Parte da população de Bragança só tem rede móvel espanhola

Há duas aldeias onde, com o telemóvel, nem o 112 é possível chamar.

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Parque Natural de Montesinho Rui Oliveira

Parte da população do concelho de Bragança só tem acesso à rede móvel espanhola e há duas aldeias onde, com o telemóvel, nem o 112 é possível chamar, segundo um estudo divulgado esta sexta-feira pela entidade reguladora portuguesa.

A Anacom, Entidade Nacional de Comunicações, testou a qualidade das redes móveis do concelho, entre os dias 08 e 17 de Novembro, e apresentou hoje, em Bragança, os resultados, concluindo que alguns locais, nomeadamente o centro da cidade, “estão muito bem em termos de comunicações móveis”.

Já no meio rural, a situação é diferente, nomeadamente junto à fronteira, onde “em muitas zonas” as populações só conseguem ter acesso a chamadas e Internet móveis através da rede espanhola, permitido pelo chamado roaming internacional, que actualmente não acarreta custos acrescidos para o consumidor.

O estudo da Anacom detectou, contudo, duas aldeias, Guadramil e Petisqueira, onde “não existe disponibilidade de cobertura de rede móvel, nem de operadores nacionais portugueses, nem através de roaming” internacional. Nestas localidades, não é possível sequer chamar o 112 porque não há qualquer sinal e noutras, mesmo com sinal de rede, não é possível estabelecer ligação ou esta vai abaixo devido à fraca qualidade.

Este é o oitavo estudo, quatro dos quais em concelhos do distrito de Bragança, que a Anacom faz a pedido dos municípios, e em todos as realidades são parecidas, nomeadamente nas zonas junto à fronteira com Espanha, segundo o presidente da Anacom, João Cadete de Matos.

O município de Bragança tem vindo a alertar o Governo para estas situações, mas, segundo o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, o problema está ao nível das operadoras que nem com benefícios se disponibilizam a encontrar soluções por não verem lucro entre poucos habitantes.

O autarca explicou que a câmara, em parceria com as juntas de freguesia, tem tentado negociar directamente com as operadoras, disponibilizando-se a isentar “até do pagamento das taxas de instalação das antenas para conseguirem servir as áreas rurais”.

“Mesmo assim, não têm resolvido os problemas. É muito difícil que as operadoras venham fazer esse trabalho nos meios rurais porque provavelmente não lhes compensa sob o ponto de vista financeiro o investimento que têm de fazer, logo, não fazem esse trabalho e daí o prejuízo que temos hoje nas nossas comunidades rurais”, afirmou.

Mas não é apenas no meio rural que há dificuldades, também na zona industrial de Moz há empresas que trabalham que precisam de rede móvel e, segundo o autarca, uma em concreto equacionou sair do local por dificuldades com o serviço.

A Câmara de Bragança disponibilizou a uma operadora um espaço para a instalação de uma antena e o problema resolveu-se.

Para o presidente da Anacom, muitos destes problemas resolviam-se com o roaming nacional, a partilha de antenas entre operadoras, que espera que venha a acontecer num futuro breve.

João Cadete de Matos lembrou que o leilão da rede 5G impôs às operadoras que têm que garantir cobertura de rede móvel a 75% da população de cada freguesia, em todo o país, em dois anos, e a 90% da população, em quatro anos.

Acredita também que a entrada de novas operadoras vai “ajudar muito”, porque as novas operadoras vão ter acordos de roaming nacional, estar vocacionadas para captar novos clientes e “cria-se uma dinâmica de concorrência”, que passa de três para seis operadores.

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