Cidadania para menores

Convocar as crianças para tomarem decisões que as implicam é o propósito deste livro. A ideia da Matilde foi a votos.

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Capa do livro “Matilde: Vamos Decidir Juntos!”, edição da Fábula Mary Katherine Martins e Silva

Com um acto eleitoral por estes dias e depois de um período de campanha e pré-campanha, talvez não seja má ideia explicar às crianças o que é a democracia e convocá-las para participar activamente nas escolhas que as implicam.

A autora de Matilde: Vamos Decidir Juntos!, Mary Katherine Martins e Silva, conta ao PÚBLICO que “este este livro surgiu da preocupação de ilustrar como é que no jardim de infância, na escola (e na própria vida) a participação das crianças pode (e deve!) ser tida em conta, que a sua voz é válida, que aquilo que as crianças têm a dizer deve ser escutado”.

Na história, conta-se que Matilde gosta de apanhar folhas, pedras e paus. Com tudo isso, faz sopas, bolos e muitas outras “comidas” para brincar. “Mixórdias” de que alguns adultos terão igualmente memória de praticar…

A menina teve então uma ideia que partilhou de imediato com a Lara: “E se houvesse cá fora um sítio onde pudéssemos ter panelas, colheres, tacinhas... muitas coisas para brincar com a terra, a água e as folhas... não era tão bom?”

Juntas foram falar com as outras crianças e com a Sara, a educadora. Seguiu-se a consulta aos meninos das outras salas, “pois a escola é de todos e há que cuidar dela em conjunto”. Convocou-se uma assembleia e fez-se a votação. “Votar é escolher, e todos têm direito a fazê-lo.” A “cozinha de lama” é aprovada.

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A autora, que é educadora de infância há 26 anos e directora pedagógica num Centro Educativo de Lisboa, diz: “Elas devem ser intervenientes activos no seu próprio processo de desenvolvimento e não apenas receptáculos passivos do conhecimento ou replicadores de algo que foi decidido pelo adulto. As crianças têm muitas ideias, teorias sobre o que as rodeia, sabem muito bem aquilo que querem, aquilo de que gostam e aquilo de que não gostam, são extremamente criativas na resolução de problemas. Há que dar-lhes voz! Este livro é uma chamada de atenção para essa urgência, para essa mudança na educação.”

Educar para a democracia

Para Mary Katherine Silva, deve dar-se desde cedo às crianças a possibilidade “de intervir, colaborar, decidir, reflectir, fazer escolhas, negociar, debater, traçar objectivos”. O seu “envolvimento em dinâmicas participativas é dar-lhes ferramentas para o futuro”, acredita. E acrescenta: “É contribuir para o desenvolvimento de cidadãos activos, participativos, solidários, conscientes, com sentido crítico e agentes de mudança.” Em suma: “É educá-los para a democracia.”

Uma espécie de missão a longo prazo de todos os que nasceram há mais tempo, qualquer que seja o seu quadrante.

Também faz por incutir a responsabilidade em todos, já que, “fazendo parte de uma comunidade, todos devem colaborar para o bem comum”. Assim, convida as crianças a desempenhar várias tarefas, “a responder pelo que fazem ou não fazem, a ajudar os outros, a contribuir de forma activa e efectiva para um espaço e ambiente que é de todos”.

Matilde: Vamos Decidir Juntos! integra uma colecção que já ultrapassa uma dezena de títulos e “surgiu porque não havia nada sobre este tema para crianças pequenas, o que era uma lacuna”. A educadora considera-o “um tema muito pertinente e actual”.

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No final, um breve guia para pais e educadores sugere actividades e atitudes que permitam “dar mais voz às crianças” e estimular a sua autonomia e participação, assim como o pensamento crítico.

Mary Katherine Silva também assina as ilustrações, “feitas com marcador preto, canetas de álcool e Ecolines”. Mas recorre, aqui e ali, a colagens: “Folhas verdadeiras foram coladas na cozinha de lama, por exemplo.” Fez uma pós-graduação em Ilustração e outra em Animação de Histórias, estando actualmente empenhada num doutoramento na área em que já é mestre, Educação Artística.

Quanto a Matilde, já está a começar nova campanha… para outro projecto: construir um atelier no jardim, para pintar e desenhar ao ar livre. Vamos a votos?

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