Sector do livro cresceu 16,5% em 2021

Um estudo da empresa alemã GFK mostra que o aumento da venda de livros em Portugal durante o ano de 2021 permitiu recuperar quase inteiramente as perdas de 2020.

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Nuno Ferreira Santos

A venda de livros novos em Portugal cresceu 14,2% em número de exemplares e 16,5% em valor, revela um estudo da empresa alemã GFK, um dos gigantes mundiais das pesquisas de mercado. Com 11,2 milhões de livros vendidos, correspondentes a 150 milhões de euros, os resultados do sector estão apenas ligeiramente abaixo dos 154,3 milhões registados em 2019, imediatamente antes do início da pandemia.

Editores como Francisco Vale, da Relógio D’Água, ou Hugo Xavier, da E-Primatur, não só confirmam esse crescimento, como acrescentam que já o ano de 2020 correra bastante bem, contra a ideia geral de que o confinamento deixara o sector à beira do abismo.

O estudo da GFK agora divulgado confirma que, globalmente, o mercado do livro em Portugal teve de facto uma diminuição acentuada em 2020, com menos 25,6 milhões de euros de receitas, uma quebra de 16,6%. Mas parece inegável que a recuperação começou ainda em 2020, já que a mesma GFK estimara em 30% o decréscimo de receitas sofrido pelo sector no primeiro semestre desse ano.

“As vendas da Relógio D’Água aumentaram de modo significativo tanto em 2020 como em 2021”, diz o editor Francisco Vale. “As pessoas ficaram mais tempo em casa, com mais tempo para ler, tiveram também de arranjar passatempos para os filhos, e quiseram descansar do digital”.

Se estas motivações são apontadas pela generalidade dos editores, Francisco Vale sugere ainda que o confinamento nos “levou “a procurar nos livros, nas personagens da ficção narrativa, as pessoas que não podíamos encontrar no dia-a-dia”.

Também a E-Primatur de Hugo Xavier teve bons resultados já em 2020, com o acentuado crescimento das vendas on line – quer no próprio site da editora, quer em plataformas como a Wook –, a compensarem a quebra sofrida pelo encerramento das livrarias. E desde que estas reabriram, no início de Maio, até ao final do ano, foi sempre a subir. “A Feira do Livro de 2020 já foi óptima, e a de 2021 foi ainda melhor”, diz Hugo Xavier.

O editor acredita que os cenários mais ou menos catastróficos que se foram agitando durante o confinamento acabaram por ter efeito junto do público e funcionar como “uma espécie de chamada às armas”, e reconhece que, embora não tendo contribuído para aquilo a que chama “o choradinho”, provavelmente acabou por beneficiar dele, até porque, argumenta, “a sensibilidade das pessoas é mais para ajudar o pequeno editor do que os grandes grupos”.

Pedro Sobral, da Leya, não subestima a quebra de cerca de 17% que o sector enfrentou em 2020 com a pandemia, lembrando que com a anterior crise financeira o mercado do livro em Portugal já perdera perto de 25% do seu valor. “Demorámos a recuperar, e estávamos a consegui-lo no início de 2020 quando sofremos esta nova quebra, que naturalmente nos deixou com expectativas muito pessimistas para 2021”, lembra.

Mas após a reabertura das livrarias, “o mercado começou a crescer muito”, reconhece, o que atribui a “um contexto macroeconómico favorável, com o consumo privado a disparar”, mas também, acredita, à necessidade que muitos terão sentido de “procurar nos livros um refúgio para esse bombardeio constante de notícias e números” sobre a pandemia. E com as pessoas a passarem tanto tempo em casa, partilhando com outras o mesmo espaço, a leitura pode ainda tê-las ajudado, admite, a manter algum “recolhimento pessoal”.

A recuperação do sector começou a tornar-se mais evidente com o resultado da Feira do Livro, em Setembro, e confirmou-se plenamente no Natal, diz. Quando comparadas com 2020, as vendas do grupo Leya, adianta, cresceram 22% em 2021.

O PÚBLICO tentou também saber os resultados obtidos pelo grupo Porto Editora, mas não foi possível obtê-los em tempo útil. Já as vendas do grupo editorial Presença, segundo declarações do seu director-geral ao Jornal de Negócios, cresceram 18% em 2021.

Ainda segundo o estudo da GFK, foi na categoria de “banda desenhada, manga e ilustração” que se registou um aumento percentual mais forte (73% em montante de vendas), ao passo que o único resultado negativo se verificou, sem surpresa, nos livros de turismo, com uma quebra de 10%. Mas as categorias que continuam a assegurar a maior fatia das vendas são a “ficção infantil e juvenil” (22,2% do total) e a “literatura” (23,6 %).

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