O que esperar de 2022

No caso de Portugal, importa que a evolução da pandemia não prejudique a meta do crescimento económico de 5,8%, alicerçada no forte crescimento das exportações, que irá permitir a continuação da criação líquida de emprego.

Num recente inquérito levado a cabo pelo Fórum Económico Mundial em mais de 30 países, cerca de 77% dos inquiridos dizem esperar que 2022 seja, em termos gerais, melhor do que 2021. Existem motivos para este otimismo?

Em termos de evolução da pandemia, talvez existam razões para otimismo. Com a toma da terceira dose da vacina, talvez com a quarta, com o surgimento das vacinas de segunda geração que se pensa serem mais eficazes contra o SARS-CoV-2, bem como com a comercialização generalizada dos comprimidos contra a doença, é bem provável que lá para o verão consigamos viver sem grandes receios do vírus.

Em termos ambientais e devido ao pouco sucesso da COP-26, é natural que não surjam grandes decisões ou iniciativas que permitam avanços na redução das emissões de CO2 ou de outros gases poluentes, como o metano. A transição energética que os países mais poluidores deveriam fazer vai continuar adiada. No aspeto ambiental o otimismo não será nenhum.

Em termos sociais também não são esperadas grandes mudanças, sendo que a maior parte dos inquiridos não pensa que a tolerância no mundo vá diminuir. Vão continuar a existir focos de intolerância um pouco por todo o mundo.

Preocupações com a inflação também se mostram notórias, sendo que se poderá tornar um sério problema com o consequente aumento dos juros e do risco de crédito das dívidas soberanas, principalmente em relação aos países com maior dívida relativa. O custo da energia, das matérias primas e dos transportes, a que se assiste do lado da oferta, devido a diversos constrangimentos, deverá continuar a pressionar os preços. A forte recuperação da procura agregada não foi acompanhada por uma igual recuperação do lado da oferta, o que está a provocar inflação e crescimentos económicos reais abaixo do esperado. Como consequência dos confinamentos, este desajuste nos mercados ainda vai levar alguns meses a resolver. Por outro lado, a inflação destrói mais rapidamente o poder de compra das classes mais pobres, o que torna mais grave o problema.

Mas existem outras preocupações que devemos ter em 2022. Apesar de a pandemia ainda não ter terminado, as economias parecem estar cada vez mais resilientes. No caso de Portugal, uma preocupação é que a evolução no início de 2022 da pandemia não prejudique a meta do crescimento económico de 5,8%, essencialmente alicerçada no forte crescimento das exportações de bens e serviços que irá permitir a continuação da criação líquida de emprego. Uma boa notícia é que a confiança dos consumidores da zona euro continua em alta, sendo este o nosso mercado exportador mais significativo.

Em termos internacionais deveremos esperar que a China continue a controlar internamente os efeitos da sua crise imobiliária, fruto do seu controlo de capitais e da banca, evitando assim mais uma crise financeira mundial. Apesar dessa crise interna impactar num crescimento económico chinês mais modesto, espera-se que não trespassse para fora de portas.

Mesmo pensando que 2022 deva ser melhor que 2021, existem ainda algumas nuvens no horizonte, mas todos esperamos que não sejam suficientes para ensombrar a recuperação e a normalidade que todos ansiamos.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Comentar