Rui Rio em estágio para António Costa

Para o totoloto eleitoral ninguém ganhou. Jogaram para públicos e destinatários diferentes.

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Rio esteve esta quarta-feira à noite frente-a-frente com o comunista João Oliveira, em substituição de Jerónimo de Sousa LUSA/PEDRO PINA/RTP

É ironia da história. Para Rui Rio, que enquanto presidente da câmara da Invicta sempre se demarcou do emblema da sua cidade, o Futebol Clube do Porto. Quem lhe diria que o debate eleitoral nesta quarta-feira na SIC, com o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, em substituição rotativa do secretário-geral dos comunistas, Jerónimo de Sousa, seria uma espécie de estágio para o frente-a-frente desta quinta-feira com o primeiro-ministro socialista António Costa.

Sejamos sinceros. Entre o PSD e o PCP, há uma abissal diferença, como entre o azeite e a água. Da mescla nada resulta. Das figuras que lideram ambos os partidos, depois do internamento de Jerónimo, para quem joga no tabuleiro do carisma, seja isso o que for, não havia debate. São mundos irreconciliáveis.

Quem esperava que a substituição do líder comunista pelo seu dirigente da bancada parlamentar, João Oliveira, desse no debate pistas para a futura direcção comunista, caiu no enredo do voyeirismo político. Um puro engano, para o qual alertara o politólogo António Costa Pinto no PÚBLICO: “No PCP, o comité central tem o papel decisivo e a decisão não remete apenas para os indicadores de notoriedade externa ao partido como Jerónimo foi a prova em 2004.”

Este outro mundo, ou realidade diversa, foi confirmado. João Oliveira não saiu do guião da Soeiro Pereira Gomes. Não tem mandato ou vontade.

“O PSD não pode ser alternativa ao PS para resolver o que os socialistas não resolveram, o aumento da média geral dos salários foi recusado pelo PS e pelo PSD”, disse João Oliveira. “Descer o IRC é beneficiar as grandes empresas, há propostas do PSD que não são para levar a sério”, continuou. De uma penada, o dirigente comunista juntou PS e PSD na mesma balança, o que não é novidade mas continuidade crítica, apesar de uma legislatura de “geringonça” sob a égide de António Costa.

“Não sei se este debate é, para mim o mais fácil ou o mais difícil, defendemos coisas diferentes, há um mar que nos separa”, começou Rui Rio. Assim sendo, o resto era peanuts. Mas concretizou. “Nós temos um espírito reformista, o PCP não tem, quer sair do euro, da União Europeia, a dissolução da NATO, privatizar os sectores estratégicos, restringir o capital estrangeiro, defende o orgulhosamente sós”, acentuou Rio. E facilitou: “Estou em total desacordo com o que o PCP pediu no Orçamento do Estado, era expectável que o pedisse, esta responsabilidade é total do Governo”.

O chumbo, a crise política e as legislativas antecipadas têm outra narrativa de João Oliveira. Nada de novo. “O Governo queria a maioria absoluta [ao recusar as reivindicações comunistas orçamentais] e conhecemos ao que levam as maiorias absolutas”, comentou João Oliveira.

Para o totoloto eleitoral ninguém ganhou. Jogaram para públicos e destinatários diferentes.

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