Casa da Música afasta um dos rostos da luta contra as práticas laborais da instituição

Há “ordens superiores”, acusa o sindicato Cena-STE, para que não seja distribuído trabalho a Hugo Veludo. “Trata-se de um acto de gestão interna em absoluto respeito pela lei”, responde a Casa da Música.

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Nelson Garrido

Assistente de sala da Casa da Música desde 2017, Hugo Veludo foi “um dos rostos mais visíveis das lutas laborais na instituição” e estará a agora a ser “vítima de represálias”, diz um comunicado do sindicato Cena-STE, denunciando a existência de “ordens superiores para excluir este trabalhador de todos os eventos”. A administração da Casa da Música não nega a intenção de prescindir do trabalho de Hugo Veludo, mas observa, numa breve declaração ao PÚBLICO, que se trata “de um acto de gestão interna em absoluto respeito pela lei”.

Veludo é “um dos assistentes de sala mais regulares” da Casa da Música e “uma cara bem conhecida do público que a frequenta”, tendo sido “responsável pela formação de vários colegas”, diz o sindicato, lamentando que, “sem qualquer explicação”, este tenha sido agora “excluído dos processos de planificação de qualquer trabalho futuro”.

O assistente de sala fora já um dos colaboradores provisoriamente dispensados em Junho de 2020, após ter participado numa vigília de protesto no dia em que a Casa da Música reabria após o primeiro confinamento. Medida que levou na altura a ministra da Cultura a considerar que quaisquer retaliações contra os trabalhadores eram “inadmissíveis”.

Na sequência de uma inspecção da Autoridade para as Condições de Trabalho que identificou várias situações de falsos recibos verdes, o Ministério Público intentou então contra a Casa da Música várias acções de reconhecimento de existência de contrato de trabalho, que o tribunal tem vindo a decidir a favor da instituição, como sucedeu já também no caso de Hugo Veludo. No entanto, vários colegas seus que também processaram a instituição têm vindo a ser chamados para trabalhar, o que leva o Cena-STE, vendo neste afastamento uma reacção à recente greve promovida pelos trabalhadores sindicalizados da Casa da Música, a sugerir que o assistente de sala estará a ser castigado pela particular visibilidade que foi assumindo nas manifestações de protesto contra as práticas laborais da casa.

Em declarações ao PÚBLICO, Hugo Veludo admite que o facto de ter participado na greve do passado dia 26 de Novembro pode ter contribuído para o seu afastamento, mas lembra que outros assistentes de sala também aderiram e continuaram a ser chamados para trabalhar. “Acho que foi sobretudo por causa da visibilidade que tive nas lutas laborais, por ter sido um bocadinho a cara dos trabalhadores da Casa da Música, e em particular dos assistentes de sala”, diz Veludo, para quem a situação piorou também, segundo afirma, desde que, já com a actual administração, deixou de depender da direcção de produção e passou para a alçada do departamento de marketing.

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