Taça da Liga não salva, mas ajuda

A curto prazo, a conquista do terceiro troféu mais relevante do futebol nacional pode ser um bálsamo de confiança para o Benfica. A longo prazo, dificilmente será um título que apague tudo o resto. É esta a retórica de Nélson Veríssimo, à procura do primeiro troféu como treinador “encarnado”.

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O plantel do Benfica em treino no Seixal EPA/MIGUEL A. LOPES

Num cenário em que o Benfica vença a I Liga – algo que roça a utopia – e ultrapasse os oitavos-de-final da Liga dos Campeões – também longe de ser provável –, a Taça da Liga será pouco relevante. O campo das probabilidades aponta, porém, que nem a Liga nem a Champions farão sorrir o Benfica (a primeira pelo atraso que já tem, a segunda pela valia do adversário). Nesta medida, todos os caminhos vão dar a Leiria, que é como quem diz à Taça da Liga.

Nélson Veríssimo recusa que a terceira prova mais relevante do futebol nacional seja suficiente para salvar a temporada do Benfica – algo lógico, já que uma prova menor não mascararia um desempenho sofrível no campeonato e a eliminação precoce na Taça de Portugal. O que Veríssimo não disse é que a Taça da Liga, não salvando o que quer que seja, pode ajudar a dar alguma cor a uma temporada cinzenta, com troca de treinador pelo meio.

Vencendo nesta terça-feira o Boavista (19h45, SPTV), na meia-final da Taça da Liga, o Benfica vai voltar a uma final – com o impacto mental que daí advém – e vai, em caso de triunfo na competição, voltar a erguer um troféu, algo que não faz desde 2019, quando venceu a Supertaça.

“Há vários jogadores que já venceram competições ao serviço do clube e sabem a repercussão que isso tem nos sócios e adeptos. É um dos objectivos. Ganhar esta competição permite que os jogadores que ainda não ganharam uma competição ao serviço do nosso clube verem a reacção dos adeptos”, explicou Nélson Veríssimo, apontando precisamente ao “balão” mental que os títulos dão – pelo menos, a curto prazo.

O problema é o longo prazo. Aí, tal como apontou Veríssimo, a Taça da Liga dificilmente garante o que quer que seja – e aqui fala-se, entre outras coisas, do futuro do próprio técnico. “Conquistar a Taça da Liga não vai salvar a época. O principal objectivo é a Liga portuguesa e, do nosso ponto de vista, ainda estamos envolvidos nessa luta. Temos consciência das dificuldades, mas estamos envolvidos”, apontou, recusando que o campeonato seja um assunto encerrado.

Para que tudo isto venha sequer a ser uma análise no futuro, o Benfica tem de superar um Boavista que Petit transformou no “rei do empate” (cinco em oito jogos deram divisão de pontos e sempre com 1-1) e que soma pontos há sete partidas.

Estando há relativamente pouco tempo no Bessa, Petit não terá ainda o seu Boavista. Ainda assim, houve há poucas semanas um duelo com o Sporting que pode ajudar a medir o que é este Boavista em jogos frente aos “grandes”. Nesse dia, na derrota por 2-0, o Boavista não teve sequer 40% de posse de bola, fez uns modestos dois remates à baliza, somou sete acções na área “leonina” (um valor bastante baixo, já que o Sporting teve quase 30) e o guarda-redes Alireza foi o herói ao impedir um desfecho mais dilatado.

Há, por outro lado, dados relevantes a ter em conta no plano positivo da análise: o Boavista chegou a esta final four depois de um triunfo por 5-1 frente ao Sp. Braga, aproveitando de forma letal o espaço dado pelos minhotos no seu meio-campo. O Boavista mostrou, portanto, ser uma equipa muito capaz no pelouro das transições, algo que até pode influenciar as escolhas de Nélson Veríssimo – que estará sem Otamendi e Darwin, nas selecções nacionais.

No último jogo do Benfica, o técnico começou em 4x4x2 e mudou para 4x3x3 – alteração que tirou presença na área, mas pareceu dar alguma consistência e equilíbrio, úteis para oferecerem menos espaço em transições e maior controlo do jogo com bola.

Frente a um ou outro sistema “encarnado”, Petit, treinador do Boavista, garante que deu aos jogadores axadrezados ferramentas para serem competitivos. “Estamos preparados para os dois sistemas [do Benfica] e para não ter surpresas. Foi para isso que trabalhámos”, apontou. E olhou para dentro: “Nós também temos alternado. Começámos num 3-4-3, mas alterámos para um 4-3-3. Mesmo no último jogo, começamos num 3-4-3, depois 4-3-3 e 4-4-2, à procura de um resultado diferente. Consoante o que analisamos do adversário, vamos trabalhando, mas isso demora o seu tempo”.

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