Rebeldes tigré querem pôr fim à guerra na Etiópia e escrevem a Guterres

Líder da Frente de Libertação do Povo Tigré mandou retirar tropas de posições fora de Tigré e, numa carta enviada ao secretário-geral da ONU, diz acreditar que esse “gesto ousado” possa ser “uma abertura decisiva para a paz”.

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Pessoas passam por restos de veículos incendiados em Yechila, no centro-sul de Tigré Reuters/GIULIA PARAVICINI

Os rebeldes de Tigré anunciaram uma retirada estratégica das suas tropas e pediram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para supervisionar o fim da guerra civil. Debretsion Gebremichael, o líder rebelde, estaria a reagir aos grandes avanços feitos pelas forças governamentais nas últimas semanas, que recuperaram o controlo de várias localidades importantes nas regiões Norte, de Ahmara e Afar, vizinhas de Tigré.

“Ordenei a essas unidades do exército tigré que estão fora das fronteiras de Tigré para retirarem para Tigré com efeito imediato”, disse Gebremichael, citado pela Bloomberg. As palavras do líder da Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT) constam numa carta enviada a 19 de Dezembro ao secretário-geral da ONU, António Guterres.

“Acreditamos que o nosso gesto ousado será uma abertura decisiva para a paz”, acrescentou.

Segundo a Associated Press, citando a mesma carta, os rebeldes propõem o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre Tigré para evitar os bombardeamentos da aviação militar do Governo (que continuaram a atacar zonas rebeldes mesmo com a retirada anunciada pela FLPT). Além disso, os rebeldes gostariam de ver imposta uma proibição de venda de armas à Eritreia, cujos soldados têm entrado no conflito ao lado das forças governamentais etíopes.

O primeiro-ministro, Abiy Ahmed, não tem mostrado até agora qualquer abertura para negociar com os rebeldes, classificando a FLPT como organização terrorista. Mas a pressão internacional para que o Governo abra uma via de diálogo deverá aumentar depois do gesto de Debretsion Gebremichael.

“É uma coisa que tínhamos pedido”, disse o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, na segunda-feira. “Esperamos que abra a porta para uma mais ampla democracia.”

Getachew Red, porta-voz da região de Tigré, confirmou na segunda-feira a retirada completa das tropas rebeldes. “Ao fazê-lo, acreditamos ter removido qualquer desculpa que a comunidade internacional (poderia vir a usar) para explicar a lentidão no que toca a colocar pressão sobre Abiy Ahmed”, escreveu no Twitter, citado pela AP.

Até agora, o Governo ainda não respondeu à proposta dos rebeldes para pôr fim ao conflito de 13 meses que já provocou milhares de mortos e causou uma crise humanitária, com 400 mil pessoas a passar fome e 9,4 milhões a precisar urgentemente de ajuda humanitária.

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