UEFA e Gazprom: uma relação difícil de romper

Desde 2012 que há uma parceria comercial entre o organismo que tutela o futebol europeu e o gigante russo da energia, um acordo que foi renovado em Maio passado e que vale cerca de 40 milhões de euros por temporada.

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A parceria entre Gazprom e UEFA dura desde 2012 Reuters/Ruben Sprich

“A Gazprom é um parceiro de confiança”, é o que está escrito na mensagem introdutória do site que o gigante russo da energia dedica à sua associação ao futebol. Patrocina três clubes europeus: o Zenit de S. Petersburgo, da Rússia, o Schalke 04, da Alemanha, e o Estrela Vermelha, da Sérvia. E é um dos principais parceiros da UEFA desde 2012, associando a sua imagem à Liga dos Campeões, à UEFA Youth League, à Liga dos Campeões de futsal e às competições de selecções da Europa.

Por tudo isto, a UEFA recebe cerca de 40 milhões de euros por temporada (uma estimativa feita pela publicação Sportbusiness), renovado em Maio passado até 2024. São 40 milhões de razões anuais que ajudam a explicar por que razão não será fácil à UEFA quebrar a sua relação com a Gazprom que dura desde 2012. E há mais uma. Alexander Dyukov, director-executivo da Gazprom Neft (a subsidiária petrolífera), presidente da Federação Russa de Futebol e antigo presidente do Zenit (que é da Gazprom), é um dos 16 membros do Comité Executivo da UEFA, onde também está o português Fernando Gomes, eleito em Abril do ano com 50 votos em 55 possíveis.

Final da Champions sai de São Petersburgo?

Só nesta sexta-feira, após uma reunião do comité executivo da UEFA, é que se vai saber como irão ficar as relações entre o organismo e a Gazprom. A imprensa internacional dá como certo que a final da Liga dos Campeões será retirada ao Gazprom Arena de São Petersburgo, mas nada diz sobre a quebra do acordo milionário entre a UEFA e a empresa energética. “A UEFA partilha da preocupação da comunidade internacional sobre o que está a acontecer na Europa e condena de forma veemente a invasão militar russa na Ucrânia”, disse o organismo, garantindo que decisões serão tomadas após a reunião desta sexta-feira.

A intenção da Gazprom ao associar-se à UEFA é clara. É um exercício de relações-públicas assumido logo em 2012 quando o primeiro contrato foi assinado. “Tenho a certeza que esta cooperação vai melhorar a reputação da Gazprom e elevar o reconhecimento da nossa marca a um novo nível à escala global”, dizia na altura Alexey Miller, CEO da Gazprom e próximo de Vladimir Putin.

A Gazprom começou por ser patrocinadora oficial da Liga dos Campeões e da Supertaça europeia entre 2012 e 2015, renovando por mais três vezes a parceria, em 2015, 2018 e 2021. No mais recente acordo, a parceria estendeu-se ao Euro 2020 (que se realizou em 2021), ao Euro 2024 (que se vai realizar na Alemanha) e respectivas qualificações, às finais da Youth Leage e da Champions de futsal. Na altura, não havia motivos para a UEFA poupar elogios quanto ao seu parceiro russo. “A Gazprom tem provado ao longo dos anos ser um dos nossos parceiros mais confiáveis”, disse na altura o director de marketing da UEFA Guy-Laurent Epstein.

Em paralelo, a Gazprom também estendeu o seu apoio a vários clubes de futebol. Assumiu uma posição maioritária no Zenit de S. Petersburgo em 2005 e, desde então, a equipa de futebol foi sete vezes campeã russa, para além de ter conquistado a Taça UEFA e a Supertaça europeia em 2008 – neste período foram vários os internacionais portugueses que passaram pelo Zenit, como Danny, Bruno Alves, Fernando Meira e Luís Neto.

Em 2007, iniciou o patrocínio do Schalke 04, um histórico do futebol alemão actualmente na segunda divisão. Na altura, falava-se de um acordo de 125 milhões de euros por cinco anos para a Gazprom ser o principal “sponsor” do clube de Gelsenkirchen, sendo que esse acordo foi sendo renovado e ajustado até ao presente, mantendo-se mesmo com a despromoção do Schalke na época passada. Mas a direcção do clube já fez saber que irá retirar o patrocínio da empresa das suas camisolas com a ofensiva militar da Rússia na Ucrânia.

Polacos e checos apelam à FIFA

A Polónia, que deveria jogar na Rússia, e a Suécia e a República Checa, possíveis adversárias, apelaram à FIFA para que o play-off do Mundial 2022 não se dispute naquele país. “Os signatários deste apelo não consideram viajar para a Rússia e disputar jogos de futebol no país. A escalada militar que estamos a observar implica consequências sérias e uma considerável perda de segurança para as nossas equipas”, refere a carta enviada à FIFA das federações de futebol da Polónia, República Checa e Suécia.

Na Euroliga de basquetebol, os três encontros da 27.ª jornada que incluem a participação de clubes russos foram todos suspensos, devido à ofensiva militar. Os duelos Bayern Munique-CSKA Moscovo, Bitci Baskonia-Unics Kazan e Zenit São Petersburgo-FC Barcelona foram todos suspensos como “medida de precaução”, no dia em que a Euroliga também revelou que os 18 clubes membros vão efectuar uma reunião de emergência na sexta-feira, para avaliar a situação.

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