Cruzada em família

“Sendo o mais novo dos líderes, é o mais velho”, atirou o líder da IL ao presidente do CDS.

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Rodrigues dos Santos e Cotrim de Figueiredo disputam eleitorado Dr (Cortesia RTP)

Tinha tudo para ser uma espécie de happy hour, mas o debate no fim de tarde desta quarta-feira entre Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS/PP, e o líder da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim de Figueiredo, foi tudo menos um encontro amigável à direita entre um partido instalado e um que se instala. Foi uma cruzada numa família desavinda.

“São em tudo iguais à esquerda, menos na economia”, acusou Rodrigues dos Santos. Citou a eutanásia, o aborto, a legalização da prostituição e das drogas leves, numa rajada argumentativa. “O liberalismo faz falta para acabar com este discurso a preto e branco”, contestou Cotrim de Figueiredo. “São atoardas iguais às do Bloco de Esquerda, olha para a sociedade de forma maniqueísta”, acusou.

“Somos a direita social porque sabemos que há pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades”, explicou o dirigente do CDS/PP. No entanto, remeteu o aumento do salário mínimo nacional para 900 euros proposto no compromisso eleitoral do PS para a concertação social, respeitando a evolução da economia. Para a IL esse aumento não é razoável neste momento, tem de ser visto com o aumento da competitividade. “Aumentar o salário mínimo por decreto sem mudar o modelo económico é aproximá-lo do médio”, ponderou o seu líder.

Os liberais querem a privatização da TAP, da RTP e da Caixa Geral de Depósitos. O CDS/PP é favorável à privatização da linha aérea – mas votara contra –, considera que a RTP faz serviço público e que é importante haver um banco público. “Não somos capitalistas selvagens”, acusou Francisco Rodrigues dos Santos. Depois falou da defesa do mundo rural, do apoio do terceiro sector e lançou a suspeita: “Um voto no CDS não viabiliza o bloco central”, prometeu.

Ambos consideraram que com o Chega não há possibilidade de compromisso, num aviso ao PSD de Rui Rio caso seja o mais votado a 30 de Janeiro. “Ninguém pergunta ao PS se o PSD tiver mais votos e precisar da abstenção socialista o que faz”, protestou João Cotrim de Figueiredo.

Com dois actores em palco em busca do mesmo público ainda soou a definição da Iniciativa Liberal de Rodrigues de Santos na sua rábula da ceia de Natal da família da direita: “A prima modernaça, ateia, que é uma profissional liberal de sucesso, com ideias iguais às do Bloco de Esquerda, excepto na economia.” Cotrim de Figueiredo começou por evitar a provocação perante o olhar desafiante de Rodrigues dos Santos. Foi-se contendo mas, a terminar, fez um vaticínio cruel. “Na ceia de Natal, o CDS acaba sozinho, sendo o mais novo dos líderes é o mais velho de todos”, disse. Antes já largara: “Cancelou todo o grupo parlamentar.”

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