O insustentável peso da obesidade

A obesidade é uma doença que pode ser reduzida com uma forte intervenção nutricional. Daí resultaria uma enorme diminuição dos custos relacionados e do peso de doenças a ela associadas.

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Em Portugal, cerca de 2,5 milhões de pessoas, 28% da população portuguesa, necessitam de tratamento à obesidade I Yunmai/Unsplash

Uma doença crónica e multifatorial que prejudica a saúde de várias maneiras. O Dia Mundial da Obesidade assinala-se esta sexta-feira, 4 de março, e importa chamar a atenção para o facto de esta doença, por um lado, aumentar o risco de desenvolvimento de outras doenças, como a diabetes, as doenças cardiovasculares e osteoarticulares, a doença renal e alguns tipos de cancro, e, por outro, reduzir a qualidade e a esperança média de vida.

Os efeitos da obesidade e das doenças relacionadas não se limitam às consequências nefastas na saúde de quem dela sofre sendo responsáveis por parte muito significativa da despesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa apresentou recentemente um estudo que concluiu que o custo direto da obesidade é de cerca de 1,2 mil milhões de euros por ano, aproximadamente 0,6% do PIB e 6% das despesas de saúde em Portugal. Desse montante, apenas uma pequena parte, cerca de 13 milhões de euros por ano, está relacionada com o tratamento da obesidade, sendo que as doenças relacionadas consomem 99% dos recursos gastos.

Significa isto que a despesa com o tratamento da obesidade é relativamente pequena e, no entanto, a evidência científica mostra que investir mais no tratamento da obesidade (e, não esquecer, na prevenção) pode fazer com que se poupem muitos milhões de euros a longo prazo.

Os custos diretos da obesidade são decorrentes de serviços de saúde (ambulatório, internamentos, cirurgia), de exames laboratoriais e radiológicos e de gastos com medicamentos. Mas, saliente-se, que também indiretamente a obesidade acarreta custos, desde a perda da qualidade de vida ou da capacidade de trabalho, até aos anos de vida ativa perdidos. Estas despesas são verdadeiros pesos pesados nos bolsos do Estado e obrigam, ou deveriam obrigar, a uma aposta clara na identificação precoce da doença e no seu tratamento.

Hoje, Dia Mundial da Obesidade, faço contas a estas despesas por acreditar que uma compreensão mais clara dos custos inerentes à doença pode estimular programas maiores e mais robustos para a prevenir e para a tratar.

Lembremos que, em Portugal, cerca de 2,5 milhões de pessoas, 28% da população portuguesa, necessitam de tratamento à obesidade. No entanto, muitos destes não o recebem. A grande maioria nunca teve acesso a cuidados nutricionais, um direito que deveria estar garantido.

É claro que a enormidade deste fardo económico e o enorme preço que o excesso de peso causa na saúde e no bem-estar tem vindo a aumentar a consciencialização política global. Porém, os indivíduos, as comunidades, o Estado e as organizações devem fazer muito mais para conter a maré crescente da obesidade. E a chave da redução destes custos está, sem sombra de dúvida, na prevenção.

Sabemos, desde já, que a alimentação inadequada é uma das principais causas evitáveis. Aliás, os hábitos alimentares inadequados estão entre os cinco fatores de risco que mais contribuem para a perda de anos de vida saudável e para a mortalidade. Face a este retrato revela-se determinante a implementação de medidas que promovam uma alimentação saudável, nomeadamente de medidas direcionadas para a criação de ambientes alimentares saudáveis, devendo igualmente conduzir a uma redução das desigualdades socioeconómicas relacionadas com a alimentação.

Embora Portugal tenha vindo a fazer algum investimento em prevenção, como a regulação da publicidade dirigida a crianças, a taxação e a reformulação de algumas categorias de alimentos, ou a alteração da oferta alimentar nas escolas, esses esforços representam passos pequenos e o financiamento futuro da prevenção na saúde pública permanece ameaçado. Para fazer verdadeiros avanços, essas iniciativas devem fazer parte de esforços conjuntos de organizações governamentais, dos mais variados setores, ao sistema alimentar, como a indústria, a distribuição e a restauração, e, claro, toda a comunidade.

Um recente estudo da Direção-Geral da Saúde, realizado com vista a avaliar o desempenho de Portugal ao nível da implementação de políticas públicas para a criação de ambientes alimentares saudáveis, identificou dez ações de implementação prioritária. Entre outras, destaca-se a reformulação dos produtos alimentares, a redução dos impostos sobre os alimentos saudáveis (leguminosas, fruta e hortícolas), a monitorização regular do consumo alimentar e do estado nutricional, ou a adequação do rácio dos nutricionistas nos cuidados de saúde primários. Estes são apenas alguns dos exemplos de políticas públicas que podem e devem ser implementadas desde já.

A obesidade é uma doença que pode ser reduzida com uma forte intervenção nutricional. Daí resultaria uma enorme diminuição dos custos relacionados e do peso de doenças a ela associadas. Por isso, numa altura em que se aproxima um novo ciclo legislativo esperamos que os dados apresentados hoje tenham um papel significativo na formulação e priorização de políticas de saúde e de alocação de recursos. Estaremos atentos e vigilantes, pesaremos medidas e sugeriremos receitas para uma saúde melhor, dos portugueses e do SNS.

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