Portugal está mais sustentável? “É preciso uma estratégia”, diz a Zero

A Zero analisou dois documentos recentes que avaliam a sustentabilidade do país em vários campos. Portugal melhora num deles, mas piora no outro, e os maiores desafios de sustentabilidade que o país enfrenta estão dentro da área ambiental.

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A (protecção da) vida aquática e na terra são alguns campos em que Portugal enfrenta dos maiores desafios, diz relatório Nelson Garrido

Dois relatórios revelados recentemente, que avaliam os países em termos de sustentabilidade, têm boas e más notícias para Portugal. Naquele que olha apenas para o espaço europeu, o país está melhor, mas o que abrange a realidade mundial põe-no a descer algumas posições. A Zero avaliou os documentos e não tem dúvidas: “É preciso uma estratégia” para o futuro. As prioridades, para a associação, depois de analisar os dados, estão definidas. “Devem ser a promoção de um consumo responsável e com menor desperdício, a qualidade de vida e bem-estar nas cidades, e ainda as áreas do clima, preservação e recuperação dos ecossistemas”, lê-se no comunicado a que o PÚBLICO teve acesso.

A conclusão surge depois da análise dos relatórios da Sustainable Development Solutions Network e do Institute for European Environmental Policy, relativo aos países europeus, e do cálculo e seriação a nível mundial do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS), que mede a eficiência ecológica do desenvolvimento humano, reconhecendo que ele deve ser alcançado dentro dos limites do planeta. Portugal sai-se melhor na primeira análise, referente a 2021.

Aí, refere a Zero, Portugal fica em 20.º lugar, num conjunto de 34 países analisados, numa lista que é liderada pela Finlândia (1.º), a Suécia (2.º) e a Dinamarca (3.º). Não é uma posição de que nos possamos vangloriar, mas representa, ainda assim, uma subida de dois lugares, em relação à avaliação de 2020.

O relatório analisa o estado e a progressão de cada país em cada um dos 17 objectivos para o desenvolvimento sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas em 2015, na sua Agenda para 2030, e, olhando para cada um deles, também há boas e más notícias.

A boa notícia é que não há uma tendência de diminuição de qualidade em qualquer um dos indicadores, e em vários deles, Portugal está no bom caminho para atingir os objectivos definidos pela ONU. É isso que acontece com os campos da pobreza zero, da igualdade de género, do acesso a água limpa e ao saneamento, na indústria, inovação e infra-estruturas e na redução das igualdades.

Mas, apesar deste bom sinal, a verdade é que o país não atingiu ainda qualquer um dos 17 objectivos definidos, e mesmo nestes campos com tendência positiva, há ainda desafios a serem ultrapassados, conclui-se no relatório.

Bom acesso à saúde

Para os restantes objectivos, há alguns com melhorias ligeiras (como bom acesso à saúde ou educação de qualidade, entre outros) e outros em que o país, segundo os critérios da avaliação, estagnou. E neste campo há três objectivos em que o relatório considera existirem ainda “enormes desafios” a serem ultrapassados. São eles a acção climática, a vida marinha e a vida terrestre.

Também estagnado, mas com desafios um pouco menores, para os autores do relatório, está o objectivo da produção e consumo responsável. E é aqui, exactamente, que o país acaba por ser mais penalizado no IDS, o outro documento analisado pela Zero.

Portugal aparece nessa lista na 71.ª posição, após a análise de 166 países. Os dados são referentes a 2019 e demonstram uma descida de três posições em relação ao documento do ano anterior, em que o país aparecia no 68.º lugar. “Portugal é particularmente penalizado pela sua posição no que respeita à pegada material por pessoa, representando os recursos naturais utilizados, bem como pelas emissões de dióxido de carbono que contribuem para as alterações climáticas”, considera a Zero.

Com estes pontos de partida, a associação ambientalista acredita que Portugal pode ultrapassar com relativa facilidade os pontos mais negativos apontados pelas duas avaliações, já que, refere, “tem um conjunto de ferramentas legislativas e políticas em vigor, ou em preparação, para enfrentar a maioria dos desafios”. A questão é que o país ainda “não tem uma estratégia clara” sobre como planeia atingir os objectivos para o desenvolvimento sustentável, diz. E sem uma estratégia, conclui a Zero, “Portugal continua a não ter uma abordagem integrada e abrangente” nessa matéria.

O conselho deixado pela associação é que o Governo desenhe essa estratégia, e até deixa uma achega: “Não precisa de ser um documento extenso e complexo, mas sim uma coordenação de objectivos e metas.”

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