A Beleza da Escrita

A escrita manual, especificamente a escrita cursiva, acciona o nosso sistema cognitivo permitindo que as aprendizagens aconteçam de forma mais orgânica.

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"Treinar a caligrafia é treinar uma forma de destreza motora para o desenho do grafema, mas também uma forma de literacia visual" eleni koureas/unsplash

No Dia Mundial da Escrita à Mão proponho uma breve reflexão sobre as vantagens deste tipo de escrita para crianças e jovens. Como é sabido, o termo caligrafia tem origem na palavra grega Καλλιγραφια, constituída por: Kalli (que significa beleza) e Grafia (que significa escrita). Assim, caligrafia terá como significação a beleza da escrita.

Essa beleza, porém, tal como sucede com o avanço da idade em todos nós, tem vindo a perder predicados.

Diferentes estudos realizados concluem pela importância da escrita à mão, visto tratar-se de um exercício psicomotor com as vantagens adicionais de activar partes do cérebro e de gerar ideias, que fluem com mais facilidade e rapidez, permitindo-nos expressar os sentimentos e emoções mais livremente.

Num estudo recente (2020), levado a cabo por investigadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, “escrever com as mãos ajuda as crianças a aprenderem mais e memorizarem melhor”. Os resultados desta investigação mostram que “o cérebro tanto nas crianças quanto nos jovens adultos fica muito mais activo quando escrevem à mão”.

A escrita manual, especificamente a escrita cursiva, acciona o nosso sistema cognitivo permitindo que as aprendizagens aconteçam de forma mais orgânica.

Treinar a caligrafia é treinar uma forma de destreza motora para o desenho do grafema, mas também uma forma de literacia visual. Por tais razões deve promover-se nas crianças a capacidade de conhecer bem a forma das letras para as escrever, com rigor e proporcionalidade, dentro de um texto, para além de permitir uma melhor compreensão e apreensão de novos conceitos.

Estudos demonstram, por outro lado, que as crianças que praticam a escrita manual não só desenvolvem melhor a leitura como a ortografia, uma vez que os movimentos necessários à escrita manual ajudam a formar representações ortográficas na memória.

O uso de papel e lápis proporciona às crianças informação acrescida, que lhes permite consolidar essas mesmas memórias.

As crianças aprendem mais e lembram-se melhor do que estudam quando escrevem à mão. Está mais que provado, cientificamente, que o estudo, a memorização e expressão ocorrem de forma mais orgânica quando escrevemos à mão. Os movimentos necessários à escrita manual ajudam a formar representações ortográficas na memória.

É verdade que, com o advento das novas tecnologias de comunicação, foi-se perdendo o hábito da “escrita à mão”, assim como o da leitura em suporte papel. Sucede mesmo, em alguns países, que as crianças já aprendem a escrever usando o computador, tornando a letra e a sua escrita cursiva como algo quase desconhecido.

Na Noruega, um estudo recente (conduzido em 2020) aponta para a necessidade de se adoptarem medidas nacionais, de modo a garantir que as crianças recebam um mínimo de treino de escrita cursiva, porquanto os resultados obtidos garantem que as aprendizagens e memorizações são mais significativas pela escrita à mão do que utilizando o teclado.

Perante este problema, neuroinvestigadores e psicopedagogos concluíram que escrever à mão proporciona imensas vantagens face à escrita no teclado.

Qualquer de nós, indivíduo adulto, que utilize a escrita num teclado, quer no telefone, no tablet ou no computador (dispositivos cada vez mais sofisticados e dispondo de teclados confortáveis para uma digitação mais fluida), estranha e sente já algum desconforto (parece ter “desaprendido”) ao ensaiar a escrita cursiva.

É interessante verificar que, no auge dos ecrãs e dos teclados, tem aumentado o número de workshops destinados a pessoas interessadas em treinar a caligrafia e o lettering em busca do reencontro com a arte de comunicar através do suporte papel. Diferentes estudiosos observam que os movimentos sequenciais da mão utilizados na escrita activam regiões do cérebro responsáveis pelo pensamento, linguagem e memória e deve ser praticado ao longo da vida.

Isto não significa, contudo, que a aprendizagem através de suporte digital não tenha aspectos positivos. A questão é que a escrita cursiva não deve ser abandonada.

Quando a criança escreve num teclado, exerce-se o mesmo tipo de movimento e a mesma pressão para qualquer letra. A escrita à mão requer uma coordenação óculo-manual e exercita todas as capacidades envolvidas na motricidade fina. A pressão gráfica exercida sobre o lápis e o papel faz com que se ganhe maior destreza e maior velocidade de movimentos na escrita.

Vivemos cercados de letras e não conseguimos deixar de as ler, sempre que as olhamos, mesmo que distraidamente. Então, porque não as continuamos a desenhar, manualmente?

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