Da luta contra o cancro - o doente no centro

É importante que o doente se sinta envolvido e parte integrante do processo e não um mero espetador ou recetor passivo de cuidados.

No Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil (IPO Porto) recebemos todos os anos cerca de dez mil novos doentes e acompanhamos anualmente cerca de cinquenta mil. Números expressivos, que nos tornam o maior centro nacional de prestação de cuidados em oncologia, tendo por base uma missão muito clara, centrada no doente, com o objetivo de garantir elevados níveis de qualidade, humanismo e eficiência.

Porque entendemos que o combate ao cancro também se faz pela via da relação de proximidade com o doente ao longo da sua jornada, pela partilha de informação, em que o fluxo seja contínuo e bidirecional.

Neste sentido, está a ser a delineado o Plano Estratégico para 2022-2024, que tem como principal objetivo posicionar a Instituição como um Centro Compreensivo de Cancro (Comprehensive Cancer Centre) de nível europeu. Para tal, foram definidos três eixos estratégicos: “O doente no centro; Qualidade e eficiência; e Inovação em Oncologia”. No primeiro eixo, o IPO Porto materializa a sua visão de cuidados de saúde, maximizando a qualidade, o conforto, a eficiência e a humanização do seu sistema de saúde. Isso será possível através das seguintes iniciativas: criação de um Centro de Contacto Clínico (cujo arranque da 1.º fase irá ocorrer no início de fevereiro), desenvolvimento de um Programa para Sobreviventes e um outro de OncoGeriatria, assim como a promoção de iniciativas de literacia para a saúde, a par de outras ações que apostem na transformação digital e melhoria das condições estruturais da Instituição.

Focados nas necessidades dos doentes, nas mais variadas frentes, estamos cada vez mais preparados para uma ação ativa e menos reativa. Ir ao encontro dos doentes, acompanhá-los de uma forma mais efetiva. Estar mais próximo, com mais eficiência. Para isso, é fundamental também apostar na valorização dos recursos internos. Sermos capazes de proporcionar melhores condições de realização e conforto para os nossos profissionais, de forma a personificar e materializar esta visão da Instituição.

Vivemos uma era em que o acesso à informação, em todas as áreas e em particular na saúde, é uma realidade. No entanto, não podemos esquecer que existe também muita desinformação, o que num momento de fragilidade pode impactar negativamente o doente, comprometendo a sua jornada. A aposta em programas de literacia em saúde é por isso fundamental. Disponibilizar informação credível e acessível que possa empoderar o doente e permitir-lhe ser uma parte ativa e participativa em todo o seu processo de tratamento constitui uma das prioridades da missão do IPO Porto. Entendemos que é importante que o doente se sinta envolvido e parte integrante do processo e não um mero espetador ou recetor passivo de cuidados. Esta visão, partilhada por toda a comunidade do IPO Porto, doentes e seus cuidadores, deve estender-se também à comunidade da qual somos parte integrante, à população em geral da nossa região, tendo em atenção a incidência crescente das doenças oncológicas.

Apesar de todos os avanços na investigação, o diagnóstico de cancro ainda é muito temido e tem associado uma forte carga negativa, assente em muitos mitos e “monstros”. Consciente desta realidade e seguindo esta necessidade de aproximação aos doentes e à sociedade, o IPO Porto tem em curso um projeto denominado “Cancro sem Temor” que tem por objetivo realçar a importância de aprender a viver com o diagnóstico de cancro e desmistificar conceitos e ideias sobre esta vivência. Desenvolvido à imagem da realidade do próprio Instituto, aposta numa apresentação multidisciplinar, em que estão envolvidas diferentes perspetivas - psicológica, emocional, farmacológica, médico e social - contando com a participação e testemunho de doentes e familiares. Trata-se de falar abertamente, e com conhecimento de causa, da vivência desta realidade, passando por diferentes momentos do diagnóstico ao tratamento. Os avanços na investigação têm permitido um crescente número de casos de sucesso em oncologia, contribuindo para que o cancro se transforme cada vez mais numa doença crónica, implicando a necessidade de acompanhar adequadamente os sobreviventes, dar-lhes as condições para uma vivência com os mesmos direitos e sem estigmas.

No dia em que se assinala mundialmente a luta contra o cancro, 4 de fevereiro, importa recordar à sociedade civil o muito que ainda está por fazer nesta área, o que é necessário mudar ao nível de comportamentos e mentalidades, ao nível da perceção de quem lida de perto e de mais longe com esta realidade. Todos temos um papel a cumprir para tornar mais fácil e mais simples esta vivência. Nós que lidamos diariamente com esta luta e a sociedade em geral, na integração e aceitação das condicionantes que a doença implica. E tendo sempre o doente oncológico no centro da nossa atenção.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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