Google quer mais privacidade nos telemóveis sem barrar anúncios personalizados

Google expande o plano para eliminar cookies para telemóveis.

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A Google não quer prejudicar as receitas publicitárias das aplicações móveis Rami al Zayat/Unsplash

A Google quer eliminar sistemas que acumulam dados dos utilizadores de telemóveis às escondidas (a rival Apple já os barrou),​ mas sem impedir os criadores de apps de ganhar dinheiro ao mostrar publicidade relevante às pessoas. Esta quarta-feira a tecnológica norte-americana anunciou que vai expandir a iniciativa Privacy Sandbox ao Android, o seu sistema operativo para telemóveis. O projecto, que foi inicialmente anunciado em 2019, visa procurar soluções para proteger a privacidade dos consumidores da Google.

“O nosso objectivo com o Privacy Sandbox no Android é desenvolver soluções de publicidade eficazes que melhorem a privacidade, em que os utilizadores saibam que as suas informações estão protegidas e os programadores e as empresas tenham ferramentas para ter sucesso​”, resume Anthony Chavez, vice-presidente responsável pela área de segurança e privacidade no Android, num comunicado sobre o projecto.

A Google não quer que as novas medidas reduzam as receitas publicitárias das apps visto que muitas aplicações gratuitas dependem do dinheiro que obtém ao mostrar anúncios relevantes aos utilizadores. “Actualmente, mais de 90% das aplicações no Google Play [loja de apps da Google] são gratuitas, proporcionando acesso a conteúdos e serviços valiosos a milhares de milhões de utilizadores. A publicidade digital desempenha aqui um papel fundamental para tornar isto possível”, salienta Chavez.

Apple mudou primeiro

Numa altura em que os internautas valorizam mais a privacidade, a Google diz que quer deixar de usar cookies de terceiros e outros sistemas de rastreio online até 2023. Muitas vezes, as aplicações criadas para telemóveis usam rastreadores (também conhecidos como cookies de terceiros) para compilar dados sobre a localização, idade e pesquisas dos seus utilizadores e enviar-lhes publicidade. Trata-se de uma das formas mais comuns de monetização.

A concorrente Apple já impede as apps de fazer isto furtivamente. Com o iOS 14.5, lançado em 2021, os criadores de aplicações móveis deixaram de conseguir recolher informação dos utilizadores e seguir os seus hábitos online sem autorização. A medida causou uma queda na receita de muitos criadores de apps móveis: segundo dados de Novembro da empresa de marketing Consumer Acquisition, empresas de publicidade para iOS tiveram perdas na ordem dos 20%.

O presidente executivo do Facebook e do Instagram, Mark Zuckerberg, também culpa as novas regras da Apple pela redução no crescimento das receitas de publicidade das suas redes sociais.

A equipa da Google quer evitar estas críticas, razão pela qual os resultados do projecto Privacy Sandbox para Android devem demorar.

Possíveis soluções

Numa sessão de esclarecimento com jornalistas, Anthony Chavez explica que uma das estratégias que a empresa quer explorar é uma forma de programar “tópicos de interesse” (Topics API). Os sites ou apps passam a armazenar apenas três interesses dos utilizadores com base nas suas pesquisas online (por exemplo, fitness, culinária e videojogos) e não os guardam em servidores externos. Os tópicos escolhidos, que excluem “categorias sensíveis” (como etnia, sexo e género), ficam no telemóvel do utilizador e são apagados a cada três semanas.

A Google também quer criar uma forma de barrar apps que tentam rastrear utilizadores sem autorização, embora ainda não tenha uma estratégia definida.

A empresa está a colaborar com várias apps populares como a Snap (rede social) e o Duolingo (jogo para aprender línguas) e reguladores para desenvolver o projecto.

A Privacy Sandbox tem sido alvo de escrutínio de reguladores internacionais e associações de empresas online nos últimos três anos. Em Janeiro, a federação de editores de jornais alemães (BDZV) pediu à União Europeia para impedir a Google de deixar de utilizar cookies de terceiros devido ao impacto para a receita de empresas europeias. A autoridade que regula a competição no Reino Unido, a CMA, também tem estado a monitorizar o projecto da Google e é uma das entidades a trabalhar com a tecnológica.

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