Treze anos depois, O.J. Simpson tem redução de pena e é um homem livre

A antiga estrela de futebol americano, cujo nome está indelevelmente associado ao duplo homicídio de Nicole Brown e Ronald Goldman (crime pelo qual foi absolvido), estava em liberdade condicional desde 2017. Tinha sido condenado a 15 anos por assalto à mão armada.

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Simpson foi julgado (e condenado), em 2008, por 12 crimes Reuters/POOL

O ex-atleta O.J. Simpson conseguiu o fim antecipado da liberdade condicional a que estava sujeito por uma condenação por 12 crimes, entre os quais assalto à mão armada e sequestro, em Las Vegas, Nevada, informou na terça-feira a polícia, citada pela Reuters.

Simpson foi julgado (e condenado), em 2008, por ter forçado a entrada num quarto de um hotel-casino de Las Vegas, a 13 de Setembro de 2007, e por, juntamente com cinco outros homens, roubado algumas recordações de feitos desportivos passados que estavam a ser leiloadas. Entre os crimes de que foi acusado constava ainda o sequestro dos revendedores dos ambicionados objectos à força de armas.​ O ex-futebolista cumpriu nove anos numa prisão do Nevada, tendo obtido a liberdade condicional a 1 de Outubro 2017. Desde então, conta a Reuters, vive num condomínio fechado em Las Vegas, onde joga golfe.

“O sr. Simpson estava em liberdade condicional desde 1 de Outubro de 2017, e o seu período de liberdade condicional expiraria a 9 de Fevereiro de 2022”, informou a porta-voz da Polícia do Estado do Nevada, Kim Yoko Smith, numa declaração, acrescentando que “a decisão de conceder a libertação antecipada da condicional foi ratificada a 6 de Dezembro de 2021”.

O nome de O.J. Simpson transporta-nos para um dos crimes mais violentos e um dos julgamentos mais mediáticos da última década do século XX. O ex-futebolista foi acusado do homicídio da sua ex-mulher Nicole Brown e de Ronald Goldman. De acordo com o relatório da autópsia, Nicole foi esfaqueada sete vezes no pescoço e na cabeça; Ronald, depois de ter sido atingido na cabeça, foi esfaqueado no pescoço, cabeça, coração e pulmões.

Simpson fugiu do local, mas cinco dias depois, ao ser acusado de duplo homicídio, escreveu uma carta a manifestar o desejo de se suicidar e partiu no seu Ford Bronco branco. Viria a ser perseguido pela polícia durante 96 quilómetros, tendo posteriormente ficado horas trancado no carro antes de se entregar às autoridades. O episódio, transmitido em directo nas cadeias nacionais de televisão, foi de tal forma marcante que, no ano passado, 26 anos após o incidente, a Ford americana alterou a data de lançamento de uma nova geração do Bronco quando se apercebeu que coincidia com a data de aniversário do ex-futebolista.

De inocente a hipotético assassino

No julgamento, que durou 372 dias e viria a ser tema para uma temporada da série American Crime Story, O.J. Simpson foi defendido por uma “dream team” (“equipa de sonho”), como descreviam os media, composta por Robert Shapiro, Johnnie Cochran, Carl Douglas, Shawn Chapman, Gerald Uelmen, Robert Kardashian (o pai das estrelas de reality shows), Alan Dershowitz, F. Lee Bailey, Barry Scheck, Peter Neufeld, Robert Blasier e William Thompson.

O júri, composto maioritariamente por mulheres e negros, decidiu a sua absolvição a 3 de Outubro de 1995. Mais de uma década depois, O.J. Simpson assinou o livro If I Did it (Se Eu o Tivesse Feito), onde apresentava, no condicional, uma teoria sobre como ele próprio poderia ter assassinado a mulher e o seu inimigo. O editor do livro desistiu do lançamento da obra, mas vários exemplares já tinham sido impressos e acabaram por chegar ao público.

No entanto, um tribunal da Florida acabaria por dar os direitos do livro à família de Ronald Goldman: o título foi mudado para If I Did It: Confessions of the Killer (Se Eu o Tivesse Feito: Confissões do Assassino) e foram acrescentados comentários da família Goldman, do argumentista Pablo Fenjves e do jornalista Dominick Dunne.

Há ainda uma entrevista, gravada em 2006 e transmitida há três anos, em que O.J. confessa ter sido “hipoteticamente” responsável pelas duas mortes. No especial de duas horas, o antigo atleta conta o que terá acontecido a 12 de Junho de 1994, colocando-se no papel do homicida, mas ressalvando sempre que se trata de um cenário hipotético.

Descreveu O.J. Simpson:​ “Quando as coisas ficaram mais tensas, lembro-me que a Nicole caiu e magoou-se e este outro tipo começou a fazer uma posição qualquer de karaté. Perguntei-lhe: Achas mesmo que me consegues bater? Depois peguei na faca — lembro-me que a tirei ao Charlie (um amigo que diz que estava consigo) — e depois, para ser honesto não me lembro do que aconteceu, excepto que estava ali em pé e estava rodeado de todo o tipo de ‘cenas’ à minha volta.”

“Que tipo de ‘cenas’?”, pergunta a entrevistadora. “Sangue e outras cenas. Nunca tinha visto tanto sangue na vida.” A seguir, ri-se e lembra: “Hipoteticamente.” E termina: “Odeio dizer isto, mas tudo isto é hipotético. Porém, não acredito que duas pessoas pudessem ter sido assassinadas da maneira que foram sem terem ficado cobertas em sangue.”

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