A vitória cinzenta de um Benfica com dúvidas

Darwin desequilibrou numa jogada individual, sofreu penálti e converteu-o. Foi tudo o que o Benfica precisou para desmontar o Arouca, com meio jogo em 4x4x2 e outra metade em 4x3x3. Gonçalo Ramos “matou” o jogo já nos “descontos”.

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EPA/JOSE COELHO

Foi difícil e mais obra do valor individual do que do engenho colectivo. Ainda assim, o que fica desta sexta-feira de I Liga é que o Benfica venceu em Arouca (2-0) e sabe que tirará algo desta jornada: com Sporting-Sp. Braga neste sábado, ou ganhará fôlego na luta pelo segundo lugar, o dos lisboetas, ou abrirá ainda mais a margem para o quarto, o dos minhotos. Ou até ambos. Já o Arouca continua a afundar-se e pode mesmo acabar o fim-de-semana que aí vem no último lugar do campeonato.

Apesar de um jogo bastante cinzento, o Benfica leva do Municipal de Arouca uma experiência táctica que pode ser uma base de crescimento para os próximos jogos. Até foi em 4x4x2 que o Benfica chegou ao golo (de penálti), mas foi em 4x4x3, após o intervalo, que a equipa pareceu mais confortável – ainda que igualmente pouco perigosa, até por ter dado a iniciativa de jogo ao Arouca.

Tal equivale a dizer que para um Benfica de controlo de jogo em vantagem pode haver base lógica neste 4x3x3, mas, para o Benfica que precise de marcar golos, ainda está por saber se é este o sistema certo para o futuro.

Basso fez um penálti e falhou outro

A primeira parte do Arouca-Benfica não converteu ao futebol quem quer que seja que tenha utilizado este jogo para tentar apaixonar-se pela modalidade. Houve um jogo pobre em qualidade futebolística, em emoção, em lances de perigo, em detalhes técnicos e até do ponto de vista táctico foi bastante desinteressante.

O Benfica levou a Arouca o 4x4x2 que é ponto de honra de Nélson Veríssimo, mas o técnico alterou dois detalhes: trocou Seferovic (lesionado) por Yaremchuk e decidiu que o ala-esquerdo seria João Mário, em vez de Paulo Bernardo, alterando a má experiência frente ao Moreirense.

Resultados? Nenhuns. A presença do ucraniano poderia oferecer um jogador mais forte em apoios frontais do que Seferovic e, com isso, permitir ao Benfica ligar melhor o jogo com três médios de perfil associativo.

Na teoria faria sentido, mas, na prática, foi algo pouco experimentado. Quanto ao ala-esquerdo nada mudou. João Mário tem um perfil parecido com Paulo Bernardo, sendo também um jogador que, naquela posição, se torna algo previsível, sempre com movimentos circulares para dentro, sem um contra um.

Neste cenário, o Benfica teve um jogo quase sempre lento e previsível, frente a uma equipa com bloco muito baixo. A única verdadeira oportunidade de golo foi para Darwin, aos 9’, num lance em que Yaremchuk foi solicitado entre linhas, em apoio, soltando depois para Rafa antes de este solicitar Darwin.

Também houve dois lances em que o ucraniano, primeiro, e Paulo Bernardo, depois, trabalharam em apoio frontal e ajudaram a criar jogadas. Não houve finalização a preceito, mas eram indicadores de que, das poucas vezes que trabalhavam entre linhas, os benfiquistas inventavam soluções. Fizeram-no apenas um trio de vezes.

Emoção houve apenas aos 31’ e aos 41’. No primeiro momento, Darwin foi derrubado na área por Basso e marcou de penálti. No segundo, Arsénio sofreu falta de Vlachodimos na área, mas Basso, que lamentará ter-se levantado da cama nesta sexta-feira, falhou o pontapé dos 11 metros.

Chegou o 4x3x3

Para a segunda parte houve logo um motivo de interesse: Veríssimo abdicou pela primeira vez do 4x4x2 e criou um 4x3x3 com Everton lançado para o lugar de Yaremchuk e Darwin na posição de ponta-de-lança.

Possivelmente a contar com maior audácia do Arouca, preferiu ter um jogador mais explosivo no corredor, sem abdicar também da profundidade dada por Darwin. Abdicou, por outro lado, do futebol mais combinativo “pedido” por Yaremchuk, que, segundo o GoalPoint, tinha tocado oito vezes na bola na primeira parte, sempre fora da área.

A opção tiraria sempre alguma presença na área do Arouca em ataque posicional, mas juntaria pela primeira vez um trio de médios de perfil associativo, além de permitir aos alas jogarem mais por dentro. E a ideia teve efeito em pouco tempo, já que Everton, aos 54’, e Rafa, aos 55’, remataram em boa posição.

Esta mudança táctica trouxe também uma alteração na ideia de jogo, com o Benfica a dar a iniciativa ao Arouca durante alguns períodos, baixando claramente as linhas – nada sequer parecido com o cerco à área do Arouca feito na primeira parte.

A vantagem no marcador, e consequente menor responsabilidade ofensiva, impede que a análise aos 4x3x3 tenha uma base sólida, mas a equipa pareceu mais confortável. João Mário e Paulo Bernardo estavam numa posição que lhes diz mais, Rafa podia jogar mais por dentro e até Darwin beneficiava de não ter de ser um segundo avançado, tarefa para a qual lhe faltam predicados técnicos.

Tudo parecia fluir melhor em posse e a equipa, mesmo sem criar perigo, estava confortável ora a trocar a bola, ora a deixar o Arouca tentar a sua sorte – quase sempre de forma tímida, exceptuando um remate de Bukia aos 72’.

Nos últimos dez minutos, o Benfica deixou pura e simplesmente de querer ter bola, recuando as linhas para um bloco baixo. Aos 80’, o Arouca viu Antony rematar para defesa de Vlachodimos, mas pouco mais fez. E ainda permitiu que Gonçalo Ramos, aos 90+2’, finalizasse um livre de Grimaldo.

Em suma: a mudança táctica de Veríssimo deu quase sempre conforto e segurança, mas raramente deu perigo ofensivo em doses apreciáveis. Resta saber, portanto, que tipo de futebol quer o técnico daqui para a frente.

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