Spotify em queda acentuada no mercado após o diferendo com Neil Young

Acções da empresa caíram 6% entre quarta e sexta-feira da semana passada. Impacto da saída de Joni Mitchell e de uma possível vaga de cancelamentos de assinaturas pode agravar as perdas do serviço de streaming dominante no segmento áudio.

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O Spotify divulgará os seus resultados finais de 2021 na próxima quarta-feira Brendan McDermid/Reuters

O braço-de-ferro com Neil Young está a custar ao Spotify avultadas perdas em bolsa. O gigante do streaming de música perdeu cerca de 2,1 mil milhões de dólares (cerca de 1,9 mil milhões de euros) em três dias, após ter-se consumado a ameaça do cantor e compositor canadiano de que deixaria de disponibilizar o seu catálogo de canções naquela plataforma se esta insistisse em hospedar o popular podcast de Joe Rogan.

Entre quarta e sexta-feira da semana que passou, dias que balizam o antes e depois da polémica retirada de Neil Young, as acções da empresa caíram 6%. No mesmo período, nota a Variety, o índice tecnológico Nasdaq subiu 1,7% e o índice industrial Dow Jones cresceu 1,1%. E até a Netflix recuperou em parte, com uma subida de 4,9%, as suas perdas da semana anterior, quando o anúncio dos resultados algo decepcionantes de 2021 se reflectiu na desvalorização em bolsa daquele que continua a ser o serviço de streaming dominante no mercado audiovisual global.

Na quinta-feira, dia em que se consumou a saída do catálogo de Neil Young, as acções do Spotify desceram aos 171,32 dólares, o valor mais baixo dos últimos 19 meses. A tendência decrescente já vinha, porém, de trás, ressalva também a Variety, lembrando que na véspera da saída de Neil Young os títulos da empresa valiam 25% menos do que um ano antes. Embora o day after” tenha sido já mais animador, com os títulos a valorizarem-se em 1% (para 172, 98 dólares), os efeitos do anúncio de que também Joni Mitchell quer tirar as suas canções do Spotify só poderão ser medidos esta segunda-feira, quando a bolsa de Nova Iorque reabrir.

Ainda que poucos artistas, além de Joni Mitchell e Lloyd Cole, tenham até ao momento mostrado a intenção de seguir os passos de Neil Young, o mercado tenderá a reflectir as actuais incertezas quanto a um eventual êxodo em massa do Spotify, bem como possíveis oscilações no número de subscritores do serviço. Actualmente, e de acordo com os dados disponibilizados pela própria plataforma, o Spotify é o serviço de streaming dominante a nível global no segmento áudio, com 381 milhões de utilizadores, dos quais 172 milhões são assinantes pagos.

Um podcast controverso

Na origem da actual polémica está o desconforto que Neil Young exprimiu relativamente à permissividade do Spotify perante a desinformação sobre a covid-19 que o músico entende estar a ser veiculada pelo podcast The Joe Rogan Experience, e que já tinha sido denunciada num apelo subscrito por mais de 200 cientistas, académicos e especialistas em saúde pública.

“Ao permitir a propagação de afirmações falsas e socialmente prejudiciais, o Spotify permite que [o podcast de Joe Rogan] prejudique a confiança do público na investigação científica e semeie dúvidas na credibilidade dos dados e das orientações fornecidos pelos profissionais médicos”, lia-se, segundo a Rolling Stone, na carta aberta que Neil Young terá dirigido ao Spotify e que entretanto deixou de estar pública.

O peso do programa de Joe Rogan, cuja distribuição exclusiva terá custado ao Spotify mais de cem milhões de dólares, acabaria contudo por revelar-se determinante. A plataforma não cedeu ao ultimato do músico, cuja decisão lamentou, e salvaguardou sem reservas aquele que terá sido o podcast mais ouvido em 2021 no âmbito do seu vastíssimo catálogo: “Temos uma política rigorosa em relação aos conteúdos e retirámos cerca de 20 mil episódios relacionados com covid-19 desde o início da pandemia. Lamentamos a decisão de Neil de remover a sua música do Spotify, mas esperamos que regresse em breve.”

Atendendo às múltiplas declarações anti-Spotify que Neil Young vem proferindo entretanto, nas quais se refere nomeadamente à má qualidade sonora do serviço fornecido pela empresa, é duvidoso que a reconciliação esteja nos seus horizontes. Entretanto, o gigante do streaming divulgará já na próxima quarta-feira, 2 de Fevereiro, os seus resultados finais de 2021, ainda imunes à polémica em curso, que poderão – ou não tranquilizar os investidores.

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