Nova campanha de promoção do calçado português presta homenagem à cultura

Os actores Albano Jerónimo e Anabela Moreira dão vida aos quadros de seis pintores portugueses de referência, como Almada Negreiros, José Malhoa e Paula Rego.

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Anabela Moreira e Albano Jerónimo dão vida a Fado de José Malhoa Frederico Martins

“Pode a indústria ser uma forma de arte?” é o mote da campanha Portuguese Shoes da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS). Os actores Albano Jerónimo e Anabela Moreira dão vida aos quadros de seis pintores portugueses de referência, para promover, além-fronteiras, o calçado português, mas também a cultura nacional.

Desde 2008, que as campanhas de promoção do calçado nacional são uma “apologia da portugalidade”, começa por salientar, em conversa com o PÚBLICO, o director de comunicação da APICCAPS, Paulo Gonçalves. O sector exporta mais de 95% daquilo que produz — exportou 1676 milhões de euros em 2021, mais 12% face a 2020 e 6% abaixo de 2019 — e tem, como uma das suas missões, promover Portugal no estrangeiro como um todo, explica o responsável.

Por isso, em 2022, resolveram “homenagear a cultura portuguesa” através das obras de Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Eduardo Afonso Viana, José Malhoa, Júlio Pomar e Paula Rego. As interpretações fotográficas, pela lente de Frederico Martins, são protagonizadas pelos actores Albano Jerónimo e Anabela Moreira. E, ainda antes de o projecto avançar, a ideia, proposta pelo encenador Daniel Gorjão, foi apresentada ao Ministério da Cultura que deu o aval à campanha, sem que esta fosse considerada uma apropriação da propriedade intelectual dos artistas.

Entre os quadros homenageados destacam-se, por exemplo, o Retrato de Fernando Pessoa de Almada Negreiros, pintado em 1964, e A filha do polícia de Paula Rego, datado de 1987. Fado de José Malhoa, de 1910, reúne os dois actores, que dão vida à cantadeira e ao guitarrista. As fotografias estarão expostas na Galeria Nuno Centeno, no Porto, esta terça-feira. A 10 de Março, quinta-feira, vão integrar a exposição da APICCAPS, na ModaLisboa, no Hub Criativo do Beato​.

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"Retrato de Fernando Pessoa" de Almada Negreiros Frederico Martins

“Hoje, felizmente, o calçado nacional é um bom embaixador de Portugal no mundo. Estas campanhas têm sido úteis para o sector se afirmar; para que possamos pagar melhor aos trabalhadores, é fundamental que as nossas empresas ganhem dinheiro”, lembra Paulo Gonçalves. A iniciativa, financiada por fundos europeus, está orçamentada em 600 mil euros e envolve não só o investimento nas redes sociais e publicidade tradicional, como promoção junto de clientes internacionais. Só no Youtube, avança o director de comunicação, angariam mais de três milhões de visualizações por ano.

Em comunicado, o presidente da APICCAPS, Luís Onofre, salienta que “estas campanhas pretendem, mais do que elogiar o talento nacional e retratar uma identidade, abrir uma porta para o exterior”. O actor Albano Jerónimo destaca, também, a homenagem feita ao “legado artístico do nosso país” e à cultura, que considera ser “resposta à dor humana, à certeza da morte e arma de combate à esterilização da consciência humana”. “A cultura está para além do que me compõe e do que eu vou compondo. É também o que cultivamos”, lembra, por sua vez, Anabela Moreira.

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"A filha do polícia" de Paula Rego Frederico Martins

Além da promoção internacional, no final de 2021, a associação apostou num programa de televisão onde mostrava aos portugueses os bastidores da indústria do calçado. A fadista Gisela João conduziu os telespectadores da RTP2 ao longo de oito episódios, cada um deles dedicado a uma matéria-prima — algodão, couro, plástico, cortiça, lã, madeira, ouro e biomateriais —, sempre com foco na sustentabilidade.

Na totalidade do ano 2021, Portugal exportou 69 milhões de pares de calçado, informava a APICCAPS em Fevereiro, e teve “o melhor trimestre de sempre”. Previa-se que este ano se superassem as previsões que davam conta de uma recuperação plena apenas para 2023. Agora, com a guerra na Ucrânia e a consequente crise, Paulo Gonçalves admite estar mais cauteloso sobre o futuro. “As prioridades mudaram. Diria que é um grande defraudar das expectativas, depois de termos começado o ano muito animados”, lamenta. E compara: “Voltámos à fase do início da pandemia em que ninguém arrisca”.

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