Depois do discurso misógino de um professor, Ally criou uma bolsa de estudos para mulheres

Depois de um professor ter dito, numa conferência, que as engenharias, medicina e direito são áreas para os homens, Ally Orr começou uma campanha de angariação de fundos para mulheres dessas áreas. Já conseguiu mais de 130 mil dólares.

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Scott Yenor, professor de Ciência Política na Boise State University, nos Estados Unidos, fez um discurso, na Conferência Nacional do Conservadorismo, onde rejeitou o feminismo e defendeu que os homens deveriam ter prioridade em determinadas áreas de estudo. “Todos os esforços devem ser feitos para não recrutar mulheres nas engenharias, mas homens. O mesmo para áreas de medicina, direito e negócios”, disse.

Apesar de a plateia o ter aplaudido, o vídeo do seu discurso começou a provocar reacções um pouco distintas: em Dezembro de 2021, um protesto aconteceu na universidade e testemunhos de indignação começaram a circular pelas redes sociais.

Mas foi Ally Orr quem levou a discussão a outro patamar. A estudante de marketing na Boise State disse ter-se sentido “chateada e envergonhada” com as declarações de Yenor e decidiu, por isso, criar uma bolsa de estudos para apoiar mulheres nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês), bem como de medicina e direito.

Era Dezembro e Ally rabiscava um email: “Como uma estudante mulher na Boise State University, fiquei profundamente desapontada quando soube que um professor estava a desencorajar mulheres a seguirem o ensino superior. Por isso, criei um GoFundMe para mulheres nas áreas de STEM, medicina e direito”, disse à revista The Lily.

Mas esta decisão veio depois de uma longa reflexão. “Vou enfrentar um professor doutorado e eu nem tenho o meu diploma de licenciatura. Essa diferença de poder foi assustadora e ameaçadora, no início. Mas depois pensei, ‘é por isso que tenho de o fazer, senão quem vai fazer?’”.

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Enviou o email para centenas de professores e membros da universidade — sempre com receio que o resultado desta acção fosse uma suspensão. Mas, quando voltou ao computador, viu que já tinha angariado 500 dólares; algum tempo depois, dois mil; no fim do dia, já ia nos dez mil; três dias depois, 25 mil.

A 13 de Dezembro, apenas onze dias depois do início da campanha, assinou um contrato com a universidade: nascia assim a Women in STEM, Medicine and Law Scholarship at Boise State, que actualmente já conta com mais de 130 mil dólares.

A primeira beneficiária da bolsa deverá ser decidida esta Primavera e a continuidade da bolsa vai depender do crescimento dos fundos.

Para a criadora e impulsionadora do projecto, o sucesso da campanha de angariação de fundos deve-se à crescente contestação contra narrativas misóginas e anti-feministas. “As pessoas doam porque o problema não começou com Scott e não vai acabar com a bolsa”, atira. De acordo com a American Association of University Women, apenas 27% dos trabalhadores de STEM são mulheres.

E apesar de a bolsa ser um grande passo, Ally não acredita que seja o suficiente para responsabilizar Scott. Ainda assim, está determinada a continuar o projecto e quer alargá-lo a uma escala nacional. Por agora, o objectivo é chegar aos 150 mil dólares.

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