stella Moris. “Julian está a ser transformado num prisioneiro X, uma abstracção que não é vista nem ouvida, e portanto inexistente.”

Assange, de 50 anos, tornou-se globalmente conhecido depois de ter co-fundado o site de denúncias Wikileaks que, quatro anos depois, difundiu um vídeo em que mostrava soldados americanos a disparar contra civis no Iraque, entre outros 500 mil documentos secretos sobre a guerra no Iraque e no Afeganistão. O australiano chegou a ser nomeado para Nobel da Paz, mas, pelo meio, a Suécia emitiu dois mandados de prisão pelos crimes de violação e agressão sexual e a Interpol distribuiu em 188 países um aviso vermelho sobre si.

Em 2012, Assange via-se forçado a pedir asilo junto da diplomacia equatoriana, depois de a justiça britânica ter ditado a sua extradição para a Suécia por crimes que acabariam por ser arquivados em 2019.

Mas antes de a Suécia arquivar o processo, o Equador deu por terminado o asilo, abrindo as portas à Polícia Metropolitana de Londres. Assange foi então levado para Belmarsh para cumprir uma pena de 50 semanas de prisão por desrespeitar as condições de liberdade condicional em 2012, ao mesmo tempo que era revelado que os Estados Unidos tinham pedido a extradição para o julgarem por crimes de espionagem que lhe poderão valer uma pena de até 175 anos de prisão.

Em Dezembro, a extradição foi autorizada por um tribunal britânico, mas um mês depois a defesa de Julian Assange recebeu o aval para recorrer da decisão, com o Tribunal Superior a considerar que os seus advogados levantaram algumas questões jurídicas relevantes que merecem a análise do Supremo.

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